Perdido

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As férias chegaram, meus pais estavam completando dez anos de casamento e fariam sua primeira viagem ao exterior e eu não fazia parte destes planos por motivos que só entendi anos depois. Eles tentaram me fazer acreditar que passar um mês longe dos meus amigos e na companhia da minha tia avó Lina seria muito divertido, mas, em nenhum momento conseguiram me convencer, ela tinha fama de ser louca.

Me colocaram em um ônibus, não havia tempo para me levarem, alguém me buscaria na rodoviária. A viagem foi agradável, o ônibus estava vazio e a paisagem era muito bonita, algumas montanhas, muito verde, me distraí e sequer lembrei de ler o livro que levava comigo. Aos poucos as casas começaram a aparecer, à distância, pequenos pontos de luz no meio da escuridão, até que a pequena cidade começou a tomar forma.

Chegando na rodoviária, que na verdade era só uma lanchonete com um guichê, desci do ônibus, peguei minha mala com tudo que eu precisaria para sobreviver ali por um mês, só faltou meu videogame, mas, meus pais não deixaram que o levasse. Fiquei esperando, minutos se passaram, o local foi se esvaziando e ninguém apareceu.

Somente alguns vagabundos circulavam ali, os olhares se concentravam em mim, não vi policiais, estava assustado. Uma família passou do outro lado da rua, resolvi pedir ajuda à eles, eram um casal e duas garotinhas, olhei para os lados antes de atravessar, e no instante seguinte eles não estavam mais lá.

Pelas ruas, uma névoa sobrenatural se formava, não estava frio, o silêncio era inquietante, casas fechadas, a luz dos postes era fraca, eu estava com medo e sentia uma estranha pressão na cabeça, meu corpo parecia cansado e dolorido sem motivo. Eu precisava encontrar alguém que me ajudasse e, ao virar em uma esquina vi dois homens, mas, não pareciam dispostos a colaborar.

Eles vinham em minha direção, não falaram nada, o silêncio incômodo transformou a situação em algo ainda mais assustador, não foi possível raciocinar, o reflexo de luta ou fuga me impeliu a correr sem rumo, deixando minhas coisas para trás, só parei quando percebi estar cercado por árvores, sons estranhos vinham de todos os lados e o solo parecia se mover. Onde eu estava afinal?

Tinha a nítida impressão de ser seguido, não sabia como tinha ido parar naquela mata e pouco enxergava além de minhas mãos que tateavam à frente, andei por alguns minutos até tocar a rocha, algo me impelia a subir. A pressão na cabeça continuava forte, meus sentidos pareciam descontrolados, eu sentia muito calor e as dores pelo corpo aumentavam apesar de não estar ferido.

Eu estava escalando o que parecia ser uma montanha, não sabia onde ia parar, mas no fundo eu sabia que devia subir, e essa sensação ficou ainda mais forte quando a claridade me atingiu, vindo de baixo, uma luz muito forte, não era ameaçadora, ela trazia paz e me convidava a pular, eu não teria medo de fazê-lo, parte de mim desejava isso, mas, continuei subindo.

Quando cheguei ao topo, vi o ônibus, o mesmo em que embarquei, estava destruído, havia fogo, um caminhão tombado e outros veículos, corpos espalhados pelo asfalto, era uma cena muito forte. Ao olhar para o outro lado da pista descobri o que me incentivou a subir, lá estava eu, deitado, os socorristas visivelmente esgotados não desistiam, me chamavam e diziam que tudo ia ficar bem.


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