Não quis dizer literalmente

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        Fico observando ela conversar com nossos familiares e sinto uma grande quantidade de inveja. Sentimento com o qual, infelizmente, estou familiarizada, afinal em todos os lugares que ela está, ele me acomete.

        Minha irmã rouba toda a atenção para ela, em todos os momentos e lugares em que aparece e, simplesmente, não entendo o porquê. Nós duas somos gêmeas idênticas, então porque todos parecem amar mais a ela do que a mim? Minha mãe sorri mais em sua presença; meu pai sempre permanece com um braço em volta do seu ombro; minhas tias sempre trazem os melhores presentes para ela e ela é a que recebe com mais constância um 'eu te amo'. Além de ser a mais popular no colégio e namorar com o menino mais bonito de lá. Por que eu não posso ser a mais amada? A que recebe o melhor presente ou a que é popular?

        — Vou me deitar — informo a todos, esperando ao menos receber um 'Boa noite', porém todos estão ocupados demais escutando as façanhas da minha irmã na manhã de hoje em sua aula de literatura.

        Reviro meus olhos com raiva e ando até o quarto que divido com a pessoa a qual estou furiosa, batendo a porta assim que a ultrapasso.

        Me dispo das roupas com as quais estava vestida, coloco meu pijama e me deito na cama, fitando o teto acima da minha cabeça, enquanto lágrimas de tristeza caiem dos meus olhos. Eu pareço ser invisível à todos, porque eles nem ao menos falam comigo quando minha irmã está presente. Será que eu sou uma pessoa tão insignificante assim?  Nem ao menos mereço um beijo de boa noite ou um eu te amo dos meus pais?

        Deito de barriga para baixo na cama, apoio minha cabeça em meu braço dobrado e fecho meus olhos, tentando dormir.

        — Eu também te amo Brad. Não, eu te amo mais. Beijo amor — abro meus olhos ao ouvir sua voz sussurrante no quarto e me viro para olhá–la com raiva.

        — Será que pode falar mais baixo com o seu namorado? Ou eu nem mesmo posso dormir em paz? — questiono com aspereza e ela me olha, com o que parece ser surpresa no olhar.

        — Lola, eu estava sussurrando — diz, como se eu não tivesse percebido.

        — Eu sei Lucinda, mas o seu sussurro me acordou, então tente falar mais baixo do que um sussurro — rebato e ela levanta uma das sobrancelhas, com descrença.

        — Tudo bem — levanta ambas as mãos como se estivesse se rendendo e eu volto meu olhar para a parede.

        — O que está havendo com você? — sua voz chega até mim minutos depois, com uma suavidade que aumenta minha fúria. — O que aconteceu Lola? — ouço ela se aproximar e segundos depois sinto sua mão acariciando meus cabelos.

        — Você aconteceu! — Meu grito é  alto e estridente e eu me viro com rapidez, observando–a dar um pequeno pulo assustado.

        — O que está havendo? — repete a pergunta e parece apreensiva. — Qual é o problema?

        — Você é o problema — me levanto da cama, jogando os cobertores no chão.

        — O quê? — dá um passo para trás, como se tivesse sido atingida fortemente pelo que eu disse.

        — Será que você não poderia deixar que eles me amassem um pouco também? Que alguém me amasse? — me aproximo do seu corpo e grito no seu rosto. — É realmente necessário a você roubar toda a atenção de todas as pessoas, em todos os momentos e não deixar que ninguém me veja, fale comigo ou me ame? — questiono com os olhos ficando marejados e esfrego meus punhos sobre o rosto com força.

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