Antes de começar esta narrativa, devo dizer que minha carne ainda sofria dos espasmos que precedem o Rigor Mortis.
Lá estava meu corpo magro, elegante e inerte, caído diante de uma árvore cujos galhos subiam para um céu incrivelmente esverdeado. E, se esta informação diminuir a desoladora cena que acabei de descrever, Informo ainda que, ao meu lado, havia uma luz vacilante. Bruxuleante como a chama de uma vela sem lume.
Seria minha consciência?Bem, a verdade é que já havia vivido (ou seria morrido) aquela experiência uma vez.
– Morri de novo! – Foi o que ouvi de minha própria voz ao ressoar no vazio existencial em que me encontrava ( o que, de fato, já não fazia sentido me deixar tão decepcionado com aquela situação): – Mas que... merda!A boa notícia (agora registrada em meu cérebro imaterial) é que o meu pobre "eu" material não devia sentir nada.
Ou pelo menos o sistema nervoso central agora devia estar mais gelado que um picolé.Bem, vamos lá.
Minha essência (ou pelo menos minha essência lúcida e capaz de narrar esta história) permanecia a alguns metros daquela cena. E, sabe-se lá a razão pela qual me transformara numa testemunha, era capaz de ver tudo. Como um espectro de mim mesmo.
O que importa é que, quando isso aconteceu, uma paz repentina se apossou de mim!
Girei no ar, relanceando meus olhos invisíveis ao redor como se tudo o que antes havia sido uma floresta de pinheiros de repente se transfigurasse num grande torvelinho de cores frias.
Já não sentia frio ou calor e começava a gostar daquela sensação. Embora nas entranhas de meu espírito não existisse um coração que pudesse sobressaltar, fui sobressaltado quando ouvi um grito. Entre duas grandes árvores escuras e frondosas, vi surgir uma antiga figura conhecida por mim, a criatura cuja presença me causava as piores emoções.
A senhora das sombras.
Terrível e assustadora.
Imune a qualquer poder humano.
A maléfica (como era mesmo o nome?)!
Bem, eu tinha de sair dali.
Voltar imediatamente!