Quem disse que as aulas de matemática eram chatas?

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      Naquele dia, Santa Mônica amanheceu nublado, o que, coincidentemente combinava com o humor de Brooke Harris. E cá entre nós, esse não era um bom dia para ela estar tão brava assim. Era o terceiro ano, o começo do fim. Finalmente, finalmente ela ia poder ser livre daquela cidadezinha pequena, que apesar de ser maravilhosa para turistas e para Lauren Moore (falarei dela mais tarde), era horrível para Brooke. Porque ela desde pequena foi induzida a ambição. E ela queria mais que aquilo. Queria conquistar Nova York e se tornar a maior influenciadora em moda que sua família já teve. Queria, inclusive, ser a melhor da Califórnia. A melhor do mundo, até. Mas, como ela faria isso se não conseguia nem ser a melhor da escola?

Brooke Harris, Lauren Moore, Violet Jordan e Lana Woods eram as rainhas de Venice High School. Eram filhas de pessoas influentes, e tinham brilho próprio, deixando todos ou com muita inveja, muita raiva ou muita admiração. Brooke sabia que era bom ter suas amigas, porque às vezes uma coroa era muito pesada para carregar sozinha. Ela apenas odiava o fato de que não conseguia ser a melhor das melhores. Suas notas eram melhores, ela tinha mais atividades extraclasse, e sinceramente, era a mais bonita de suas amigas, mas ainda ficava atrás de Lauren. Brooke era perfeita. Simplesmente assim, perfeita, porém aos olhos de muitos, ela era considerada calculista e inalcançável. Tinha também quem falava que ela era enclausurada, e tinha medo de ser quem realmente era. O que, cá entre nós, era mentira.

Brooke gostava do que ela era. Gostava de como sua pele era extremamente branca, de como seu cabelo era grande, pesado e negro, como sua boca era pequena e vermelha, de ser comparada a uma Branca de Neve gótica. Gostava também de ter horário para tudo, uma agenda em que escrevia seus compromissos. Brooke gostava da sensação de controle. Ou pelo menos, de achar que estava. Porque em dias como aquele, em que as coisas davam errado, tudo caía por terra. Como um efeito dominó, se uma coisa, por menor que fosse desse errado na vida da menina, ela se desorientava. Não se sabe de quem é a culpa dessa obsessão. Talvez de seus pais exigentes e falsos. Às vezes ela se sentia em uma casa de bonecas, como se tudo a sua volta fosse de vidro e no menor dos movimentos fora do eixo, tudo fosse quebrar. Pela cobrança, pelas conversas, pelos "incentivos", Brooke tinha se tornado transtornada, obsessiva e compulsiva. O Sr. e a Sra. Harris se orgulhavam da boneca de porcelana que tinham criado. Sempre que podiam, eles expunham-na como um troféu para familiares, amigos, todos que tivessem um mínimo interesse. Isso satisfazia Brooke, mas não tanto. Annelise Harris, uma psiquiatra renomada acreditava na maneira robótica de criar a menina, e bem, Carlos Harris fazia tudo que sua linda esposa mandasse (quer dizer, pedisse).

Quando foi para o Venice High School e conheceu suas amigas, aí sim Brooke considerou-se viva. Sim, elas brigavam muito e sim, haviam muitos segredos. Mas nelas, ela descobriu uma nova família. Apesar de tudo que elas passavam sendo meninas mimadas e más, nossa Branca de Neve gótica encontrou amor ali. Por isso, por mais que seu cabelo perfeito estivesse estranhamente desarrumado, por mais que sua pele branca estivesse muito branca, quase doentia, por mais que tudo estivesse avisando para ela ficar em casa, Brooke colocou um sorriso no rosto e foi para escola, achando que seus problemas acabariam ao ver suas amigas. Alerta de spoiler: seus problemas só pioraram, porque como eu já disse, as meninas são más e mimadas.

_Bom dia! – Lana Woods cantarolou oferecendo seu café para Brooke, que rejeitou. Ela também se sentia inchada e não queria comer nada porque depois... Ah, isso é caso para mais tarde.

Lana deu um sorrisinho sem graça para amiga, já percebendo que aquele não era um dia bom. Isso acontecia algumas vezes, e era sempre melhor deixar que Brooke lidasse com seus demônios internos do que forçá-la a falar. Se ela quisesse desabafar, Lana ouviria, mas não ia tentar descobrir. Porque não era esse seu "papel". Lana ouvia, falava se necessário, mas essencialmente via coisas acontecerem e guardava para ela. As coisas não eram nada fáceis para menina Woods.

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⏰ Última atualização: Feb 14, 2018 ⏰

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