IDA / VOLTA

Conto Ida/Volta

Estava atrasada para pegar o voo quando chamaram meu nome no embarque. Pensei que teria problemas - estava de volta à França, pois as aulas começariam no dia seguinte. Corri até o embarque e, sem explicar muita coisa, pegaram a minha passagem e trocaram por outra. Como eu já estava atrasada, nem pensei em reclamar ou procurar mais informações.

Entrei no avião, enquanto passava pela Business Class, vi que o número do meu assento estava lá. "Como assim?", pensei, "vou viajar de Business Class? ". Nunca na minha vida tive essa oportunidade, fiquei eufórica, já pensando em tudo que pediria, inclusive champanhe. Sentei-me na poltrona e comecei a experimentar todos os botões! Queria aproveitar cada momento desse upgrade.

Enquanto mexia nos botões, escutei uma voz suave me dizendo boa noite. Não prestei muita atenção, pois estava focada na minha escolha de filme para a noite, mas a voz me perguntou se queria que colocasse o meu casaco no compartimento. Tirei os meus fones de ouvido e olhei para a pessoa que estava me incomodando, com o intuito de responder que não.

Mas, assim que ergui o olhar, vi uma das pessoas mais bonitas do mundo. Ele era alto, tinha cabelos castanhos e ondulados, olhos verdes penetrantes e uma voz calorosa que corria feito mel. Fiquei sem fala, só olhando para ele com cara de sonsa. Ele riu e me perguntou de novo se queria que ele guardasse o meu casaco. Eu gracejei também e respondi "por que não?". Eu falei "por que não" quando a resposta deveria ser tão simples quanto um sim... Meu Deus, como ficamos bobas nesses momentos!

Após guardar todas as coisas, ele se sentou ao meu lado e disse:

— Prazer, eu sou o Jamie. E você?

— Valentina.

Ele sorriu e me perguntou de onde era, respondi que era da França, a aeromoça nos interrompeu com esses anúncios de voos que duram horas e são falados em várias línguas.

O avião decolou e eu abaixei o meu assento para assistir a um filme. Infelizmente eu estava tão cansada do mês que passei trabalhando como garçonete num restaurante em Palo Alto que dormi logo em seguida e só acordei com a voz da aeromoça me pedindo para levantar o encosto do assento, pois íamos aterrissar. "Como assim aterrissar? ", eu pensei, "Dormi durante 11 horas? Nem tomei o meu champanhe... como isso foi possível? ". Eu não estava entendendo nada, várias pessoas falando em volta e todo mundo preocupado.

Virei-me para o meu vizinho encantador e ele me explicou:

— O avião teve um problema técnico, vamos ter que parar em New York.

Em New York? Como assim? Eu nem falava tão bem o inglês para ficar me virando sozinha em New York... Ele reparou na minha inquietude e me tranquilizou, dizendo que ficaria comigo para me ajudar. Achei a coisa mais gentil do mundo. O cara era lindo e atencioso. Eu sabia que eu não deveria dar atenção para um desconhecido, mas ele era tão gato que me deixei levar pelo momento.

Descemos do avião e fomos buscar as nossas bagagens. Jamie apanhou um carrinho, colocou nossas malas juntas e as empurrou até o guichê. Havia uma multidão, e as pessoas estavam irritadas e reclamando, íamos passar horas na espera. Jamie pegou a minha passagem e disse para eu me sentar e ficar com as malas, pois ele iria ver o que estava acontecendo. Obedeci sem achar ruim, porque, na verdade, só queria descansar. Sentei-me e, de canto de olho, fiquei observando-o. Era tão bonito e carismático, todos as atendentes só tinham olhos para ele. Meu coração disparou quando ele se virou e me fitou sorrindo, acenando com a mão para me dizer que estava tudo sob controle. Que homem maravilhoso, sexy e perfeito!

Após um longo momento, ele voltou e me informou que o avião só partiria no dia seguinte, e que a companhia oferecera quartos de hotel para podermos tomar banho e descansar. Como eu estava meio perdida, falei "Ok" e fomos para o hotel perto do aeroporto.