Cap. 1

192 18 16
                                    


 Violeta acordou assustada, algo lá fora a fez despertar antes do horário que costumava acordar. Levantou depressa e foi até a janela. Após destrancar um pequeno cadeado que unia as duas partes da enorme janela de madeira, as empurrou e avistou um gato que assustado após derrubar uma das latas de lixo, corria pela fazenda. Ela o viu desviar dos postes de luz até desaparecer entre as árvores. Respirou fundo, jogou o cadeado em cima da cama e ajeitou a cortina (amarelada pelos anos guardada). Ao lado da cortina, espreguiçou lentamente e lembrou de como tinha ido dormir tarde na noite passada. Culpou o gato por não poder descansar mais, afinal, o dia já estava amanhecendo. Ao dar o primeiro passo até a cama, o barulho da madeira grunhindo a fez morder os lábios. O susto havia sido tão grande que acabou esquecendo que seus movimentos poderiam acordar o resto da casa.

 Decidiu não voltar até a janela para tranca-la pois em poucas horas a abriria para ventilar o quarto. Ajoelhou-se em frente a cama e procurou com as mãos suas botas amarelas que havia usado naquela tarde. Assim que encontrou, levantou e as calçou apoiando numa cadeira que ficava ao lado da cama. Percebeu que uma delas estava suja de barro e sorriu lembrando do passeio à cavalo que havia feito aquela tarde, era seu esporte preferido e não se importava em voltar com alguma parte suja do corpo ou da roupa para casa. Decidiu ir até a cozinha beber um copo de leite, mas para isso precisaria de uma vela. Logo debaixo da janela, havia uma pequena escrivaninha com três gavetas e numa delas havia diversas velas de tamanhos diferentes. A escrivaninha havia sido envernizada há poucos dias, por isso era possível sentir o cheiro forte de verniz se chegasse um pouco mais perto. Acendeu a vela e andou nas pontas dos pés até o canto esquerdo do quarto, abriu silenciosamente a porta e logo sentiu uma brisa leve chegar em seus braços, fazendo seus pelos arrepiarem. Fechou a porta novamente e foi até a cadeira. Em cima dela havia um abajur aceso e o roupão preferido de Violeta (laranja com alguns círculos azuis). Estava muito gasto, mas ela não estava preparada para desfazer-se dele. 

 Saiu do quarto deixando a porta entreaberta. Ela andava tão devagar que podia jurar que uma mosca a acompanhava perto de seu ouvido. Após descer alguns degraus, escutou um som indefinido subindo as escadas e sua curiosidade para saber o que estava acontecendo não a permitiu voltar para seu quarto e sim seguir adiante. Tentou descobrir de onde vinha, até chegar perto o suficiente da sala de jantar para saber que quem quer que fossem as pessoas que estivessem fazendo barulho aquela hora da noite, estariam lá. Violeta não podia ser descoberta, portanto decidiu apagar a vela. Assoprou uma vez e não obteve resultado, tendo que assoprar repetidas vezes. Ou a vela não queria ser apagada ou Violeta não queria que ela se apagasse, pois sabia que ficaria na escuridão. 

 Deixou a vela no chão, encostou a mão esquerda na parede e com a outra em seu rosto tentava enxergar o que havia naquela pretidão. Havia uma mesa de madeira (doze lugares e um belo vidro no meio que fazia a combinação ser um pouco brega) feita pelo próprio dono da casa no centro da sala. Ao lado de uma das cadeiras, Violeta viu Miguel (alto e sempre com uma barba enorme), o jardineiro da casa. Ao seu lado estava Maria, a cozinheira mais séria que já havia trabalhado ali. Ninguém nunca havia a visto de cabelos soltos, até aquele dia. Violeta aproximou-se mais, queria saber o que eles conversavam pois durante todo o dia eles nem chegavam perto um do outro. Fixou os olhos nos dois quando Viu Miguel acariciar o rosto de Maria e lhe dar um longo e demorado beijo. Violeta se sentiu envergonhada por estar presenciando aquela cena escondida ao lado da parede, mas estava completamente surpresa com o que acabara de descobrir.  Virou-se e e silenciosamente voltou até a escada, não queria estragar a noite feliz que os dois pareciam estar tendo. Olhou para cima e pensou que era realmente uma boa subida para chegar ao quarto onde ela estava dormindo, no terceiro andar da casa. 

Violetas no JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora