Prólogo

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As trevas e os seres fantásticos habitavam no Reino de Castella, espalhando o caos com ódio e desobediência aos deuses. Os seres fantásticos, fartos de tanta desgraça, oraram por paz, chamando a atenção da deusa esquecida, a deusa da proteção. Diferente das trevas, os seres fantásticos se arrependeram de suas ações.

O terrível deus que já habitava aquele reino se sentiu traído por seu próprio povo, pois ele queria ser único. Ele era conhecido como o deus da morte que colecionava almas na intenção de atingir o ápice de sua força e magnitude.

Possuído pelo ódio, o deus escavou os subsolos de Castella em busca da joia mais rara e, assim a fez de sua espada, a única capaz de tirar uma das vidas celestiais de um deus. Ele queria mais do que tudo enfrentar a deusa e mostrar ao seu povo que haviam orado para uma deusa fraca e fazê-la cair na solidão e esquecimento novamente.

O deus que havia dado início a guerra se rendeu ao ver que estava destruindo o próprio reino, sendo assim, ambos decidiram que deveriam governar Castella juntos. Para ter certeza de que não acontecesse novamente, o deus arremessou a espada tão longe que nenhum ser conseguiria encontrá-la e muito menos manuseá-la.

Durante anos eles conviveram em paz e uma forte relação de amor se desenvolveu entre os dois, mas aos poucos a sede pela ambição começou a tomar conta do deus novamente, mas ele sabia que sem a Espada Moussaieff, seu desejo seria em vão.

Anos depois, no Reino de Castella...

O enorme palácio escondido acima das nuvens mantinha uma das mulheres mais admiradas e poderosas de todo reino. O pôr do sol era mais belo daquele ângulo, a brisa calma e morna e apenas o céu se preparando para a noite sob seus olhos.

A deusa inspirou profundamente e fechou os olhos. Seus cabelos mais rosados que sua pele eram timidamente balançados pelo vento e seu vestido simples de cetim dançando em seu corpo.

O bater de asas chamou sua atenção, mas não se assustou. Uma enorme criatura pousou violentamente, rachando o mármore. Sua identidade era muito bem guardada com a máscara negra que revelava apenas os olhos vermelhos e algumas cicatrizes ao redor. A armadura era tão grande que era difícil distinguir se ele era realmente daquela estrutura. Suas asas belíssimas e cinzas se fecharam e a criatura que expelia fogo das brechas de sua armadura negra encarou a charmosa mulher a sua frente.

Destiny o encarou com um sorriso e se sentou na beira do grande chafariz feito em sua homenagem. Ela fez um sinal para que se sentasse ao seu lado. O outro deus retirou sua espada enorme e arrancou a cabeça da escultura em que a água escorria como lágrimas de seus olhos.

— Tudo bem, eu nunca gostei de como me representaram. Meu nariz não é tão grande assim, não é? — ela riu, ignorando a atitude do homem.

— Você sabe muito bem porque estou aqui, Destiny. Não quero que faça ligações com o nosso passado, mas você me deve um favor.

— Que engraçado, Exous. Você desaparece por anos, vem ao meu palácio agindo como tal e acha digno de pedir favores? A sua longa procura não deu em nada, não é? — inclinou levemente a cabeça e encarou os olhos faiscantes do deus.

— Não precisa me tratar assim. — a deusa abriu a boca para retrucar, mas ele continuou. — Eu sinto muito pelo meu comportamento, deveria ter ficado ao seu lado em vez de sair em busca de algo que deu início a destruição. Me perdoe. — Exous sorriu por trás da máscara e estendeu a mão à Destiny.

— Há um ditado muito famoso que diz: "Os opostos se atraem". — sua voz extremamente grossa soava em uníssono.

— De todos os ditados humanos, esse é o meu preferido. — Destiny deu as costas para o deus e caminhou até a entrada do palácio. — Apesar de não ser totalmente verdade. — acrescentou, virando para lhe lançar um olhar malicioso.

Exous a observou, ainda perdidamente apaixonado pelo jeito da deusa. Uma memória se passou em sua mente naquele momento. Ele conseguiu vê-la correndo para dentro do palácio enquanto ria. Seu cabelo rosado estava curto e enrolado. O sorriso branco e encantador, os olhos cinzas pareciam verdes quando ela olhava para o pôr do sol. Aquilo parecia ser tão real que o deus retirou a máscara para observar com atenção.

Destiny observou o rosto cheio de cicatrizes que ela mesma causou. A barba vermelha por fazer e um corte que atravessava sua sobrancelha direita.

— Eu preciso me certificar de que a Espada Moussaieff está em um lugar seguro. — Exous se alinhou na mesma direção da deusa, mas a bons metros de distância.

Ela se encostou em um dos enormes pilares dourados e cruzou os braços.

— Você prometeu que nunca mais tocaria nesse assunto. Pensei que você havia deixado de lado a sua ambição e ter tentando ser um verdadeiro deus para o seu povo.

— Eu cometi um erro, Destiny. E estou apto para que isso não aconteça novamente, só quero ter certeza de que ninguém...

— O seu erro custou milhares de vidas, Exous. Inclusive a minha. — ela o interrompeu. — Você ainda tem três vidas e eu apenas duas.

— Não reconheço mais quem eu era na época, me arrependi do que eu fiz e você sabe disso. — o homem caminhou até ela, fazendo soar o barulho de sua armadura grande e pesada. — Eu confio em você e espero que você confie em mim também. Irei protegê-la se for necessário, mesmo que custe cada uma das minhas vidas celestiais. — sua armadura desapareceu magicamente, dando lugar ao seu disfarce belo e jovem.

Destiny deu um sorriso solene e o abraçou. Naquele momento, ela pensou em contar algo que escondia dele a anos, e não estava relacionado a Espada Moussaieff. A deusa o conhecia muito bem e saberia a sua reação se contasse, por isso desistiu.

Naquela tarde que quase virava noite, eles fizeram algo que não faziam a anos: se sentaram nas grandes escadas do palácio e assistiram o pôr do sol juntos. Com a cabeça apoiada nos ombros do deus, ela adormeceu.

O Legado de Destiny | MoussaieffOnde histórias criam vida. Descubra agora