o som do vazio no espaço lembra eternidade

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when the wind is turning, can you feel it burning?

Musique Le Pop





Porque Spock sempre foi rocha, porto e âncora. Spock sempre foi centro, ponto e balança.

(levam-se milhões de anos para que duas galáxias que se chocam se tornem uma, mas na história da eternidade leva-se apenas um segundo)

Porque Jim sempre foi ventania, revolta e tempestade. Jim sempre foi viagem, bagunça e singularidade.

(os anos passaram com pressa; os segundos se tornaram minutos e os minutos se tornaram horas e as horas dias e os dias anos e os anos — décadas)

Jim sempre foi juventude, mas agora se sentia pó. Spock sempre foi ciência, mas agora sentia.

A vida na Enterprise era uma memória distante, quase surreal, para Jim. Os movimentos cada dia mais pesados, a visão cada dia mais turva — os cabelos cada dia mais brancos.

(o tempo parecia areia)

Mas Spock, ah, Spock. Ele não era memória nem surrealidade; Spock era constante.

(ele ouvia os próprios ossos rachando e o coração batendo thud-thud em um ritmo dolorosamente fraco)

Mesmo agora, Spock o olhava como se nenhum dia tivesse se passado desde a primeira vez em que serviram juntos — desde a primeira vez em que o relacionamento entre eles ultrapassou as barreiras do profissionalismo. Cada beijo carregava o mesmo sentimento, cada olhar o mesmo significado.

Jim entendia, pois ao seus olhos cansados, a beleza de Spock continuava tão estonteante quanto há quinze anos atrás. Agora que tinha nas mãos esguias todas as marcas de um tempo bem vivido, o vulcano era a definição de um lugar no céu. (seu céu)

E Jim o amava muito — irremediavelmente.

(sua mão segurava a dele e ele sorria com aqueles olhos, o sorriso mais bonito do mundo. Jim, não na frente dos Klingons)

Em um dia comum, Jim se lembraria de tudo o que já viveram, de todas as enrascadas das quais já escaparam e riria no silêncio do quarto. Spock levantaria o olhar de um livro qualquer, e, antes mesmo que arqueasse a sobrancelha, Jim já a anteciparia em sua mente com um sorriso que diria: eu te conheço e não é de hoje.

(e Spock refutaria com um olhar que diria: todos esses anos e você permanece altamente ilógico, Jim)

Jim sempre achou que morreria jovem e sozinho — em alguma briga de bar ou durante uma missão qualquer — e honestamente não sabia dizer se estava feliz por ter chegado a uma idade tão avançada. Não porque se sentia velho — apesar de ser o caso—, mas porque sabia que partiria desse mundo antes de Spock e não havia nada que pudesse fazer a respeito. Mesmo que quisesse, não havia nada.

Porque a morte não era um cenário a ser superado, ela era transcendência. Era como o próprio nascimento — era como a explosão que deu início a todos eles; era o som do vazio no espaço sideral; era aquele milésimo de segundo entre o nada e o tudo; era início meio e fim. A morte simplesmente era.

Jim sabia, e Spock também.

(e todos os dias ele lhe beijava a testa em uma promessa muda de amor eterno)

A galáxia de Jim era intensidade; a de Spock, placidez. Junte as duas e você terá harmonia.

A mais bela e perfeita harmonia

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⏰ Última atualização: Dec 26, 2016 ⏰

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