2 | Pity Party

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Eu já estava com oito anos, minha mãe já tinha me explicado algumas coisas sobre seu casamento com meu pai, ela falava que os dois não tinham mais química e que a relação estava desgastada.

Minha mãe sentiu que havia algo errado e acabou descobrindo que meu pai traía ela com uma secretária da empresa, e não fazia pouco tempo, os dois já estavam envolvidos antes mesmo de eu nascer.

Era a mesma coisa todas as noites, meu pai chegava tarde e dava as mesmas desculpas. Minha mãe já sabia de tudo mas estava aguentando calada, teve um dia que ela não aguentou mais e quando papai chegou do trabalho ela explodiu, ficou louca, histérica e quebrou tudo.

Do meu quarto eu podia ouvir os gritos:

"Robert, você não tira um dia sequer para estar com suas filhas! – Ela dizia furiosa aos gritos. – Sabe quanto tempo faz que você nem dá um beijo de boa noite nelas?" - Mesmo sem ver seu rosto eu podia sentir que ela estava com o rosto todo lambuzado de lágrimas.

Saí do meu quarto indo em direção à escada, fiquei escondida atrás da parede só para ouvir o que papai iria falar. Nada, papai não falou nada.

"Claro que você não sabe, Robert. Aposto que você não sabe nem a idade das suas filhas mais." – Mamãe disse fria.

"Que absurdo, Catheryn, claro que eu sei a idade das minhas filhas, Carmen tem sete anos e Veronica tem seis." – Falou ele certo de que essa era a minha idade. Eu senti vontade de chorar, eu já tinha oito e Veronica sete. O meu próprio pai não sabia minha idade.

"Veronica tem sete. Carmen fez oito anos semana passada e você nem se lembrou. Eu tive que fazer tudo sozinha, comprei um bolo e chamei os amiguinhos da escola dela. Eu sinceramente achei que você iria se lembrar e aparecer para desejar parabéns a sua filha, mas você está tão ocupado transando com aquela mexicana vagabunda que nem está vendo o tempo passar." – Mamãe cuspiu as palavras.

Segurei o choro com toda a força que tinha em meus pulmões, para não soluçar, mas minha dor era muito grande. Eu me ajoelhei e chorei como a criança que era, eu deixei a dor se esvair do meu coração, então solucei alto e eu sabia que mamãe ou papai iriam ouvir.

"Veja o que você fez, sua idiota!" - Papai gritou com mamãe. Corri de volta para o meu quarto e fechei a porta fazendo um grande barulho.

Eu sentei na cama e ouvi os passos pesados de papai subirem a escada. Ele abriu a porta do meu quarto e eu escondi meu rosto com as mãos para que papai não visse minhas lágrimas. Ele se sentou do meu lado ligou a luz do meu abajur e me abraçou, consolando-me.

"Carmen, me diga o que você pediu na hora de soprar as velinhas, eu dou o que você quiser, meu amor." – Papai disse. Por que ele sempre achava que podia me comprar com presentes? eu não queria só presentes.

"Máquinas do tempo funcionam?" – Perguntei.

"Máquinas do tempo não existem, Carmen." – Ele falou.

"Que pena, papai. Se existissem você podia me dar uma de presente, aí eu poderia lhe emprestar para você realizar o meu desejo." – Disse.

"Carmen, responda a minha pergunta. Qual foi o seu pedido? Estou tentando me redimir com você." – Ele disse triste.

"Você não pode se redimir, papai, porque quando eu fechei os olhos para soprar as velas, eu desejei que você surgisse ali para estar ao meu lado me abraçando e comemorando comigo minha oitava primavera, mas quando eu abri os olhos, você não estava lá." – Falei e uma lágrima solitária escorreu pela minha bochecha. Papai se calou, viu que não podia fazer nada, ele abaixou a cabeça e chorou.

"Carmen, por favor, me perdoe." – Ele disse.

"Eu não tenho porque te perdoar, papai, porque eu não estou com raiva de você, estou magoada, mas mesmo que você não se importe mais comigo, com Ronnie e com a mamãe, eu não consigo ter raiva de você." – Disse.

"Filha, eu amo tanto você e Ronnie, eu me importo com vocês filha, mas eu estou muito ocupado ultimamente, por favor, filha, tente me intender." – Ele disse.

"Eu entendo, papai, você não gosta mais da mamãe, não é?" – Perguntei.

"Filha, o amor não dura para sempre, você é muito pequena, não intende como uma relacionamento é cansativo. Talvez um dia você entenda. Até amanhã, filha, eu amo você. Boa noite." – Disse me dando um beijo na testa e desligando a luz do meu abajur. Ele foi até a cama de Ronnie e deu um beijo em sua testa, sussurrou um ‘eu te amo’ e saiu fechando a porta.

Eu desejei nunca mais ter uma festa de dar pena, eu chorei muito até cair no sono, e tive aqueles malditos pesadelos outra vez.

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⏰ Última atualização: Jan 23, 2018 ⏰

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