Uma vez minha mãe me contou que quando criança, os pais dela costumavam trocar cartas com parentes mais distantes, e aquele era o único modo de saberem um do outro. Ela me dizia que sempre ficava ansiosa esperando pela próxima carta. Pensei comigo: como será que era isso?
Pegar um papel e uma caneca, colocar ali seu dia, sua semana ou seu amor. Parar, pensar e se colocar. Não tem regra, não tem jeito nem layout certo... NÃO TEM REGRA! Feito a sua maneira, para um conhecido, um parente, um amigo, um alguém distante ou perto.
Uma demonstração de carinho tão pura. O prático tomou conta, já não se tem mais tempo, e escrever uma mensagem, um e-mail ou fazer uma ligação, é sempre mais prático e às vezes mais eficiente até. Se comentado na roda de amigos, vira até piada: carta meu amigo? É apenas lembrete do passado.
Te reservei um tempo
Conheci um amigo de longe
Distante que não posso vê-lo com frequência
Tal essa que é substituída por mensagens
Chamadas de vídeo, emails
Pedi seu endereço, dizia que era presente
Havia lembrado dele, queria algo lhe dar
Dentro de mim escondia uma ansiedade
Faria surpresa, esperava dele reciprocidade
Escrevi-lhe uma carta de próprio punho
Passei horas pensando no que dizer
Gastei mais tempo escrevendo nas linhas
Reservei minha vida fazendo algo
Fui à cidade, comprei envelope e selo
Fechei a carta, escrevi o endereço
Nervosa verifiquei os dados
Depositei na caixinha e voltei
Uma semana depois ela chegou
Ele me chamou, dizendo que adorou
Dizia ser o melhor presente já recebido
Iria guardar sobretudo, no coração
Porque de uma vida inteira de materiais
Pessoas vazias e vidas isoladas
Pela primeira vez, alguém lhe dava mais
Alguém pensou, ousou e lhe deu o pouco
Pouco esse que lhe faltava
Esse pouco era atenção...
Hábito do século passado que cada dia está mais e mais distante, sendo esquecido. Coisa que as crianças de hoje talvez não tenham ideia que um dia existiu e que poderia, num tempo não tão passado assim, ter existido esse tipo de comunicação entre os humanos.
Mas a vida é feita de exceções aqui e ali, sempre encontra uma, e não seria diferente nem errado dizer que ainda há pessoas que possuem tal apreciação por cartas, que ainda guardam em si essa vontade, guardam esse hábito que hoje se vê como ultrapassado, e que logo poderá ser substituído por completo.
Tive o prazer de mandar a minha primeira carta pelo correio. Se fosse possível descrever em palavras a minha emoção, eu lhe diria, mas foi algo simplesmente maravilhoso. Sempre gostei de presentes pensados, de tempo investido, de carinho dado.
Senti falta daquilo no mundo real, onde as conversas eram sempre sobre as mesmas coisas e as pessoas sem muitas perspectivas, trocando de amigos rápido demais. Tudo estava cada vez menos natural, cada vez mais banal, cada vez menos humano e mais virtual, e eu não conseguia ver porque não poderíamos recuperar um hábito tão legal.
Relação ganha ganha
"Eu escrevia pelos meus pais
Eles não sabiam ler ou escrever
Todas as cartas que chegavam, eu lia
Apesar da emoção, me fazia narradora
Ah, como eu amava enviar cartas"
Consiste em troca, em partilha
Transmissão de sentimentos
Espera e ansiedade
Contato humano em papel
É troca de carinho e sensações
É troca de cuidado e tempo
É compartilhar momentos
É dar a algo, um sentimento
Transmitir tantas emoções
Dar ao outro atenção
Trocar carinho, amor
Se doar de tempo e cuidado
É se emocionar
Escrever, ler e enviar
É dar, receber e partilhar
Troca mutua entre seres viventes
Você já escreveu uma carta para alguém? Ela não precisa ser de amor, ela não precisa ser declaração, ela não tem forma correta, ela não tem regra nem condição, ela só precisa ser escrita com o coração.
Digo que carinho e amor podem ser transmitidos e expressados de inúmeras formas, tais quais não precisam de regras ou de manual, muito menos de um guia. A maioria é feita sem muito pensar, feita apenas com a vontade e o coração. Uma carta pode transmitir mais que somente suas palavras. Basta olhar seu carinho por trás, e se encantar.
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O poder da simplicidade
PoetryA magia escondida por trás do simples e pequeno do dia a dia, da vida! Transformados em poesias e textos para expor lados, costumes, coisas, sentimentos e ações que já foram esquecidos ou estão em falta no mercado da vida.