A importância do Empreendedorismo Social para a Socialização do Indivíduo

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Uma Ferramenta Para  a Manutenção da Sociedade-

Por Lucas Gonçalves

Conversando com as minhas irmãs hoje, percebi algumas coisas que são importantes para formação de um indivíduo. Uma é formada em Administração, e a outra está prestes a ser pós-graduada em Direito. E, ambas discutindo, chegaram à conclusão de que deve existir um espaço de formação diferenciado ao que estamos acostumados, exatamente um lugar que trabalhe e estimule os Direitos Humanos, pois foram nessas oficinas e projetos sociais que ambas começaram a perceber novas possibilidades, que se viram em lugares onde nunca imaginariam estar. Além disso, perceberam que referência é de grande importância. Por isso, é necessária a formação de negros e pobres. E é exatamente sobre isso que vamos tratar aqui.

RETROSPECTIVIDA

Aos 11 anos, eu, menino favelado, iniciei a carreira de atleta em um dos clubes mais elitistas da capital mineira. Sem conhecimento necessário para entender o quanto a minha presença era importante naquele lugar, e também como a presença daquele lugar e de algumas pessoas, principalmente do meu treinador, eram importantes na minha vida. Minha transformação humana começou ali.

A socialização do indivíduo começa quando o mesmo é colocado em outro mundo, principalmente quando esse novo universo o valoriza e não lhe causa nenhuma dor. Bem, como tudo tem um fim, aos 17 anos eu pendurei a chuteira, ou melhor, o tênis de basquete. Dei início ao teatro. Pronto, como já pode imaginar, foi através do fazer teatral que comecei a entender e perceber coisas desse louco mundão. (Nossa, minha retroSpectiva ficou tão pequena)

PRIMEIRAS DORES. ALIÁS, PRIMEIRAS TRANSFORMAÇÕES

Questionar dói, de fato, mas passa. Ainda bem.  Depois do primeiro amor no teatro, começaram os pequenos conflitos. A começar por me reconhecer negro. Pasmem! Eu me reconheci afro-brasileiro com 18 anos. Africanizar o coração é maravilhoso, uma das melhores decisões tomadas na minha vida. Mas não tão fácil em um país racista.

Depois vieram conflitos resultantes de questionamentos à religião cristã. No início eu não queria aceitar a diversidade do mundo. Eu tinha certeza de que estava naquele lugar exatamente para converter e ganhar almas pra Deus. Mas a alegria, a honestidade, a bondade, a solidariedade, o amor daquelas pessoas me incomodaram tanto, que me fez (re)pensar no que eu acreditava, e mais, me fez perceber como as minhas palavras feriam, e que não havia nada de errado, que o espírito do amor já havia se habitado na vida daquelas pessoas, e ao contrário do que eu imaginava, eu que fui lá pra ser convertido.

E não parou por aí, depois vieram outros e mais outros questionamentos que me tiraram do eixo, e até hoje me sinto fora. Jamais quero voltar! Saí da zona de conforto, comecei a rever conceitos, perdi alguns amigos, ganhei irmãos, e são por esses que eu prezo e luto.

MULTIPLICAÇÃO

Depois de várias experiências nas artes e no esporte, principalmente no teatro e no basquete, pude perceber o quanto eles são importantes para a socialização. Decidi compartilhar o que eu aprendi, e mais, tentar transformar pessoas e espaços através da aplicação artística. Fazer com os outros o que fizeram comigo. Meu intuito era que meninos e meninas tivessem uma vivência com o fazer teatral e, através dessa experiência, criar juntamente com eles um espaço sócio cultural dentro da escola/bairro, assim, eu conseguiria trabalhar pontos que considero importantes para a formação de qualquer pessoa. Minha intenção era formar cidadãos através da Educação em Direitos Humanos de forma lúdica e realista, pegando a realidade dos próprios jovens e desenvolver oficinas pedagógicas que os fariam refletir sobre seu lugar na sociedade.

É tentar dar acesso à cultura, é criar um espaço de convívio cultural e artístico. Isso é um direito que todo o povo deveria ter. Não é em toda região periférica da grande capital que há verba governamental, os investimentos que chegam aqui não são o suficiente e nunca serão. Uma das minhas primeiras percepções pós acesso à arte foi ver que, quando subimos ao morro, vemos vários panfletos, cartazes e divulgações diversas de politicagem. Quando eu desço, eu vejo teatros, casas de show e espaços culturais diversos. Temos aqui a política promessa e muita sujeira, porque essas propagandas partidárias são uma verdadeira poluição visual.

Bom, a ideia no papel é só mais uma ideia, precisava sair dele e ir para a prática. Mas, como a gente foi educado para esperar o fim do ensino médio, depois esperar formar na faculdade, pra depois arrumar um emprego e aí pensar no que pode fazer para contribuir com o outro, eu fiquei com medo e achei melhor esperar. Até ser instigado por um professor e a escutar a música do Leoni "As coisas não caem do céu", foi aí que eu tomei a decisão de agir. Comecei oferecendo oficina de teatro, totalmente gratuita, na escola onde me formei. Qualquer preço é excludente - e eu queria que todos participassem, sem exceções. Fiz um projeto bem simples e consegui o espaço.

PERCEBENDO O EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Também fiz um curso técnico de administração, foi onde eu percebi que eu era empreendedor social. E mais, reforcei a ideia de como participar de programas sociais vem sendo essencial para a minha formação cidadã. Eu não olhava a minha ação como algo empreendedor, apenas queria contribuir para melhorar alguma coisa. Mas também busquei o curso para aprender a administrar a minha vida profissional, e de brinde veio os aprendizados do empreendimento social, que não estão distante das empresas que visam lucro, pois, a minha também visa, porém são outros valores.

CARIDADE X SOLIDARIEDADE

Caridade

(lat caritate: Amor de Deus e do próximo. Benevolência, bom coração, compaixão. Beneficência, esmola.) é um termo derivante do latim caritas (afeto, amor), que tem origem no vocábulo grego chàris (graça). Fonte: Caridade – Wikipédia, a enciclopédia livre

Solidariedade 

caráter, condição ou estado de solidário.

compromisso pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas.

estado ou condição de duas ou mais pessoas que dividem igualmente entre si as responsabilidades de uma ação ou de uma empresa ou negócio, respondendo todas por uma e cada uma por todas; interdependência.

identidade de sentimentos, de ideias, de doutrinas. Fonte: Solidariedade - Google

Muito se ouve dizer em caridade, mas poucos pensam no origem dessa palavra e muito menos no moralismo que está impregnado nela. Hoje, esta simples expressão virou motivo de engrandecimento pessoal, você dizer na roda dos amigos que praticou a caridade é o mesmo que dizer "olha como sou uma pessoa boa, ajudei um pobre". E isso não está nem perto do que é empreendedorismo social.

A solidariedade se aproxima do que eu chamo de negócio social, é você reconhecer no outro as diversas competências existentes e que não estão sendo praticadas por vários motivos, é um investimento no indivíduo como ser humano. Não existe sentimento de dó no empreendedorismo social, você não está dando ou doando algo, é uma troca, é uma potencialização de ideias, é uma rede de multiplicadores que se constrói, é a transformação de vários indivíduos em apenas uma única pessoa. 

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⏰ Última atualização: Dec 20, 2016 ⏰

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