Inocência perdida...

25 3 2
                                    

Querido diário,  sim isso soa meio clichê,  más acho que posso me dar o direito de cometer esse pequeno deslize. Não tenho muitos a quem possa chamar de querido ou melhor...não tenho ninguém, de qualquer jeito não mais.

E é isso que quero te dizer querido diário, quero deixar gravado aqui em suas folhas algo que estará marcado para sempre em minha alma.
O dia que perdi a única pessoa que me amou de verdade nesta vida e que junto dela levou embora a esperança e a minha inocência.

-Mamãe,  mamãe!

Entro correndo eufórica pela porta de casa jogando minha mochila em qualquer lugar, mal posso esperar para contar para ela que consegui uma bolsa de estudos em numa das melhores faculdades do país!

Minha animação murcha um pouco assim que percebo o cheiro dele no corredor que leva ao quarto de minha mãe,  seu bafo é impossível de não ser notado, como o alcoólatra que é, vive cheirando como uma destilaria , sempre evito o máximo que posso ter qualquer tipo de contato com ele.

As vezes a noite fecho meus olhos e imagino o dia que poderei tirar minha mãe de suas garras e dar todo o conforto que ela merece, não consigo entender como uma mulher doce como ela pode se envolver com um porco como ele.

- Isso tudo é culpa dela!

Ouço sua voz alterada vindo do quarto deles, como sei que ele pode ser muito violento quando bêbado corro desesperada,  se ele encostar um dedo se quer nela novamente não vou só chamar a polícia desta vez,  juro que faço uma loucura.

Quando chego ao limiar da porta todo meu sangue gela, meus olhos percorrem  em câmera lenta a cena em minha frente.

Todo o quarto está quebrado,  roupas jogadas por toda parte, frascos de perfumes quebrados e espalhados,  o espelho que antes tinha na escrevania está quebrado e cheio de ....sangue.

Prontamente sigo a trilha de sangue e percebo que ela me leva a ele, sim suas mãos estão fechada em punhos enquanto escorre um rio do liquido vermelho,  um pequeno alívio me inunda, não é sangue da minha mãe,  sei que o lógico era me preocupar com ele também más só não consigo.

Não consigo ter sentimentos por um homem que mesmo sendo meu pai nunca foi capaz de um único gesto de amor comigo.

- Você é a única culpada disso!

Ele diz apontando para mim com os olhos injetados de pura raiva, o que me deixa um pouco confusa, como ele pode me culpar pelas suas bebedeiras,  ou pelas suas explosões sem sentido?

-Se você não tivesse aparecido em nossas vidas tudo seria diferente,  ela me amava, ela era o meu mundo e eu era o seu. Nunca quis dividir ela com outra pessoa...então você tinha que chegar e estragar tudo. Tudo!

Ele dá um murro no espelho fazendo com que ele se estilhaça de vez, sua mão agora está coberta de sangue e ainda não sinto nenhum sentimento de pena por ele.

Más bastou um pequeno som para todo meu corpo se colocar em alerta e meu coração querer sair pela boca.

- Angel.

Ao som da voz de minha mãe procuro por ela imediatamente pelo quarto, com toda está confusão acabei me esquecendo que não tinha a visto ainda.

A encontro deitada na cama e o que vejo drena todo o sangue de meu corpo,  seu rosto está pálido, suas mãos caídas quase sem vida ao seu lado e ao seu redor está cheio de frascos de remédios,  frascos esses vazios que descobro ao me aproximar.

-O que você fez mamãe?

Digo ajoelhada aos pés de sua cama, com os olhos turvos das lágrimas que agora derramam sem parar.

- Minha Angel....meu pequeno anjo, não chore amor, você está livre agora, voe, voe para bem longe e não olhe para traz.

Essas foram suas últimas palavras antes que seus olhos cor de oceanos se fechacem para sempre.

Livre... até hoje, depois de 3 anos de seu suicídio eu não entendo o que minha mãe queria me dizer com essas palavras, pois a única coisa que me sobrou foi uma eterna prisão.

Com sua morte o homem que se denomina meu pai me culpou todos os dias pelo seu suicídio , eu que antes revidava todas suas ofensas não tinha mais forças ou motivos para isso. Como me defender se no fundo eu também carregava dentro de mim essa culpa.

Talvez ele tivesse razão e ela não aguentava mais ouvir todas minhas reclamações,  planos de numa vida melhor,  fazer faculdade e se livrar de vez do traste que ele era.

Só talvez ele tivesse razão em alguma coisa, ela não tinha força o suficiente para abandona-lo, assim como não tinha força para tirar o meu sonho de uma vida melhor,  então fez a única coisa que ela poderia  fazer,  nós abandonou .

Deixou nos livres para seguir nossos caminhos, o que ela não sabia é que eu também não era forte o bastante  para deixá-lo .

Junto com ela foi meus desejos, vontades e sonhos. Me restou somente um pai bêbado, uma casa para cuidar e um enorme vazio.

Larguei a escola para poder trabalhar e colocar o de comer em casa, e consequentemente perdi minha bolsa de estudos, mais um sonho que me escapou pelos dedos.

Sem estudos ou qualquer experiência em algum trabalho as coisas começaram a se complicar, meu pai caiu em uma depressão profunda e cada vez mais se afundava no álcool. Sem dinheiro para o aluguel estávamos para ser despejados na sarjeta.

Então conheci Erick meu anjo negro da Guarda.

Foi ele que me tirou da lama, e ensinou me que quando uma mulher sabe usar seu corpo e encantos pode ter o mundo aos seus pés.

Ela era apenas um anjo inocente,

que ansiava em levantar seu próprio vôo . ..


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 03, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Diário do Pecado Onde histórias criam vida. Descubra agora