As velas ainda se encontravam acesas, embora fracas. O cheiro de chocolate ainda se encontrava bem presente no ambiente, mesmo depois da sobremesa já ter desaparecido. E a sua frente Loanne tinha um verdadeiro galã de novela, daqueles que ninguém poderia resistir, embora com um caráter péssimo, mas isso não lhe importava muito, ter um parceiro bonito e apresentável era mais importante que ter alguém que realmente a amasse.
Essa noite foi muito esperada, aos olhos de Anne estava sendo perfeita, lógico, ela estava sendo paparicada, algo que adora. A mulher de vestido decotado preto mexia nas azeitonas em seu drink esperando que seu futuro noivo, isso era o que ela imaginava, prosseguisse com o que tinha para dizer.
- Anne... Temos que terminar.
Nesse momento ela mergulhou profundamente em seu subconsciente e lá ficou, só quando acordou foi que percebeu que o galã que antes estava a sua frente havia sumido e sim, deixado a conta caríssima daquele restaurante cinco estrelas para ser paga sozinha.
Anne chegou em casa por volta da meia- noite, tirou seus sapatos incrivelmente bonitos e o mesmo tanto desconfortáveis, os jogando no canto da porta de entrada de seu apartamento exageradamente grande para apenas uma pessoa de coração partido, fazendo assim ela se sentir tão pequena quanto a migalha de pão que caíra sob o carpete coral da sala, resto do que havia comido mais cedo. Por mais que ela já tivesse ingerido o tanto de álcool exato que seu organismo poderia processar para que ela continuasse de certa forma sóbrea, não poderia deixar aquela garrafa de Bacardí Carta Blanca ali sozinha, pedindo para ser bebida, e foi o que Anne fez, bebeu até desmaiar no sofá de couro preto perto da lareira que agora só emitia fumaça.
Ela achou que o barulho extremamente desconfortável que estava a ouvir fosse seu despertador para o trabalho, mas se lembrou logo depois que ainda era sábado, então alcançou seu celular jogado no tapete felpudo branco ao lado da garrafa de Bacardi vazia certa de que era uma chamada de sua mãe, que a ligava todo sábado de manhã para a convidar para um almoço, mas na tela aparecia apenas "Número Desconhecido", pensou que poderia ser uma chamada de sua operadora de celular e decidiu ignorar até que parasse, o que levou um tempinho, a pessoa do outro lado era realmente insistente.
Anne se lembrou da pior sexta-feira que teve e decidiu que seria melhor voltar a dormir para não pensar muito nisso, mas a dor de cabeça pós-bebedeira, mais conhecida como ressaca, bateu de repente e foi impedida assim de prosseguir com seu plano, se levantou com dificuldade e cambaleando alcançou sua bolsa de mão onde tinha um frasco de aspirina, engolindo duas de uma vez. Seguiu para o banheiro, onde se despiu e se pôs em baixo do chuveiro, prosseguindo com um banho frio para a acordar, mesmo não tendo funcionado como o esperado. Seguiu para seu quarto enrolada numa toalha branca e vestiu algo confortável, passaria, de qualquer forma, o dia todo em casa.
Voltando para a sala, pegou seu celular em cima do sofá e viu uma notificação de mensagem do mesmo número desconhecido que havia ligado para ela mais cedo, decidiu ver do que se tratava e o que leu a deixou intrigada.
"Mayfair Park, perto do Playground às 13:00hrs. IMPORTANTE!"
Anne achou graça do provavelmente trote ou engano, então com esse pensamento seguiu sua vida normalmente, embora com uma dor de cabeça insuportável. O relógio marcava treze horas, embora soubesse que não deveria ser algo realmente importante, ainda sentia que deveria investigar, mas se distraiu com seu almoço que pediu para entrega do restaurante japonês da esquina e continuou com sua maratona de Dexter, que fazia pela quarta vez esse ano.
Ficou assim por poucos segundos até que ouviu alguém na sua porta, estranho já que o interfone não tocou e Anne não possuía amigos no prédio. "Talvez algum vizinho querendo pedir açúcar" foi o que pensou, então decidiu se levantar, deixando seu prato de sushi na mesinha de centro e foi atender a porta. Sem nem mesmo convidar o homem estranho vestido em um Slim Hugo Boss preto, ele entrou e começou a analisar a casa, esboçando um sorriso peculiar ao perceber a garrafa vazia de Bacardi sob o tapete.
- Bom gosto.
Disse por fim, quebrando o silêncio, já que Anne não havia conseguido o fazer pelo choque de ter um estranho em sua casa, não que isso jamais tenha acontecido antes de conhecer seu ex-namorado, que para o conhecimento de todos possui o nome de Josh.
- Está três minutos atrasada.
O jovem, bonito, isso não podemos negar, parado a olhando disse novamente com sua voz tão bonita quanto seu rosto e corpo escultural, o que dava para perceber mesmo em baixo de seu terno caro.
- Desculpa... Atrasada para...
Foi quando ela percebeu que a mensagem que havia recebido poderia ter sido enviada pelo rapaz o qual ela ainda não sabia o nome.
- O que você quer e quem é você?
- Ah... Que grosseria a minha, Agente Thompson, CIA.
Anne não conseguiu conter sua risada e por essa razão deixou a mão do rapaz no ar, sem responder a sua intenção de apertar a mão da senhorita. Parou de rir quando percebeu a seriedade no rosto alheio, ficando mais assustada do que intrigada.
- Tá bom... E o que a CIA iria querer comigo?
O agente Thompson percebeu a situação em que havia se metido, Anne não tinha conhecimento do trabalho de seus pais.
- Me Desculpe, acredito que seus pais não tenham a contado...
Loanne não deixou que o tal agente da CIA terminasse sua fala, a ficha não havia caído, até porque ela não estava acreditando no que ele queria dizer, precisou se sentar no sofá pois sentia que talvez fosse perder a cabeça.
- Isso não é possível.
E mesmo não acreditando, ou melhor, não querendo acreditar, ela achava que poderia ser verdade, isso realmente explicaria muita coisa, coisas que a afetam até hoje.
Alguns anos antes...
- Fala sério, como seus pais não vão aparecer na sua formatura?! - Mindy, a colega de quarto de Anne questionou indignada, enquanto tingia as unhas de um tom escuro de azul.
- Tá tudo bem, não é como se eles nunca tivessem perdido alguns aniversários... - A garota loira disse cabisbaixa, os óculos escorregando da ponta de seu nariz, a obrigando a empurrá-lo com o indicador. - Eles são ocupados. - Voltou a escrever no caderno.
- O que tá fazendo?.. - A garota de cabelos escuros e olhos puxados fez mais um questionamento. - Tá estudando?! - Ela bufou. - A formatura é amanhã, pra que você tá estudando?
- A formatura é amanhã, mas eu ainda tenho uma prova de admissão pra um escritório no centro... - Disse sem desviar os olhos do que estava fazendo, tentando manter a concentração enquanto fingia que a mensagem que recebera da mãe sobre não poderem comparecer a formatura não estava a matando por dentro. - Já sabe o que vai fazer depois da formatura?
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Como NÃO Ser Uma Espiã
AdventureUma mulher com a vida totalmente sem graça e voltada para seu trabalho leva um choque enorme quando descobre no que realmente seus pais trabalhavam. Agora Loanne vai ter que se tornar alguém que nunca imaginou ser, vai ter que aprender a lutar, espi...