Capítulo I - Idiotas
«Mas dá assim para reparar?», disse. Toda a gente dizia que sim. O ruborizar da minha face quando alguém me fala dele, quando falo com ele ou estou com ele, quando não consigo falar noutra coisa senão nele e quando me vêm a ficar reticente ao ter de escolher pelo caminho que os meus amigos vão ou aquele em que ele vai, davam para notar perfeitamente que havia algo em mim de diferente. Quer dizer, eu fico ruborizada por tudo e por nada, mas mesmo assim há vezes que dá para perceber os motivos. Mesmo assim, nunca percebi o como nem o porquê de começar a sentir isto por ele. Foi algo bastante repentino, mesmo antes das férias de Natal. Eu sentia que ele me tratava bem, sentia que ele também gostava de mim. As outras pessoas diziam exatamente isso. Ele até queria que eu agarrasse na mão dele. Será que isso quer dizer alguma coisa? Supostamente sim, não é?
Normalmente fico tão receosa quando este tipo de coisas acontecem. Nunca me torno a mesma, ou fico feliz como um dia resplandescente de Sol, em que tudo é bonito, ou fico nervosa e interrogativa sobre tudo aquilo que me rodeia. O amor pode-nos sempre fazer tantas coisas, é misterioso, resguardado, tão poético como os próprios poetas que falam sobre ele. Tão feliz mas tão dramático.
Mas tenho de fazer com que isso me passe ao lado agora, tenho que fazer com que isso se deixe vagar na minha mente sem que eu saiba, para que eu possa continuar, um pouco, com a minha vida. Tenho muita coisa para preparar pois amanhã tenho um longo caminho a percorrer pela cidade do Porto. Nem sei o que esperar. O que será que lhe vou dizer quando o vir, quando estiver com ele? Só espero não ficar ruborizada!