A luz quente do sol que passava pelas persianas da janela do meu quarto esquentava minha pele. O vento forte sobre os galhos das árvores uivavam, ecoando pelas quatro paredes do cômodo azul com branco, que se unindo aos roncos estrondosos do Matheus, dava origem a uma destoante melodia. Com os olhos semiabertos eu podia notá-lo dormir em um dos puffs que ficavam espalhados pelo quarto. Ele dormia profundamente e não parecia sentir a luz do sol em sua face, que branca como a neve, reluzia. Ele era branco, na verdade albino, com as sobrancelhas superclaras, cílios praticamente invisíveis e cabelos incrivelmente loiros.
- Ei, Edward Cullen – dizia enquanto o cutucava com o dedão do pé -, sai daí e vai pra cama. Eu já vou levantar e você pode aproveitar pra descansar melhor.
Nada. Foi como se eu estivesse falando sozinho ou com algum móvel da casa. Ele estava apenas de calção, o que deixava seu físico bastante a mostra. Seu corpo era bem definido, mas nada exagerado. A sombra de deus músculos contrastava perfeitamente com o tom branco de sua pele, e a luz solar, refletia em seus pelos dourados fazendo-o brilhar sob seu calor.
- Matheus... - voltei e mexê-lo com o dedão, mas dessa vez esfreguei de sua bochecha até sua boca, forçando um pouco até colocá-lo dentro dela - ACORDA!
Ele arregalou os olhos ainda com meu dedo dentro da boca e fez uma cara batente estranha. Eu comecei a rir, e ele superatordoado, ficou tentando entender o que estava acontecendo.
- Você enfiou a porra do seu dedo imundo na minha boca? - me perguntou enquanto lutava contra a vontade de fechar os olhos e voltar a dormir.
- Ora, eu não tenho culpa se você ronca feito um porco e dorme de boca aberta. De tão forte que seus roncos estavam eu fui sugado da cama até aqui e caí de dedo nesse seu tornado disfarçado. - disse enquanto ria daquela cena.
Ele enfim levantou e foi pra cama. Segui minha rotina matinal que consiste em: levantar, me alongar um pouco, pegar o celular e colocar minha playlist do Spotify para tocar, ir até o banheiro e passar alguns minutos me encarando em frente ao espelho, sentar no vaso e checar minhas redes sociais, e enfim, depois de muito enrolar, tomar um bom banho. A água fria acordava cada músculo do meu corpo ao escorrer sobre mim e chegar até meus pés. No som tocava “Here Comes The Sun” dos Beatles, e eu como um bom e velho rapaz desafinado, cantava despreocupado enquanto retirava o sabonete de mim.
Saio do banheiro somente com uma toalha enrolada na cintura e vou até meu armário que fica do lado direito da minha cama, onde Matheus, já acordado, estava com meu notebook ligado e bastante atento. Retiro da segunda gaveta uma cueca da casa Targaryen de Game Of Trhones - uma das minhas séries favoritas - e visto ainda com a toalha presa em minha cintura. Abro as portas do meu guarda-roupa e procuro uma camiseta do Nirvana, que eu sempre uso para ficar em casa mas não encontro. Dou uma boa olhada pelo quarto e percebo que ela está dependurada na cadeira da minha escrivaninha que fica de costas, do lado direito, da minha cama.
- Matheus - digo enquanto passo o desodorante - pega pra mim aquela camiseta.
- Agora eu tô ocupado, Gabriel. Pega você aí, vai! - ele respondeu sem ao menos olhar pra mim e com um semblante bastante sério e ao mesmo tempo feliz.
- Nossa, você é mesmo um morto de preguiça, sabia?
Vendo que ele não pegaria mesmo a camisa, me estique sobre a cama para alcançá-la, e com isso, pude ver o que de tão importante prendia a atenção do Matheus. Era a lista de aprovados no vestibular.
- Gabriel… - disse Matheus ao notar meu espanto instantâneo - VOCÊ PASSOU! Você entrou, irmão! - ele gritava e me abraçava enquanto dava pulos em cima da cama.
Eu não conseguia acreditar. Era muito para assimilar às 8h40 da manhã. Depois de alguns segundos me caiu a real e eu comecei a pular feito um louco com ele. Nós gritávamos, estávamos fazendo realmente muito barulho, mas era aceitável. Eu havia passado!
- Que barulho todo é esse aqui, meninos? - perguntou minha mãe assustada ao abrir a porta do quarto de uma vez e se deparar com aquela cena.
- O Gabriel foi aprovado no vestibular, tia Margarida! - disse Matheus ainda aos pulos. - Vem pular com a gente, vem!
- Meu filho, que orgulho de você! Eu sempre soube que você seria capaz. Mas… - ela parou por alguns instantes e fixou os olhos em mim, até que - você precisa vestir algo primeiro, não acha?
Sem entender olhei para baixo e percebi que a toalha tinha caído, me deixando apenas de cueca. O Gabriel não parava de rir e minha mãe, também rindo, virou-se e saiu do quarto.
- Uau! - Matheus disse em um tom debochado - que adulta essa sua cuequinha, Gabriel.
- Não enche seu babaca - falei enquanto ria e me cobria com uma almofada.
- Dracarys! - continuou ele, o que nos fez rir bastante.