Capítulo I

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Pietra não via a hora de poder tirar o sorriso falso do seu rosto, assim como desamarrar o espartilho que lhe prendia o busto e a cintura, descalçar o salto fino que tinha em seus pés e arrancar a tiara de seus cabelos negros. A princesa desejava respirar livremente, sem aquelas pressões sobre si.

O salão estava preenchido por pessoas da nobreza italiana. Era notável a falsidade estampada em todas as mulheres e homens que ali se encontravam. Apenas uma faixada como se dissesse: "Eu estou magnificamente bem", mas estavam completamente errados. Pietra não estava bem sendo princesa, como aquelas pessoas estariam bem? Comportavam-se como se em suas casas, lá em baixo, humilhadas pelo reino, não estivessem em condições deploráveis. Aqueles vestidos eram comprados com todo o dinheiro que seus maridos tinham e a única coisa que importava era parecer bem diante toda a realeza. Pietra sabia como as coisas funcionavam, e se não fosse obrigada pelo Rei, estaria com um de seus vestidos velhos e confortáveis, e de preferencia andaria descalça, com os cabelos soltos. Aliviaria a sua postura e não ficaria sem comer por uma semana para caber em um vestido que não usaria mais. Toda aquela elegância era a porta para uma vida mesquinha e inútil na qual Princesa Pietra desejava não viver.

—Seus ombros estão relaxados Pietra, arrume-os. —Rainha Francisca, sua madrasta avisou-a. A única coisa boa para a garota era que Francisca podia ficar séria na frente de todos e não ser mais cínica do que já era.
A princesa encarou o rosto já velho da mulher ao seu lado e lançou-lhe um sorriso sarcástico, deixando os seus ombros completamente relaxados, ficando desleixada. A Rainha olhou com os olhos cerrados para ela. —Arrume está postura, sua insolente. —rosnou enquanto olhava para o lado, percebendo olhares concentrados nas duas. Pietra era audaciosa e não tinha medo de Francisca, ela não podia fazer nada para afetá-la, e todas as suas reclamações ao Rei não eram ouvidas, já que esse adorava sua filha.

—Eu acho que você está se esquecendo de quem manda aqui. —Pietra respondeu afiada, voltando a sua postura correta, mas apenas para não decepcionar o pai. As suas atitudes tinham que ser controladas, e era melhor provocar a mulher quando estivessem a sós.

—Preciso te lembrar que eu sou a rainha aqui, Pietra. —Sua madrasta falou sorrindo, como se aquilo pudesse causar algum efeito na garota.
—Já está ficando velha, não é mesmo? —A Princesa pegou em uma mecha do cabelo loiro da mulher e brincou com a mesma entre os dedos. Aproximou o seu rosto um tanto considerável e sorriu igualmente. —Logo, logo sairá desse trono, que nunca foi seu, Vossa Majestade. —Algo que Pietra nunca teve medo era ter medo de sua madrasta. Ela nunca conseguia por o Rei contra a Princesa, e isso era o que ela sempre tentou fazer.

Assim que avistou seu irmão, Pietra foi na direção do mesmo, com seus passos cautelosos e elegantes. Ela via nos olhos de seu irmão o quanto ele também estava incomodado com tudo aquilo. Apesar dos dois terem sido educados de uma forma diferente, já que Francisca era a mãe dele, e não madrasta. A bruxa, como Pietra gostava de nomear em sua cabeça, conseguiu enfiar um pouco de egoísmo e ambição na cabeça de Enrico.

Pietra ficava incomodada quando via que mesmo sendo tão falsa, Francisca conseguia ter carinho com seu irmão, ela o adorava. Isso era um pouco confuso pois a garota nunca teve a presença materna em sua vida. Quem cuidou dela eram algumas servas, até os seus cinco anos, quando a sua madrasta  passou a cuidar. A Princesa não sabia nada de sua mãe, mas mesmo assim acreditava totalmente quando o seu pai contava o quanto ela era bonita e doce.

A nova vida que levava, tratando o seu pai como uma pessoa desconhecida amargurava o seu ser. Era difícil não poder abraçá-lo como na época em que era pequena, pois agora tinha que fingir não ter emoção. Pietra não se conformava que o Rei, aquele que mandava em todos, tinha que se mostrar tão inferior a sociedade. Se ele era o Rei, todos o temeriam, não precisava fazer com que o amor por seus filhos fossem ocultos.

Uma infância baseada em ler livros sobre leis e etiquetas que não lhe servia mais. Os jardins do palácio já não tinham as cores de antes, pois Pietra, depois que Francisca apareceu, não pode mais se comportar como uma criança normal.

—Como você aguenta essas garotas em cima? - a Princesa perguntou sorrindo, como se estivessem em uma conversa alegre. Algo que ela não forçava era a falsa simpatia que Francisca jorrava de si.

—Isto é insuportável. –Comentou o irmão, arrumando o seu cabelo.

—Já viu sua nova candidata? –Perguntou ela, apontando discretamente com a cabeça para a filha do conde grão-Duque Cortolezo, que estava do outro lado do salão com o seu grande vestido amarelo chamativo, que triplicava o seu tamanho. A garota conversava com Francisca, o que era totalmente óbvio a falsidade que partilhava.

—Mamãe não me obrigaria a casar com ela. –Enrico disse, mas ele sabia o que a Rainha era capaz de fazer.–É claro que grão-Duque Cortolezo quer a mão de sua filha comprometida com o futuro Rei da Itália. –disse desanimado.

—Futuro príncipe, meu irmão. Você sabe como o Rei quer seguir o reinado. –comentou a Princesa com desgosto. O seu pai ultimamente tornou-se alguém controlador, e quem recebia todo o rancor era os filhos. —Você viu a filha do Conde Portolazoli? És uma bela dama. –Pietra e Enrico direcionaram o olhar para a garota que visivelmente estava desconfortável em seu belo vestido rosa claro que cabia bem em seu busto, deixando-a totalmente elegante.

—Francisca nunca deixaria eu casar-me com a filha do Conde. –Enrico disse sem tirar os olhos da garota. –Irei ter que engolir Andréia. –Voltou seu olhar para a irmã.

—Em qual sentindo? –Perguntou um tanto desconfiada.

—Ora, comporte-se como uma princesa, irmã. Logo mais tu serás a rainha da Itália.–riu-se os dois. –Sentarás naquele trono. –Murmurou Enrico, enquanto os dois direcionaram o olhar para o trono, onde o Rei Domenico estava sentado. O mesmo tinha o olhar posto em seus dois filhos, e com a mão fez um pequeno chamado para os dois se encaminharem até ele. Puseram a andar juntos até o Rei, que mantinha o semblante sério.

—Algum problema Majestade? –Pietra perguntou. Na sua voz era possível ver a ironia que carregava, ainda mais quando dirigia-se ao seu pai. Por mais que as provocações dela eram frequentes, o Rei passara a lidar com a rebeldia da filha.

—Iremos encerrar a noite. –Falou firme. –Apenas porta-se como uma verdadeira princesa, Pietra. 

—Sim majestade. –A Princesa sorriu minimamente para o seu pai e parou ao lado do trono, mantendo a sua postura totalmente alinhada, enquanto ouvia o Rei preparar-se para dar mais um de seus discursos inúteis, e por fim finalizar a noite, como eles sempre fazia quando oferecia os bailes no salão do palácio.

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⏰ Última atualização: Jan 09, 2017 ⏰

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