Coração Mecânico

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Com as mãos dentro do casaco para escapar do frio, eu caminhava com Patrick até o supermercado onde iríamos comprar bebidas para a festa de natal que haveria mais tarde.

- Sério cara, imagina só um mundo sem mechanos - ele imaginava em voz alta. - Eu tenho um plano perfeito para nos livrarmos dessa praga!

- Continue sonhando Alice... - eu fazia pouco do pensamento do meu amigo que atraía curiosos pela calçada.

- Veja só, os mechanos são robôs certo?

- Uhum - eu concordava enquanto tentava desviar dos olhares dos mechanos que nos observavam com certo receio.

- Então eles devem precisar recarregar a bateria de algum jeito - Patrick continuava. - É só a gente desligar a energia do mundo e esperar que eles apaguem de uma vez por todas!

Eu dei uma gargalhada enquanto entrávamos no mercado do bairro.

- Desligar toda a energia do mundo? - eu falava enquanto tentava expulsar a neve dos ombros antes que derretesse. - Esse plano é horrível Pat!

- Qual é Kay? - ele deu de ombros. - É pra um bem maior não é?

Revirei os olhos e continuei a caminhar em direção às bebidas. Após pegar o que precisávamos, nos dirigimos até o caixa.

- Desculpe senhor, nós não vendemos produtos para mechanos neste estabelecimento - a atendente do caixa à frente falava para o robô que carregava uma cesta cheia de decorações de natal.

- Nós colocamos uma placa do lado de fora, mas essas latas estupidas continuam vindo! - o nosso atendente comentou.

- Peço perdão, mas preciso comprar esses itens para a noite de natal - o mechano falou com sua voz travada e robotizada.

- Nosso estabelecimento não atende mechanos, por favor se retire! - a mulher alertou.

- Oh pedaço de ferro! - Patrick gritou. - Por que você não pega essa sua bunda de metal gelada e volta pra casa pra ter um feliz natal com seu papai e mamãe de bunda de metal gelado?!

O atendente riu. Eu dei uma cotovelada nas costelas de Patrick que me olhou furioso.

- Qual é Kay?!

- Vamo resolver isso logo - eu falei passando as coisas pro atendente que ainda ria.

- Perdão senhor, mas o meu pai e minha mãe são tão comuns quanto qualquer um de vocês - o robô respondeu se virando para nós.

- Se seus pais são humanos e ainda cuidam de você então eles não passam de lixo, assim como você!

O mechano abaixou a cabeça e seus fotorreceptores diminuíram a luminosidade, ele parecia estar se sentindo humilhado.

- Pra que isso Patrick? - perguntei irritado.

- Esse ferro velho ambulante acha que pode responder a gente como se fosse normal Kay! O que há de errado em botar ele no lugar dele.

- Encontro você na festa - falei frustrado enquanto saía da fila.

- Peraí Kay, aonde você vai?

Não olhei pra trás, continuei andando até o caixa onde o mechano se encontrava, todos olhavam pra mim como se eu fosse um extraterrestre.

- Eu vou levar isso aqui! - Apontei para a cesta do mechano.

- Senhor, nós não...

- Eu pareço uma máquina pra você?! -Exclamei.

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