Resiliência

Resiliência (s.f): na psicologia, é combinação de fatores que proporcionam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades sem entrar em um surto psicológico.

Os meus passos eram calmos. A minha respiração, por mais que eu estivesse com a mente pesada, fazia o movimento de inspiração e expiração como se nenhum problema pudesse me afetar. De fato, naquele instante eu poderia estar com essa sensação. A leveza dentro do meu peito não deixava eu me afundar, tudo isso pelas sensações que o momento me permitia. Talvez fosse a nostalgia, a saudade, ou poderia ser os dois se complementando e deixando a minha felicidade prevalecer. Só queria que isso continuasse dentro de mim para sempre, por mais que eu não acreditasse mais nessa palavra.

No momento, tudo o que eu queria sentir era a paz. A minha visão conturbada era marcada por brinquedos se movendo, deixando todos os meus desvarios com uma vivacidade de regularidade. Conseguia ver casais sorrindo ao esperar a sua vez na fila, assim como ouvia gargalhadas de euforia de crianças ao estar em um brinquedo. Enquanto isso, por outro lado, sabia que eu continuava sozinha. As luzes piscavam sobre o ar defasado, e é como se eu tivesse voltado para o passado. Aqui as pessoas ainda não tinham celular, os sorrisos eram sinceros e eu não precisava ficar com medo da sociedade, mas ainda sim eu não sabia o que estava fazendo aqui, e continuava desamparada com a nostalgia de um déjà vu.

Senti um vento gelado passar pela minha pele, mas ele não foi capaz de fazer com que os pelos do meu braço se arrepiassem. Eu estava confusa, desordenada e sem saber para onde ir. Esse ambiente me trazia conforto e dúvida, ambas coisas distintas que prevaleciam em minha mente. Só queria sair daqui, mas não foi isso o que eu fiz.

Observei com um olhar atento todos os locais do parque, mas meus olhos se chocaram em uma barraca de pipoca que havia na entrada do ambiente. Com passos calmos, consegui caminhar até o lugar, onde avistei um casal de jovens. A menina parecia ter 18 anos, enquanto o seu companheiro aparentava ser dois anos mais velho. Ela tinha cabelos loiros como os meus e era branca como a nuvem. Já ele, avantajava-se com seu cabelo enrolado e escuro como a noite.

O casal sorria enquanto conversavam sobre um assunto que eu não conseguia identificar. Ela gargalhava, deixando a sua essência tomar conta do ar, mas eu ainda não conseguia ver o rosto dos dois. Não sei o que havia acontecido, mas algo dentro de mim dizia que eu já os conhecia, mesmo não tendo visto ambos de face. O casal se afastava cada vez mais de onde eu estava, mas a minha curiosidade não permitiu fazer com que eu ficasse parada. Queria descobrir mais sobre eles, saber de onde que eu os conhecia e tentar relembrar de minhas memórias cobertas pelos devaneios que insistiam em cobrir a reminiscência.

Meus pés não saíam do chão. O casal se distanciava, mas eu não conseguia ter o controle do meu próprio corpo para acompanhá-los. Era sufocante sentir a vontade de correr e não conseguir, e eu só queria que isso acabasse.

Queria que tudo voltasse ao normal.

Queria ir para a época em que tudo era fácil.

Queria acordar.

Porém, ao contrário do meu querer, eu permaneci aqui, olhando todo o movimento que era contínuo.

— Querida — ouvi um sussurro em meu ouvido. — Eu continuo aqui, mas nada é real.

Olhei para trás procurando o dono daquela voz, mas nada achei. Não havia mais movimentos nem a cor do parque, tudo o que prevalecia era a escuridão tomada pelos meus pensamentos. Queria gritar, correr e sair daqui, mas não sabia para onde ir. Eu estava perdida.

— Estou aqui, Lorena — o sussurro continuava. Era ele, eu sabia que era. — Sempre estive.

A sua voz me carregava para uma direção, era uma saída que me tirava do breu e da tristeza. Senti um aperto em minha mão direita, passando uma energia que eu nunca havia sentido antes. Era a saudade, eu queria tê-lo de volta para a outra parte de minha felicidade ser reconstruída. Mas isso era impossível.