O terraço
Já passava das quatro da tarde e eu e Nanda ainda estávamos no nosso lugar preferido; o terraço da minha casa. Ali era alto e ninguém podia ouvir nossas brincadeiras nossas piadas (a maioria só engraçada pra nos) ali éramos nós mesmos com relação a tudo.
Umas das nossas brincadeiras era observar os garotos lá em baixo e dizer se eram bonitos ou feios. A rua estava movimentada e tinha muito o que avaliar. Apontei o dedo para um garoto de mochila com uniforme escolar e disse
- bonito
Nanda me olha incrédula
- O que foi, eu achei ele bonito! - respondo, o garoto não era feio mesmo, cabelo preto e curto, corte estilo militar, o rosto lhe dava uns 19 anos.
Ela dá um sorriso, um sorriso de canto de boca. Eu amo isso nela.
- você não serve pra isso Pedro
Agora e minha vez de rir
- a valeu você é a senhora juíza da beleza hahaha
- nada haver e só que fala sério ele é estranho eu conheço a família dele eu frequento a igreja dele e pode apostar ele é estranho.
- É mais é um estranho bonitinho.
Ela aponta no lado oposto da estrada
- Olha ali aquele garoto e bonito - no início eu não identifiquei mas depois pude focalizar no alvo dos olhares de Nanda era um garoto alto corpo mais pro magro do que definido, o cabelo lhe caia até os ombros e eram de uma cor clara. Usava roupas pretas e nas costas levava uma daquelas case de violão - o nome dele e Marlon ele toca na igreja onde eu vou.
Hmm - faço cara de pouco caso e comento - nada demais...
Ela me olha e não responde nada, Nanda sabe do meu gosto pra garoto eu prefiro os que são do meu tamanho não tão magros não tão cheinhos. Ela gosta dos roqueiros roupas pesadas de cor escura. Nunca discutimos por isso.
- Pedro quando você percebeu que não gostava de garotas? - a pergunta me pega de surpresa - desculpa se me intrometi...
Demoro pra responder devido a meu espanto - é acho que... foi na quinta série... todos os meninos mandavam cartas pras meninas ou alguns recebiam cartas e eu não achava graça nelas, eu gostava de um garoto o marcos... você lembra dele não?
Ela sorri e confirma com a cabeça - claro que lembro ele quebrou o nariz na minha frente enquanto brincávamos no parquinho
- nossa verdade ainda escuto o nariz dele quebrando "tracql".... então foi ele o primeiro garoto que eu gostei mas é óbvio eu só achava ele legal de um jeito mais íntimo, um amor inocente como de qualquer criança como o que as garotas sentiam pelos garotos e vice versa.
Paro de falar e fico olhando pra ela
-hmm desculpa mesmo a pergunta Pedro...
Chego mais perto dela e lhe dou um abraço - sem problemas Nanda você sabe tudo sobre mim e foi até bom você perguntar por que eu nunca parei pra pensar nisso
- sério?
- sim...
A rua começava ser tingida por um tom de fim de tarde e mais e mais pessoas passavam (incluindo garotos)
Nanda começa a comentar sobre a semana de prova que está chegando mas não escuto muita coisa por que no começo da rua aparece o garoto mais bonito que eu já vi, ele não é só bonito a postura e o jeito de andar são tão... seguros ele está de fone dois fios pretos entram pela camisa branca a dentro ele é lindo... de um jeito diferente de um jeito que eu conseguia me imaginar ao lado dele nos dois juntos...
- ...edro...Pedro! - saio da minha pequena viagem com a imagem do desconhecido lá em abaixo - Pedro você está me ouvindo
- não, quero dizer um pouco. Olha la Nanda
- o que foi?
- Lá em baixo o garoto de blusa branca e fones!
- sim To vendo... há normal nota 6.
Faço uma cara de espanto e pergunto.- desde quando damos notas a eles?
- e desde quando você dá mais atenção a um garoto do que a mim sua amiga?
Ela me pegou pelo pé agora - e... desculpa mas é que ele é diferente dos garotos daqui.
- isso é verdade. Ela diz isso acompanhando ele lá em baixo com olhar
- você o conhece?
- não.... - o garoto já estava na metade da rua podia vê- lo melhor agora o cabelo castanho cortado num corte reto e baixo nem tão magro nem tão cheinho... a pele era de um tom moreno bem claro um pouco mais escuro do que eu que sou quase uma vela. - olha que eu conheço muita gente. Ele com certeza não é daqui.
- Tem certeza que não conhece? - pergunto com um pouco de tristeza na voz, Nanda conhece todo mundo no bairro é isso porque os pais dela são pastores de uma das igrejas evangélicas por aqui.
- foi mal Pedro não conheço mesmo
Ele já estava no final da minha rua fez a curva e desapareceu na rua ao lado. Fiquei ainda um tempo olhando a esquina talvez ele volte sei lá. Nanda levanta.
- Pedro já é tarde, vou indo.
Me levanto também, realmente já era tarde o sol fazia seu mergulho lento mas constante no horizonte e as luzes da rua se acendiam.
- te vejo amanhã na escola? - pergunto
- claro, pra onde mais eu iria as sete da manhã Pedro?
Dou um sorriso e um abraço em minha amiga
- Até amanhã - ela diz
- até - concluo
Nanda desce a escada até minha casa e de lá sai na rua a vejo ir embora ela me dá um aceno lá de baixo retribuo e jogo um discreto piscar de olhos elas sorri e vai. Aos poucos a rua vai esvaziando cada um está na sua casa e alguns jovens que tem companhia passam de mãos dadas, desço pra minha casa quando a noite já está soberana no céu e as estrelas vem junto. Rumo a escada que leva pra minha casa fora desse terraço sou um garoto que corresponde as expectativas da familia, boas notas uma amiga que todos tem certeza ser minha namorada, jamais deduziriam que sou gay, la em baixo sou outro garoto de 18 anos, e sinceramente não gosto dele nem um pouco.
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Uma Simples História
RomanceAos 18 anos Pedro vive numa cidade no interior do Rio de Janeiro, longe da cidade e num lugar onde sua forma de amar ainda é mal vista, terá como companhia sua amiga Nanda uma pessoa fiel e que guarda todos seus segredos. enquanto enfrenta medos e p...