Vinte anos atrás, na cidade de Verona ao norte da Itália, uma menina de cabelos loiro e pele rosada escrevia uma cartinha de natal, exatamente ás duas horas da tarde, enquanto a mãe preparava a ceia e o pai enfeitava a casa do lado de fora.
Alice veio correndo de seu quarto com o envelope em mãos, subiu na poltrona ao lado da gigante árvore de natal, que havia ajudado a colorir, pendurou-se apoiando as mãos na parede de tijolinhos da lareira e enfiou a carta numa das meias aveludadas que estavam penduradas.
A menina abriu um sorriso triunfante enquanto observava a meia, virou-se e correu para a cozinha ainda sorrindo. Tullia admirava o sorriso da filha, mesmo faltando um dentinho, ele iluminava o dia da mãe coruja, e era visível nos olhos da pequena o quão importante tinha se tornado aquela data para ela.
A família Chiarelli amava natais. Decorar a casa, enfeitar árvores, trocar presentes e comer era uma tradição antiga da família. Todo ano, Alice esperava o momento de montar a árvore com seus pais. Era algo mágico.
Ás nove horas da noite, naquele mesmo dia, a casa dos Chiarelli já estava cheia. Tios, primos, avós, todos eles reunidos. Alice se divertia correndo de um lado a outro com suas primas Giulia e Gianna, as gêmeas que roubavam suas bonecas. Tullia montou a grande mesa de jantar e todos estavam se acomodando, riam e demonstravam plena alegria em seus semblantes. A menina olhava a todos, como se num momento tudo ficasse em câmera lenta, ela sabia o quanto aquilo era importante para eles, porque certamente, era para ela.
Cearam contentes, e não demoraram para trocarem os presentes. Alice havia tirado seu pai, era a primeira vez que pegava um deles, e sua mãe a ajudou comprando um lindo relógio com a pulseira de couro marrom e belos detalhes em dourado. A menina estava ansiosa para presentear o pai, segurava uma mecha do cabelo dourado e enrolava no dedo enquanto dava pulinhos esperando sua vez chegar.
Alice não imaginava o que o natal preparava para ela. Um presente com um longo prazo de espera estava por vir, e mal passava na sua cabeça recheada de fantasia que esse embrulho faria mais sentido que todos os brinquedos que havia recebido na vida.
Finalmente, havia chegado a vez dela. Correu até a árvore e com todo seu cuidado, pegou o pequeno embrulho embaixo da árvore, encaixou bem no centro de suas mãozinhas e sorriu olhando primeiro para sua mãe. A caixinha preta com o laço dourado era tão linda, que de vez em quando Alice ficava vermelha e olhava para ela por alguns minutos. Estava com vergonha dos olhares curiosos em cima dela, afinal, era a primeira vez que participava da troca de presentes, normalmente ficava ali só para ganha-los mesmo.
Rapidamente descreveu seu amigo secreto sendo "carinhoso, gentil, muito engraçado e absurdamente guloso". Havia aprendido a falar essa palavra pela manhã, quando sua vizinha brigava com a filha mais velha pelo horário que estava chegando em casa. Finalizou seu pequeno discurso com a declaração mais sincera que se poderia esperar da pequena, "E eu o amo demais, papai".
Aquele foi um dos melhores natais dos Chiarelli, e a menina mal podia esperar para que seu querido Papai Noel lhe trouxesse o que pediu na carta. Estava esperançosa e continuou com essa mesma esperança por mais quatro anos seguidos, participava de tudo, mas seu ânimo não era o mesmo. Tudo que brilhava em seu coração, toda magia, toda fantasia de natal virou pó, porque sem que ela soubesse, o Papai Noel não recebeu a sua carta.Doce Dezembro
"A esperança de um natal quase perdido"
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Dezembro (CONCLUÍDO)
Short StoryEste conto começa com uma carta, que por descuido de algum duende novato na equipe do Papai Noel, se perdeu. "Querido Papai Noel, Você se lembra de mim, não é? A menina que manda cartas escritas pela mamãe. Essa é minha primeira cartinha, com a min...