Prólogo, parte 1 - Onde uma história começa?

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Será que em algum lugar do universo ao invés de decidir cursar direito, eu fui corajosa o suficiente para escolher jornalismo? Será que eu seria mais feliz como jornalista? E se eu tivesse seguido o meu coração? A razão tem mesmo que ganhar todas as discussões?

A verdade é que a vida é cheia de "e se's". Ainda no jardim da infância, somos obrigados a tomar as primeiras decisões. Começa por um "Qual presente você quer de natal?", até que vai complicando e chega ao fatídico dia em que somos obrigados a escolher um amigo, uma profissão, um amor...e de uma hora para outra nos deparamos com a "decisão mais difícil das nossas vidas". O que não conseguimos entender é que ao longo da existência humana vamos nos deparar com ela umas mil vezes. Tem sempre uma "decisão mais importante da vida" a ser tomada. Até que venha a próxima e consecutivamente, a depois da próxima.

A parte mais deprimente de estar vivo e ser um ser pensante é a tão clichê fase do "e se". E se eu tivesse pedido de natal uma bola ao invés de um livro? Eu teria me tornado jogadora de futebol? E se eu tivesse estudado para a prova de matemática que me colocou de recuperação na oitava série? Eu teria tido a chance de viajar para visitar meus avós antes do vovô falecer? E se eu nunca tivesse respondido ao "oi" do Caique? E se eu nunca tivesse conhecido o Luan? E se eu tivesse impedido a Tânia de sair sozinha na noite em que o acidente aconteceu?
E se...
E se...
E se...

As pessoas não se cansam de lamentar pelo leite derramado. Eu, não canso. Faz parte de um mecanismo totalmente idiota implantado no ser humano. Já pensou como seria incrível poder experimentar todos os lados de uma possível escolha e só então escolher? Eu também. Mas sem o elemento surpresa, qual seria a graça de viver?
Está enganado se acha que a minha vida é tão interessante a ponto de se transformar em livro. Na verdade, você dormiria se eu te contasse como tudo realmente aconteceu. É por isso que eu abusei de uma boa dose de exagero e imaginação. Você nunca saberá o que é realmente verdadeiro aqui, lide com isso.

Para começar, vou citar minha aparência física só para deixar claro que estou longe de ser uma dessas belezas exuberantes que fazem todos babar por aí, não sou a típica mocinha encantadora que estão acostumados. Se quiser perfeição, procure outra história. (Foi ótimo te conhecer)

Devia ser 4 de julho de 2014, eu estava parada em frente ao velho prédio marrom com azulejos azuis há dois quarteirões da minha casa, onde Luan morava. Estava frio, minhas mãos tremiam e todos os pelos do meu corpo ouriçavam pedindo agasalho. Era entre duas e três horas da madrugada, todos os estabelecimentos vizinhos estavam fechados e eu começava a me assustar com o homem de casaco preto me observando há dois metros de distância. Eu sabia que deveria correr, mas meus pés já não aguentavam a sensação de exaustão.
Contrariando o meu instinto, sentei-me na calçada suja e permiti que a barra do maravilhoso vestido de seda que usava naquela noite ficasse completamente cheia de lama. Deixei que as lágrimas escorressem em descompasso e de repente, uma pontada forte me atingiu por inteiro. Segundos depois, como se escutasse meus batimentos, o telefone tocou.

Definitivamente, aquele foi o momento que desviou completamente o rumo que minha vida estava tomando.

(...)

Para entender melhor, será preciso voltar ao dia em que tudo começou. Mais precisamente, ao dia em que meus pais se conheceram. Minha mãe tinha 18 anos, tinha acabado de terminar o ensino médio e estava completamente inebriada pelos sonhos que carregava consigo. Meu pai tinha 20, havia abandonado a escola aos 13 e já possuía uma visão bem dura sobre o significado de viver. Eram estilos de vida opostos e personalidades totalmente diferentes. Só Deus sabe como aqueles dois se entenderam.

Era 3 de janeiro de 1991. Depois de ensaiar o ano inteiro para o exame mais importante de sua vida que lhe garantiria uma bolsa para estudar ballet na inglaterra, minha mãe finalmente se dirigia como uma verdadeira barbeira ao volante ao Studio em que a prova seria realizada. Ela tinha apenas vinte minutos até que os portões se fechassem e desse adeus ao seu sonho. Foi quando o pior aconteceu. Havia esquecido suas sapatilhas da sorte.

Desesperada e sem qualquer experiência no trânsito, dirigia feito uma louca, recebendo xingamentos por onde passava. Em um segundo, suas mãos apertavam o volante com força. No outro, puff!

Meu pai acordou aquela manhã sem qualquer expectativa, seria só mais uma segunda-feira comum se uma louca não tivesse batido no táxi em que ele trabalhava. Brigaram feito dois animais, por dois minutos e meio. No instante seguinte, ela simplesmente fugiu. Pegou um táxi qualquer e mesmo sem suas sapatilhas, chegou ao exame. (30 segundos antes dos portões se fecharem)

Acabou que, ela conseguiu a vaga e ele processou a maluca fazendo-a pagar por todos os danos e por ter fugido. Mas o que aconteceu em seguida foi mirabolante e esquisito. Eles, simplesmente, contrariando todas as leis do universo, se apaixonaram. Ela desistiu da Inglaterra por ele e ele, adquiriu sonhos por ela. Então, antes mesmo de eu nascer, meu grande "e se" foi: "O que teria acontecido se minha mãe não esquecesse suas sapatilhas e não dirigisse tão mal?".

Crescer ouvindo uma história dessas é pedir para ser uma romântica incurável. Imagine então a decepção que foi, aos 14 anos, descobrir que ele estava dormindo no sofá todas as noites. Nunca superei descobrir o que vem depois do "E viveram felizes para sempre".

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