Por Lucas Gonçalves
De cara já aviso que não há formas de falar desse assunto sem passar por diversas questões políticas importantes na história do Brasil e dos Estados Unidos. Afinal, esse texto faz uma reflexão sobre as lutas de classes desses diferentes países.
É certo que o número de Afro-empreendedores no país cresceu muito nos últimos anos, principalmente depois da criação do Micro Empreendedor Individual (MEI), que permite o rapaz do "carrinho de cachorro quente" se cadastrar, pagar uma taxa/mês e ganhar a carteirinha de empreendedor. Com isso, já somos cerca de 50% de empreendedores no país, sendo o restante 49% branco se 1% outros, segundo pesquisa feita pelo Sebrae.
Mas esses dados podem ser vistos de outras formas quando se percebe que dentro desses grupos há outros pontos a serem questionados. Existem dois tipos de empreendedores, aqueles que são por conta própria e os empregadores. Cerca de 91% dos empreendedores negros são por conta própria, e apenas 9% são empregadores. Já os empreendedores brancos, cerca de 78% são por conta própria e 22% são empregadores, segundo pesquisa feita pelo Sebrae.
Este é o motivo pelo qual surge a dúvida se esse aumento dos empreendedores negros no país é uma vitória desse grupo. Depois da abolição da escravidão no país, os negros precisavam sobreviver de alguma forma, muitos se submeteram, e ainda se submetem, à marginalidade, ao sub-emprego, e outros ao empreendedorismo. Como atividades empreendedores, podemos citar: o vendedor de cachorro quente, a moça que fica o dia todo vendendo bala no ponto de táxi e afins.
E então, incito o questionamento: foi criado apenas um termo para as atividades comerciais a que os negros foram obrigados a se submeter após a abolição, ou de fato houve alguma mudança na condição desses negros no país? Ainda vamos falar disso.
Ressalto que não encontrei nas pesquisas a identificação da classe em que os empreendedores brancos estão inseridos. Mas, de qualquer modo, acredito que existam, dentro desse grupo, alguns brancos pobres. Portanto, nesse caso, eles também fazem parte do grupo dos oprimidos. Sendo assim, é importante repensar sobre o termo Afro-empreendedorismo. Há maiores possibilidades se for pensado em um tipo de "Pobre-empreendedorismo", abrirá um leque maior de perfis de empreendimentos feitos por pessoas socialmente e historicamente excluídas.
Para entender melhor o processo de desenvolvimento de grupos excluídos no Brasil, vamos fazer algumas comparações entre o país do futebol e do basquete.
Agrande diferença na luta dos afro-americanos e a dos afro-brasileiros é exatamente o reconhecimento do racismo, no Brasil ele é abafado de diversas maneiras. Outro fator considerável é a separação do povo pela classe social, e não apenas pela cor da pele.
O colonizador do Brasil, ao "descobrir" o país, buscou explorá-lo e extrair as riquezas, levar para o seu país de origem, sem deixar muita coisa para os que ficaram. No Brasil criou-se uma elite europeia naquele período. E depois foi cada vez maior o número de colonizadores europeus no país em busca de uma vida melhor. Mesmo depois da abolição, os negros ainda viviam em desvantagem no país. Mas ainda assim, ocorreu um processo muito forte de miscigenação dos povos, de diversas maneiras, do amor ao ódio.
Enquanto isso, nos Estados Unidos a história de colonização foi diferente do Brasil. Nos EUA, o seu colonizador decidiu ficar. Sendo assim, criou-se uma elite muito forte e o racismo escancarado foi apoiado pelo Estado, mesmo depois da "abolição da escravidão" em 1865 (23 anos antes da nossa). Desde então, houve a segregação da população, (foram separados pela cor da pele). Os afro-americanos reconheciam a pressão que sofriam, e com isso, lutaram bravamente pela inserção dos negros na sociedade. Hoje, os negros dos EUA são cerca de 12% da população geral, (sendo 15% a 20% a elite negra). Os outros, em sua maioria, se encontram nas periferias, nas prisões (70% dos carcerários são negros), e em outros lugares do país. Mesmo assim, os negros dos Estados Unidos dominaram de tal forma, que a maioria da cultura consumida pelo mundo todo são de negros norte-americanos.
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Empreendedorismo do Oprimido no Brasil
Historical FictionDe cara já aviso que não há formas de falar desse assunto sem passar por diversas questões políticas importantes na história do Brasil e dos Estados Unidos. Afinal, esse texto faz uma reflexão sobre as lutas de classes desses diferentes países.