Capítulo único

1.4K 161 220
                                    

Quem amaria um lobisomem? Seus pais, talvez. Quem sabe um irmão ou uma irmã que o admirasse demais para deixar que o medo rompesse os laços familiares. Amigos eram uma possibilidade que se perdia no horizonte. Um amor estava totalmente fora de questão.

Lupin não se incomodava de viver sozinho. Ele sempre almoçava em silêncio e dormia quieto em sua cama próxima à janela. Os outros garotos do dormitório brincavam, puxavam conversa, mas ele, nada. Queria manter seu segredo. De tudo, era isso o que mais importava. Dumbledore fora muito gentil ao aceitá-lo na escola de magia e bruxaria de Hogwarts, e Lupin queria fazer jus àquele tamanho gesto de humanidade.

Até que o desleixado estragou tudo.

Em uma tarde fresca, simplesmente se sentou ao seu lado na mesa da Grifinória e se serviu de vários pedaços de pão enquanto fazia comentários aleatórios sobre as notícias do Profeta Diário daquela manhã. Lupin tentou ignorar para ver se ele ia embora, mas logo os outros dois garotos do dormitório sentavam-se diante dele, partilhando da conversa.

— E você, Remo, o que acha? — perguntou James, olhando diretamente para Lupin.

— Bem... — Ele pigarreou. — Acho que foi tudo um acidente. Parece que o feitiço deu errado e um dos bruxos foi parar no hospital.

— Também pensei nisso. — Sirius balançou a cabeça. — E querem julgar por uso indevido da magia o pobre homem que só estava se defendendo da ofensa de um idiota. Que babaquice!

— Sirius — repreendeu James. — Na frente do Remo, não.

— Por que você acha que eu disse "babaquice"? Se Remo não estivesse aqui, eu teria dito saca...

— Sirius! — exclamou James, mas toda a severidade de sua fala perdeu-se em seu sorriso.

E foi assim que Lupin ganhou amigos. Não demorou muito para que os garotos descobrissem seu segredo. Mas demorou um bocado para que eles aprendessem a se transformar em animais por conta própria. Lupin nunca conseguiu formular em palavras a gratidão que sentia. Sua dor tornara-se menor desde que conseguira companhia para suas longas noites na Casa dos Gritos.

Até que, em uma tarde fria de inverno, ele teve sua chance de agradecer.

— Vamos passar na Dedosdemel? — perguntou Sirius, animado, enquanto eles desciam pela rua principal de Hogsmead.

Lupin olhou de soslaio para a louca cabeleira de seu amigo. Mesmo com todo aquele aspecto selvagem, Sirius fazia sucesso entre as garotas. Quando ele e James se juntavam, não havia uma única aluna da Grifinória — exceto, talvez, Lily — que não suspirasse de amor pelos dois. Mas James não estava ali. Encontrava-se detido na sala de Minerva McGonagall por conta de uma brincadeira estúpida em um dos corredores. Peter também não estava ali, pois recebera uma nota péssima em seu dever de Poções e agora tentava refazê-lo.

Sirius e Lupin estavam sozinhos.

— Prefiro ir no Três Vassouras. Não estou com vontade de comer doces hoje.

— Ah, por favor! — Sirius fez seu olhar de cachorro pidão. — Só um pouquinho.

— Certo, certo. Vamos.

Eles ajeitaram seus cachecóis após entrarem na loja. Lupin esperou pacientemente enquanto Sirius entupia as mãos de doces. Não conseguiu resistir quando ele lhe ofereceu uma deliciosa barrinha de chocolate. Maldito. Ele sempre fazia isso, pois sabia que Lupin era secretamente apaixonado pelas barrinhas.

— De nada — disse Sirius, feliz ao ver seu amigo lambuzando o rosto com o chocolate.

A parada seguinte foi o Três Vassouras. Os dois conversaram animadamente e tomaram várias rodadas de cerveja amanteigada. Talvez por isso Lupin estivesse um pouco fora de si quando subiam a estrada de volta para Hogwarts. A neve a seu redor brilhava, límpida, quase cegando olhos descuidados. Lupin esfregou o rosto, cansado.

A estrela do loboOnde histórias criam vida. Descubra agora