22 fevereiro de 4200
Estação de trem local
23:00Começo a andar rápido para chegar em casa logo, meus pés doem depois de um dia cansativo. Uma gota singela escorre de minha testa, atravessa minha bochecha e se aloja ali, me lembrando do calor do dia, embora agora esteja frio e o vento que sopra minha pele traz uma certa ardência. Eu sempre amei o vento e agora não é uma exceção, mas o ar hoje está carregado com alguma coisa indecifrável. Já passou o horário permitido, estou desobedecendo o toque de recolher, mas não tive escolha. Não quero pensar nisso, minha consciência me avisa que devo fazer o que mandam.
Chego na plataforma da estação de trem, a cesta cheia de carne pesa em meus dedos, sinto o vento atravessar-me, dissipando meus pensamentos, o doce aroma da noite entra em minhas narinas, percorrendo minha cavidade nasal, trazendo aquela lembrança de que aqui cresci. Olho no relógio ao centro da estação e percebo que estou mais que atrasada. Quando estou quase no fim da plataforma ouço o barulho do que vim buscar.
Foi aí que tudo começou, me viro e olho para os trilhos no chão abaixo da plataforma. Diante dessa visão meu coração se parte e olho em volta desesperada procurando alguém, qualquer um, começo a correr em direção aquele pequeno corpo, graças ao poste iluminando a plataforma não tropeço em mim mesma. Meu peito está tão acelerado que chega a doer, desço o enorme degrau que separa tudo ao redor dos trilhos. Ao longe vejo uma pequena luz se aproximando numa velocidade impressionante, levando carga para outro Reino, o trem das 23:10. Me desespero mais ainda, consigo pegar em meus braços o causador do choro. O conteúdo da cesta caí nos trilhos, assim como o combinado, sujando de terra o que antes era para ser sujado de bile, não penso mais, pego a criança que chora e saio correndo dali, antes que o trem me alcance.
Assim que consigo subir a plataforma com certa dificuldade devido ao desespero e a criança que chora em meus braços, o trem passa esmagando minhas chances de voltar atrás. Não me importa as carnes, mas a criança a chorar. Tomo um susto quando a olho direito, sua cabeça achatada e seu rosto coberto de pelos a denunciam como sendo recém nascida! Quem em sã consciência largaria um recém nascido no meio dos trilhos? Droga, não sabia mesmo onde estava com a cabeça quando aceitei o acordo. Um pensamento me vem a cabeça, mas logo expulso, não pode ser, isso é mentira! O bebê em meus braços para de chorar, envolta de uma manta dourada. Me levanto do chão empoeirado e gasto dos anos usados que em algum momento esquecido cheguei a sentar. Coloco a manta reserva toda surrada e amassada em cima do emaranhado esmagado nos trilhos, não podia esquecer de nenhum detalhe.
Começo a correr novamente, não sei por que mas sinto que devo chegar em casa o mais rápido possível, seguro firme a criança para que não venha a cair, deixo a estação de trem para trás e passo pelas ruas com extrema pressa, depois de 7 minutos correndo chego em minha loja, finalmente o treinamento está fazendo efeito. Passo pela cerca baixa, pego minhas chaves e entro tentando não fazer sequer um barulho, já dentro tranco a porta e subo as escadas que dá para meu lar, suspiro me acalmando e coloco a criança no sofá cinza perto da janela, fecho as cortinas e acendo a luz. Quando olho para a criança sinto uma mão tocar meu ombro e grito com todas as minhas forças. Viro-me e me deparo com meu marido rindo mas internamente com olhos preocupados.
-Porque demorou?
Ando para o lado abrindo o campo de visão do meu marido, sei que já estaria atrasada de qualquer forma, mas isso é irrelevante. No exato momento em que a vê seu rosto faz uma careta de confusão e seus olhos se perdem em pensamentos, começa respirar estranho, hábito que tem quando não entende algo, foi por uma das coisas que me apaixonei por ele.
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A Probabilidade
Teen FictionNão sei ao certo como contar essa história, por isso prefiro escrever a descrição quando estiver completa ou quando for preciso, mas espero que vocês gostem ❤️ Ainda estou descobrindo o livro, então se forem ler, vão ficar tão surpresos quanto eu...