Capitulo 1 - Bar Petrova

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*Cidade, personagens e locais totalmente fictícios

Debrucei-me na cama enquanto o telefone tocava. Carol me ligava pela centésima vez. Já estava de saco cheio de toda aquela falação: "Flor, você tem que ir, vai ser incrível, por favor". E eu só queria poder dormir e esquecer o dia longo e insuportável q tinha tido.

Depois de uma semana de provas de direito penal, não tinha o menor ânimo para conhecer o tal barzinho que ela tanto falava. Só que, conhecendo bem a minha prima, se não saísse naquela noite, ela me daria gelo pelo resto do mês, até que implorasse por desculpas, de joelho.

Acontece que, eu não tinha forças para nenhuma sessão de embelezamento. Então, fui do mesmo jeito que estava. Calças surradas e sujas de tinta, camisetinha preta e um chinelo encardido. Algo me dizia que Carol ia surtar quando me visse desarrumada daquele jeito.

Ainda tive que pegar dois ônibus, isso porque dormi e perdi o ponto no primeiro. E quando cheguei ao bar Petrova, encontrei uma Carol irada e impecavelmente produzida. Enquanto eu, parecia que havia sido atropelada por um trator.

--- Flor, eu não acredito que você veio assim. Isso na sua calça é tinta?

--- Oi Carol, senti sua falta também --- disse, abraçando-a.

Ainda que tivéssemos o mesmo estereótipo, cabelo castanho claro, olhos verdes e corpo esguio, ela possuía mais brilho, curvas e sem dúvidas, era a garota mais bonita que eu conhecia.

--- Eu não acredito que você fez isso com o seu cabelo! --- O sermão veio quando ela notou meus cabelos batendo um pouco depois dos ombros e não mais na cintura.

--- Eu não tava tendo nem tempo pra pentear, preferi cortar...

---Você é louca! --- Ela disse enquanto entregava nossos ingressos ao segurança.

O bar estava lotado de uma galera que devia ter entre 18 e 40 anos. Havia gente dançando por toda parte e alguns casais encostados nas paredes praticando uma boa troca de saliva.

Em um balcão mais próximo da entrada, uma mulher ruiva servia os drinks e rebolava ao som de uma banda desconhecida que tocava logo a frente.

Virei-me para ver melhor e envolvidos ao som que tocavam, quatro caras "bonitinhos" estavam arrasando no palco. E sem querer, acabei me atentando a tatuagem do guitarrista. Uma águia. Ainda tentei ler o que estava escrito abaixo do desenho, mas parecia estar outra língua.

--- Quem são esses? --- Perguntei a uma Carol completamente enfeitiçada pelo baterista da banda.

--- A banda ainda não tem nome, mas aquele é o Carlos e eles tocam aqui todos os sábados. --- Disse, apontando para o baterista.

--- Então quer dizer que você me fez levantar da minha cama e vir até aqui por causa do baterista de uma banda?

--- Claro que não, Flor. Eu fiz você levantar da sua cama e vir até aqui porque tá precisando se divertir. Ver o Carlos é só um bônus.

--- E como exatamente eu vou me divertir olhando você babar por um cara a noite toda?

--- Nós duas vamos ao bar, pegamos dois drinks e nos acabamos na dança. De brinde, você ainda pode beijar na boca.

--- Você sabe muito bem que eu não beijo qualquer um.

--- Credo, Maria Flor. Um beijinho só não mata.

Era verdade, um beijo não ia me matar. Mas eu realmente não sentia a menor vontade de sair por aí pegando alguém só por pegar. Nunca consegui achar graça nessa história de pegação na balada.

Bebemos alguns drinks e depois de algumas músicas, a banda encerrou a apresentação e saiu do palco dando lugar para uma boa playlist de música eletrônica. Lá para as tantas depois da meia noite, Carol me deixou sozinha e foi se encontrar com o tal Carlos.

Sentei-me em uma das mesas e deixando-me abater pelo cansaço deitei minha cabeça sobre a mesa e em meio a tanto barulho, adormeci. Nunca ouvi ninguém dizer que conseguiu dormir na balada, então gostaria de me parabenizar por tamanho acontecimento.

Acordei com uma mão me cutucando alguns minutos depois. Um homem de meia idade, com o corpo todo coberto por tatuagens sorria pra mim.

--- Tá tudo bem, garota?

Abri os olhos completamente deslocada e demorei pra entender onde estava. Minha primeira reação foi murmurar algo indecifrável e somente alguns segundos depois pude recobrar a consciência.

--- Desculpe, o que disse?

--- Eu tava te observando do balcão e você não parecia muito bem.

--- Estou bem, só adormeci um pouco.

--- Alguém colocou algo na sua bebida?

--- Não, é só o cansaço --- agradeci pela sua preocupação e ao buscar no meio da multidão, nada de Carol.

Enquanto o homem voltava ao seu lugar, eu tentava analisar todos ao meu redor. Alguns dançavam, outros beijavam ou bebiam e no canto do salão, o guitarrista da tatuagem conversava com algumas garotas com expressão de interesse.

O encarei por algum tempo até que ele percebesse e me lançasse um sorriso completamente convencido, ao qual reagi revirando os olhos.

Já com paciência esgotada, tentei ligar para a Carol e ela não me atendia. Já tinha esquecido da minha existência àquele ponto e cansada de esperar, resolvi ir para casa e acabei gastando meus últimos centavos com um táxi.

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