Our Day

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Estacionei meu carro na porta da frente do prédio dos pais da minha namorada e respirei fundo.

Camila jamais havia demonstrado nenhum sinal de ciúmes por Lucy desde essa manhã quando protagonizamos aquela pequena briga, e eu sabia que ela tinha ficado brava por que durante minha tarde com Lucy, eu tentei falar com ela diversas vezes e tudo que eu recebia em troca era o check azul do whatsapp, e era frustrante e no mínimo infantil da parte dela.

Cumprimentei o porteiro e entrei no elevador já me sentindo um pouco estranha, digo, eu e ela não somos de brigar, muito menos de discutir por besteira. Apertei a campainha e a mãe dela me atendeu sorridente, sorri de volta.

— Lauren, querida, entre. — Disse me abraçando carinhosamente como toda vez que me via. Bom sinal, Camila ainda não havia feito minha caveira a ela.

— Sogrinha, oi, sua filha está? — Perguntei já passando meus olhos pela cozinha e sala pra ver se a encontrava. Nada.

— Achei que vocês sempre soubessem onde estão. — Falou brincalhona fechando a porta atrás de mim.

— Meu celular ficou sem bateria. — Menti sem graça. — Mas ela está?

— No quarto querida, aliás, não saiu de lá desde que chegou da sua casa. — Ela disse e eu suspirei, seria uma longa conversa. Camila era extrovertida e conhecendo ela do jeito que conheço, ficar no quarto um dia inteiro significava algo bem ruim.
Fedeu pro meu lado.

Cumprimentei o pai dela rapidamente e parei enfrente ao seu quarto. Bati uma vez.

Duas.

Três.

— Camila você sabe que sou eu, por favor abre. — Esperei mais um pouco e enfiei meu ouvido na porta, a TV estava ligada. — Camila a televisão tá ligada, você não tá dormindo. — Ouvi um 'arghh' de dentro do quarto e ela abriu.

— Camz...

— Sim? — Ela me olhou e eu caminhei até ela.

— Podemos conversar? — Ela deitou em sua cama e eu sentei na cadeira de rodinhas dela.

— Fale. — Camila disse fingindo estar distraída com o celular.

Levantei calmamente e deitei ao seu lado na cama, sem forçar muito carinho já que sabia que não iria rolar.

— Sobre o que aconteceu hoje... Eu... Eu queria saber o que aconteceu hoje Camila.

— Nada...

— Droga Camila, eu não sou idiota, você fez quase uma cena teatral pela manhã, depois não respondeu nenhuma das minhas mensagens. — Fechei meus olhos e me afastei um pouco dela. Ouvi sua respiração bem próxima à minha boca e me ajeitei, ainda de olhos fechados para que ficássemos na mesma altura. O narizinho fininho e gelado dela tocou o meu e abri meus olhos. Ela me encarava com um olhar de desculpa e eu passei meu braço ao redor dela.

— Lucia... Ela... — Tomou fôlego e afastou um pouco seu rosto do meu. — Ela anda atrapalhando nosso relacionamento Lauren.

— Como? — Eu disse espantada. — Você ficou doida? — Meu coração disparou e eu senti meu rosto queimar. Que diabos Camila estava falando?

— Lauren você nem reparou no que aconteceu hoje né? — Ela levantou da cama e me encarou. Eu arqueei a sobrancelha em dúvida e ela continuou:

— Você saiu voando e não teve a decência nem de me deixar em casa! — Ela alterou a voz e eu dei um pulo de onde estava deitada. — Eu fiquei como uma idiota no seu apartamento catando centavos nas suas coisas pra pegar a bosta de um ônibus.

— O problema foi você pegar um ônibus porque eu... — Ameacei falar e ela me interrompeu:

— Não porra, não foi por causa de uma bosta de um ônibus. — Ela gritou relativamente alto e eu me irritei. A essa altura todo meu corpo respondia pelas coisas que Camila falava, ela jamais falou de Lucy ou da nossa amizade daquele jeito, eu sempre deixei muito claro que ela era minha melhor amiga é que nenhum namoro atrapalharia isso.

— Então me fala o que foi então. — Levantei a voz para ela a primeira vez na vida e a olhei com raiva. — Você não é burra e sabe muito bem que saio aos sábados com Lucy, pra que isso agora hein?

Segurei o braço dela, sem força alguma, e olhei fundo nos olhos molhados dela, lógico que ela iria chorar.

— H-Hoje...- Ela começou falar com a voz falha. — Dois anos Lauren, hoje a gente faz dois anos. — Ela terminou de falar já chorando e eu soltei o braço dela dando dois passos pra trás. Aquilo só podia ser uma brincadeira, não era possível.

Era?

Puxei na memória algumas coisas e tudo que consegui foi uma lembrança curta de dois ou três dias atrás em que eu dizia "semana que vem completamos dois anos".

— Não fazemos dois anos hoje Camila, falta uma semana e... — Meu cérebro deu um estalo e eu me virei para a parede dela onde ficava um grande calendário cor de rosa. O número 14 estava estava em destaque, circulado por canetinha vermelha e embaixo continha o escrito "Our day".

Não não não não não não, não era possível, eu nunca perdi um aniversário de namoro desde o nosso primeiro mês;

Me virei para ela de novo e por um segundo eu tive a impressão que me faltou chão abaixo dos pés, eu nunca curti muito comemorar os nossos aniversários mas eu sabia bem como era importante pra ela, nós já havíamos feito planos e iríamos pra um hotel fazenda na cidade vizinha e...

— O hotel! — Exclamei levando a mão na cabeça e ouvi um soluço baixo dela. — Amor, eu...eu não sei o que dizer, e-e-eu não fiz de propósito e, digo se a gente sair agora a gente chega lá em 1 hora e ainda temos o domingo. — Abri o guarda roupa dela eufórica e catei algumas peças de roupa jogando-as em cima da cama. Eu malmente respirava e meu coração batia acelerado, por um instante eu senti como se meu cérebro tivesse dobrado de tamanho e eu não conseguia pensar direito no que tava fazendo.

— Lauren pare.- Ela disse baixinho. Ela estava com os braços cruzados ao corpo e seu rosto havia ganhado uma coloração avermelhada, assim como seus olhos. Ela parecia tão frágil e tudo que eu queria era abraçá-la e dizer pra ela não ficar daquele jeito.

Mas como não ficar se a culpa era toda minha?

— Eu quero que você vá embora, por favor.

— M-mas a gente ainda pode ir, eu dirijo rápido e vai ser uma noite linda eu compro champanhe e...

— Perdemos a reserva às duas da tarde. — Ela deu alguns passos e abriu a porta. — Apenas saia da minha casa, Lauren.

Encarei ela por mais uns segundos e quando vi que realmente não tinha jeito, andei até a porta o mais rápido que pude e fechei-a atrás de mim.

Apesar de ter ficado poucos minutos no quarto com ela, o silêncio da casa mostrava que estava vazia, o que acabou sendo um alívio já que eu tenho quase certeza que a gente havia discutido alto.

Sai do prédio e quando entrei no carro enterrei a cabeça no volante não me importando nem um pouco quando acionei a buzina sem querer. Eu tinha a cabeça a mil e me sentia extremamente inútil por tudo que eu havia feito, e não tinha a menor ideia de como consertaria toda aquela grande merda, eu precisava colocar minha cabeça pra funcionar e sabia que precisava de ajuda. Me endireitei no banco e saquei o celular do bolso e disquei pra única pessoa que eu sabia que me ajudaria aquela hora:

— Troye, preciso de você.

AftertasteOnde histórias criam vida. Descubra agora