Estava mais uma vez olhando pela janela durante o inverno, os flocos de neve caiam parecendo estar em câmera lenta. Apesar desse velho casarão ter vários buracos no telhado em vários cômodos, eu não sentia frio. Apenas meu casaco e calça me isolava da baixa temperatura.
Apesar de ter acontecido apenas à alguns dias, eu já estava completamente recuperado do acidente que ocorreu enquanto fugia de casa. Meus pais sempre estavam discutindo e a principal decoração de minha casa era na verdade garrafas de whisky vazias que jaziam em todo canto. Os dois são alcoólatras que só permanecem juntos na mesma casa por falta de ter onde ir. Eu estava cansado de todos os dias escutar a quebradeira e de várias vezes ter que dormir em hospitais por que um dos dois quase entrou em coma alcoólico. Tudo aquilo me sufocava, peguei tudo que tinha, coloquei em uma mochila e deixei a casa durante a madrugada. Meu objetivo era apenas fugir, e durante minha fuga quando estava andando nas margens de uma alto estrada, um carro perdeu o controle e me atropelou.
Sofri alguns hematomas que me deixaram dolorido. Eu apaguei. Acordei sentindo alguém próximo, uma pessoa de preto se aproximava de mim então eu corri. Corri o máximo que pude chegando até o casarão abandonado o qual estou agora, faz menos de uma semana mas tudo tem corrido bem até agora.
Algo se mexe do lado de fora da casa. Meus olhos atentos procuram e finalmente acham, próximo às roseiras que faziam parte do antigo jardim da casa, uma garota. Ela veste sobretudo e toca cinza, botas pretas e um cachecol azul, parece bem pequena vista daqui , e talvez realmente seja.
Seu olhar desvia das lindas rosas vermelhas e param na janela a qual me encontro. Ela sorri, acena e corre para dentro da pequena floresta que cerca o local e só. Eu a esqueceria rapidamente , mas a sua volta no dia seguinte não me permitiu. Estava com a mesma roupa tirando apenas, a toca agora revelando seus longos cabelos negros que entra em contraste com a brancura da neve. Como antes , ela observou as rosas às tocando, depois de um sorriso e um aceno ela se foi novamente.
A mesma cena se repetiu da mesma forma por semanas até que um dia ela fez algo diferente. Ela chegou se ajoelhando próxima as rosas e fez uma grande bola de neve, logo fez outra e outra depois às empilhando formando um boneco de neve. Ela retirou dos bolsos alguns gravetos e uma cenoura, depois de arrumar tudo onde deveria ficar ela colocou sua própria touca no boneco, acenou e foi embora. Assim que ela se foi, eu desci. Peguei algumas rosas as amarrei com o que pude fazendo um pequeno buque, o coloquei encaixado entre o boneco e seu braço de madeira como se ele o segurasse .
No dia seguinte quando ela viu o que fiz deu risada e olhou para a janela parecendo mais feliz. Fazendo o mesmo de sempre ela se foi. No dia seguinte reuni toda neve que encontrei dentro da casa e coloquei ao meu lado a esperando com a janela aberta, assim que ela chegou fiz uma modesta bola de neve e acertei em seu pé. Sua surpresa e susto foi divertido de assistir, então enquanto eu ria dela a mesma vez uma bola de neve também e a lançou acertando meu rosto em cheio. Agora foi sua vez de rir.
Assim começamos nossa pequena guerra sem vencedor. Quando minha neve acabou sai da janela , e respirando fundo fui ao encontro da garota que prendia meus pensamentos em si.
Começamos novamente nossa guerra até nos cansamos deitando na neve fria. Ela me contou que mora em um chalé próximo daqui , pouco depois da pequena floresta que rodeia o casarão, seu nome é Vivianne, ela só é dois anos mais nova do que eu, ela tem quatorze anos. Nossa conversa foi longa e eu contei um pouco da minha deprimente vida antes de fugir, ela se surpreendeu quando lhe contei que morava sozinho. Começou a ficar tarde então ela sorriu, disse adeus e acenou indo embora.
Ela continuou voltando todos os dias. Quando o inverno estava próximo do fim ela me convidou para ir em sua casa, sempre estava preocupada com o fato de eu estar sempre sozinho, então eu aceitei.
No dia seguinte ao convite, ela veio novamente e me levou com ela dessa vez, estava perto do por do sol quando chegamos ao modesto chalé do qual saia fumaça da chaminé. De longe as janelas brilhavam com a luminosidade trêmula das velas, já próximos da porta de entrada sentia o cheiro marcante de algo que estava assando no forno, tudo parecia tão simples e ao mesmo tempo aconchegante. Assim que passamos pela porta de entrada da casa estávamos de frente para a lareira com a chama árdua e estofados que provavelmente seriam sofás, a direita passando por um portal sem porta, estava uma cozinha com móveis rústicos e um fogão simples , nele uma mulher parecida com Vivianne cozinhava e a mesa estava sentado um homem mais velho e com a barba por fazer. Assim que nos viram na entrada da cozinha sorriram e cumprimentam a filha me ignorando completamente, ela me olha e depois volta a olha-los , ela também não tinha entendido.
-Mãe? Pai? Por que não disseram olá ao meu amigo?
A senhora para e olha para mim- Que amigo Anne? Não há ninguém aí!
Uma mão toca meu ombro, quando me viro, era a mesma figura de preto do dia do acidente, uma mulher, descalça, apesar de ter a aparência juvenil tinha os cabelos longos e brancos, a pele pálida, os olhos pretos e os lábios carnudos e rosados, a mesma usa uma longa capa preta que á cobre ate próximo aos pés. Ela dá um sorriso e por minha feição deve perceber minha confusão.
- Está na hora de ir.
- Ir para onde? Eu não entendo, quero ficar aqui, com Anne.
Ela da um pequeno aceno com a cabeça em direção ao casal confuso que não nos vê, então finalmente entendo. Eu nunca fui feliz em vida, então pude viver um momento feliz antes da morte me levar, Anne e o inverno foram os momentos mais felizes de minha vida. Agora tudo faz sentido, eu não sentia frio , não sentia fome mas não me importava com isso.
Anne olha para mim e parece não enxergar o anjo da morte ao meu lado, parece confusa, apenas dou um sorriso de lado e retiro do bolso algo que lhe daria depois, uma rosa do jardim da velha casa. Ela o pega e me abraça.
Com lágrimas nos olhos digo a frase mais difícil- Adeus Vivianne.