Faixa Um

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Os pincéis coloridos estavam apoiados na minha cômoda, enquanto eu passava o azul em minha bochecha.
O meu reflexo no espelho, mostrando a imagem da minha pele negra com as cores da bandeira gay pintadas ali... Eu tive orgulho de mim mesmo.
- Augusto! - escuto uma voz fina chamar meu nome. Sorrio. Mabel.
- Mabel, pode entrar! - quando falo isso, vejo Mabel analisando a minha roupa colorida.
- Eu sei que eu posso entrar, Augusto! Nosso tempo de amizade já me dá permissão de entrar no seu quarto quando eu bem entender! - Mabel ri, e eu fico boquiaberto. - É mentira, Augusto. Sua mãe disse que eu podia entrar, porque você já tinha acabado de tomar banho.
Eu dirijo a Mabel um pequeno sorriso e volto minha atenção à pintura em meu rosto.
- Mabel, eu preciso da sua opinião.
Ela já está do meu lado alguns segundos depois.
- Hum?
- Eu preciso da sua...
- Não, não, Augusto! Não foi isso que eu quis dizer. Eu estava querendo perguntar o que você quer?
- Ah, sim... - digo. - Fale mais claramente da próxima vez. - Consigo ver Mabel apontar o dedo do meio na minha direção, o que me faz rir. - Me diz se tá bom. - digo, virando de lado para ela.
Consigo ver um sorriso no rosto dela.
- Está ótimo, Augusto. - ela continua sorrindo, até que revira os olhos. - Queria a sua habilidade com maquiagem, isso me dá nos nervos toda vez!
- Talento, querida! - digo, mexendo nos cabelos castanhos de Mabel. - Alguns já nascem com ele, outros não!
Mabel revira os olhos e me puxa pelo braço.
- Vem logo, Augusto! - diz ela. - E onde estão as bandeiras, a propósito?
Sorrio, enquanto abro a porta do armário.
- Seu armário está um lixo, hein? - Mabel diz, enquanto tiro do armário as bandeiras.
- Tudo bem, mãe. - jogo as bandeiras por cima do ombro. - Agora vamos, Mabel, que eu vou apresentá-la ao mundo do orgulho gay!
Mabel ri e revira os olhos.
- Do jeito que você fala, parece que vamos fazer um portal para um universo alternativo onde são existam pessoas gays!
- Amor, quando pararmos na frente daquela rua, vai ser exatamente o que vai parecer que fizemos!
Eu e Mabel saímos do quarto rindo, enquanto eu gritava para minha mãe que estávamos saindo e não tínhamos hora para voltar.

• • •

- Sua mãe é bem legal. - Mabel sorri do banco de passageiro do carro, ao meu lado. - A minha mãe não me deixaria sair sem saber para onde eu vou ou que horas vou voltar, nem morta!
Eu rio ao ouvi-la falar aquilo. Minha mãe conhecia todos os meus amigos, e tinha ficado mais tranquila também desde que Mabel chegou - acho que, sabendo que a mãe dela era super protetora, achava que não precisava se preocupar, já que tudo que acontecesse a mãe de Mabel estaria ciente.
- As duas têm seus momentos. - resolvo dizer, dando de ombros.
Quando chegamos na porta da casa de Davi, Mabel salta do carro, ao mesmo tempo que eu.
- Você vai chamar o Davi, então? - digo.
- Definitivamente sim. - Mabel responde. - O pai dele me ama!
Solto uma gargalhada, e faço um sinal para que ela vá enquanto entro no carro de novo.
Eu apenas observo Mabel andar pela portaria do prédio, sem anunciar seu nome para o porteiro - ele já a conhecia. Inclusive, o pai de Davi já tinha dito que ela podia entrar quando quisesse -, e entrando no elevador depois de alguns segundos ali.
Eu suspiro e ligo o celular ao rádio, vendo qual será a lista de músicas escolhidas para o caminho. Eu já tinha quase certeza de que seria alguma que incluísse Arctic Monkeys, mas eu resolvi esperar para ver.

Como Roubar O Coração de Um Ditador IndieOnde histórias criam vida. Descubra agora