Acordo na manhã seguinte com meu celular vibrando sem parar, ainda meio sonolenta o pego e desbloqueio na hora, sua luz me cega, mas mesmo assim consigo ver que as mensagens são todas de Rita.
Rita: Hey miga, já tenho planos para a gente.
Rita: Vista a roupa mais curta que tem no armário e vem para minha casa ás seis.
Rita: Convenci o Antônio a nos levar no show da banda da Agatha, claro que só depois de dois maços de cigarro e muita insistência.
Rita: Pelo menos ele não vai ficar na nossa cola, pode pegar quem quiser. Provavelmente vai ficar num canto agarrado com alguma loura burra.
Rita: A Agatha me falou que o baterista da banda é um gato. Quem sabe a gente arruma uma noite com ele para você.
Rita: LEVANTA A BUNDA DA CAMA!!!!!
Eu: Menos, muito menos. Estarei aí às seis, mas vê se para de bancar o cupido pra mim. Aliás, valeu por me acordar.
Antônio era o irmão mais velho de Rita, de qualquer forma não fiquei surpresa por ela conseguir convencê-lo a nos levar em um show, digamos que com maços de cigarro e uma boa conversa ele te deixaria em qualquer lugar no limite da fronteira. Os pais deles já o levaram várias vezes no médico para tentar controlar o vício, deram remédios e essas coisas, mas parece que ele nunca se importou muito e continua pedindo vários deles em troca de favores usando seu velho carro.
Já Agatha era a namorada dela, as duas se conheceram em um concerto musical no final do ano passado, e pelo o que ela me contou, foi paixão à primeira vista. Apesar dela sempre gostar de garotas, parece que com Agatha foi diferente. Minha amiga estava mesmo apaixonada. A vi apenas algumas vezes desde que começaram a estar juntas e nossas conversas se resumiam a basicamente "Oi" ou "A Rita fala muito de você.", mesmo assim não deixou de me dar a impressão de ser bonita e talentosa, já que sua banda "O Pecador" além de ser muito boa, está prestes a lançar um cd independente, o que é uma grande conquista. Mesmo assim, nunca pude ver uma apresentação deles, bom, acho que hoje é meu dia.
Finalmente levanto da cama e vejo que é quase meio dia, vou ao banheiro e tomo um banho demorado. Já se passou meia hora. Ponho uma camiseta e short qualquer e desço até a cozinha onde se encontra Deborah, que ao me ver diz:
- Boa tarde para você, não consegue acordar mais cedo? A mamãe já saiu.
- Que humor ein, na verdade consigo sim, só não quero. Agora me fala alguma novidade. - pego uma maçã e mordo - Aliás, mais tarde vou sair com Clarissa e Rita.
- Ah, com as estranhas. Não gosto quando sai com elas, foi assim que - a interrompo.
- Não precisa terminar a frase, foi assim que conheci André, não é? E elas podem ser estranhas sim, mas só fala isso pois não tem amigos.
- Me preocupo com você, um dia vai entender.
- Sabe muito bem que não é comigo que tem que se preocupar.
- Tem razão, você sempre foi independente. Mas mesmo assim não deixa de ser minha menina. - responde
A deixo falando sozinha e subo de volta para meu quarto. Deborah tem 22 anos, não é minha mãe, isso é um fato, mas não acho que ela veja isso. Talvez tenha se colocado nessa posição logo depois que mamãe foi demitida e passou a beber. Logo depois que largou a faculdade e percebeu que seria a pessoa que teria que colocar dinheiro em casa. Quando viu que a vida não seria mole com ela. Vejo seu esforço para tentar se aproximar de mim, mas sinceramente, não preciso de uma mãe, preciso de minha irmã.
Pego o livro "A garota no trem" na minha escrivaninha e continuo a ler de onde tinha parado, bem no começo, as páginas se misturam e eu perco a noção do tempo. Quando vejo, passa das quatro da tarde. Corro para encontrar minha roupa, um moletom dos Beatles de manga comprida para cobrir os pulsos e um short jeans rasgado, já nos pés, opto por uma bota de cano fino da mesma cor. Vesti a roupa e amarrei precisamente todos os cadarços, o que me tirou um tempo. Penteio o cabelo, boto minha touca preta como sempre e desço correndo as escadas. Me despeço de minha irmã e começo a caminhar em direção a casa de Rita, que não fica nem a dez minutos daqui.
Chego lá em menos de oito minutos e bato na porta. Ela me atende e fala:
- Tá linda, agora que chegou já podemos ir. Mas, entre.
Entro na casa e de imediato vejo Clarissa sentada no sofá, pulo encima dela e digo:
- Que falta de educação é essa de não ir recepcionar os amigos?
- Pelo visto tá animada hoje, só falta a gente arrumar um cara para você.
- Porque não se preocupa em arrumar alguém para você então? Sabem que odeio socializar com as pessoas. - enquanto falo Rita se junta a gente no sofá.
- Porque quem tá precisando é você - responde Clarissa - Verdade, e não é só a gente que acha isso, Agatha também concordou que tu precisa de alguém. - conclui Rita
- Eu já tenho vocês e para mim é suficiente.
O irmão de Rita chega na sala e imediatamente ela diz:
- Vamos Antônio, parece que a garota não quer desencalhar.
Então todos nós, eu, Rita, Clarissa e Antônio entramos no carro e seguimos para o destino, o cheiro do cigarro abafado era horrível e me deixou um pouco tonta, mas depois de mais ou menos vinte minutos, chegamos.
Estacionamos numa rua próxima ao lugar da apresentação e percorremos o resto a pé, Agatha estava nos esperando na porta. Ao a ver, Rita correu para abraça-la e as duas se beijaram, confesso que me senti um pouco peixe fora d'água na hora.
- Fico feliz que vieram curtir nosso som, ah esqueci disso. - falou puxando uma máscara velha de dentro da bolsa e a colocando.
- Foi mal não ter avisado Natasha, mas a banda toca de máscara. Tem problema? - diz Rita
- Claro que não, acho irado esse estilo meio Slipknot. - respondo.
- Ótimo pirralhas, podemos entrar agora? - diz Antônio
- Cala a boca Antônio, desculpa Agatha - Rita fala visivelmente irritada.
- Não tem problema Rita, gente como ele encontro em todo lugar, vamos entrar. - confesso que todas rimos. Ela faz sinal para a seguirmos e conversa com o segurança antes, acho que para permitir nossa entrada sem pagar, já que o show, obviamente, não era de graça.
Entramos e ela se separa de nós para ir ao camarim, junto com o irmão de minha amiga que também some na multidão. Estávamos esperando juntas, como demorava para começar resolvi ir comprar um refrigerante antes, que fica do outro lado do bar. O compro e tento voltar a vê-las, mas o lugar enche e fica difícil passar por entre as pessoas, então espero ter algum movimento. Nisso, tento passar quando vejo o meio mais vazio, só que alguém esbarra em mim e derruba a bebida no meu moletom. Caio no chão na hora.
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Natasha
RomanceNatasha é uma adolescente com tendências de auto-mutilação e principalmente, suicidas. Tem uma mente louca e se perde nos poemas que escreve, apesar de saber que nunca serão lidos por mais ninguém além dela e seu falecido amigo André, a quem são ded...