- Não sei porque perdemos nosso tempo indo ao jantar ontem, se ficamos lá por duas horas foi muito - Bernadete experimentava o café após dosar o açúcar.
Roberto segurava o jornal com uma das mãos e rodopiava seus óculos com a outra sentado no sofá verde musgo que Bernadete tanto havia pedido para ele comprar.
- Duas horas? Bem menos. Mal terminamos de jantar quando Valentina pediu para os convidados se retirarem pois não estava se sentindo bem. Já achei estranho o fato de servirem o jantar sem a dona da casa estar à mesa. Onde será que ela estava?
- No momento em que a senhora estava conversando com outras mulheres e o pai experimentando os vinhos, eu estava conversando com a sobrinha de Valentina quando o jardineiro apareceu dizendo que a tia da garota precisava conversar com ele à sós. Enquanto eles conversavam lá fora, o jantar era servido - Yure ia ao encontro de seus pais quando escutou a conversa e decidiu participar do assunto.
- O jardineiro?
- É, Violeta disse que ele era um dos convidados.
- Estou surpresa, Valentina nunca teve gosto por pessoas inferiores e convidar o jardineiro para um jantar tão elegante é uma afronta contra suas próprias palavras.
- Suas próprias palavras?
- Todos os funcionários da casa dormem em um lugar separado, do lado de fora. Mas o jardineiro possui um quarto dentro da casa com boa cama, bons móveis e está sempre usando boas roupas - Roberto compartilhava a informação com a sobrancelha direita erguida e a mão em que seu queixo, tentando lembrar-se de tudo que sabia para não deixar de contar nada. Ele e Bernadete apreciavam boas fofocas e faziam delas ótimas pistas para conclusões precipitadas.
- Me diga meu filho, o que está achando da jovem? - Bernadete mudava de assunto como se não tivesse se importado com as informações obtidas através do marido, só conseguia pensar em como era estranho ele saber de tudo aquilo. Para quem havia perguntado e por qual motivo iria queria saber tanto sobre o jardineiro?
Yure estava em pé encostado na pia olhando para a maçã em sua mão, e segurou o sorriso ao processar a pergunta de sua mãe.
- Não tenho o que te responder, mal conversamos.
- O pouco que conversaram não te dá uma resposta?
- Tem algum motivo para estar tão interessada?
- Não. Só a achei muito bonita e acima de tudo educada. Queria saber sua opinião, já que não possui uma, podemos mudar de assunto.
- Eu tenho uma opinião bem formada a respeito dela. Mas não preciso te dizer - O rapaz caminhou até Bernadete, deu um beijo estalado em sua testa e seguiu até a porta - Preciso ir, não posso me atrasar para o primeiro dia de aula.
- Ainda não consigo entender o porque de você começar aulas de italiano com tantas coisas que poderia aprender.
- E porque não aprender italiano?
- Acha mesmo que vai precisar disso algum dia?
- Não. Mas é melhor fazer o que gosto do que não fazer nada. Tchau - Acenou e saiu apressado após olhar a hora em seu relógio de pulso.
- Também preciso sair. Faz tanto tempo que não venho pra cá que já me esqueci de como é a cidade.
- Já se esqueceu? Viveu tantos anos aqui.
- É, e parece que não foram suficientes. Essa cidade sempre irá me surpreender, especialmente as pessoas que vivem nela.
- Tem algo para me contar?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Violetas no Jardim
RomanceVioleta, uma jovem ruiva, havia sido criada pelos seus tios: Valentina e Lorenzo. Amava andar à cavalo e botas amarelas. O jardineiro da casa, seu grande conselheiro e único amigo, um dia descobre algo que irá mudar completamente a relação dos dois...