#1# ...ô finzinho de mundo sô...

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Sabe quando você está esperando algo mas não sabe o que é? Bom, estou com essa sensação hoje. Está faltando algo, algo importante que eu devia saber o que é. Sinto um vazio no peito. Algo vai acontecer.

Eu estou em casa e todas as luzes estão apagadas. O breu da casa me dá calafrios. Nas janelas não se passava nada, nem mesmo um galho de árvore parecendo uma garra. Estou sentada na poltrona do meu avô. Havia visto em fotos antigas que era um homem bem magro e com cabelos mais brancos que o próprio branco. Era um daqueles velhinhos que tinha algum hobbe como moedas ou aviões. Não lembro muito bem dele, pois morreu quando eu tinha lá meus três anos de vida.

Olhei de um lado pró outro, a visão turva entregava meu sono. Só queria encostar a cabeça​ e dormir. Tudo em silêncio e então a porta bate. Uma moça entra, mas eu não esperava ninguém. Abro minha boca mas o som não sai. Estou morrendo de sono. Levanto da poltrona mas não consigo andar, o sono toma conta de mim por completo. Me arrasto até a escada e o esforço é todo pra subir ela.

Onde a moça foi parar?

Olho em todas as portas dos corredores mas ela não estava lá. Minha visão já turva não me deixa mais procurar muito. Preciso ir dormir.

Já no final do corredor vejo uma porta entreaberta com uma luz saindo dela, era uma porta que ficava sempre fechada, pensava que era algum depósito. Vou andando até ela já me apoiando na parede pra não cair. Abro a porta e vejo um berço todo cor de rosa, com mosqueteiro amarelo e um brinquedinho de cavalos por cima. Como pode ter uma coisa dessas aqui?

Vou andando até o berço cambaleando. Dentro dele apenas uma mala, uma maleta de médico. Nada mais estava fazendo sentido, eu já não me aguentava de sono.

Senti a presença de alguém, uma cadeira de balanço começa a ranger. Não temos cadeira de balanço.

Aquela mulher estava lá, sentada naquela misteriosa cadeira de balanço com o que parece ser uma criança nos braços. Nada mais estava fazendo sentido, mas mantive a calma.

O sono cada vez mais tomando conta de mim, mas eu não podia dormir sabendo que tem alguém na minha casa. Parece que a moça nem sentia a minha presença ali. Eu não sabia quem era aquela mulher, seus cabelos cobriam seus olhos, mas sabia que a conhecia. Foi quando, levantando o rosto, olhando diretamente nos meus olhos, um olhar sem vida, eu reconheci. Era minha mãe. Mamãe morreu 15 anos atrás.

Eu queria correr mas já não dava, meu sono já era maior que meu medo. Mamãe se levantou deixando o bebê cair no chão, ele não chora. Ela começou a andar em minha direção, passou por cima do bebê que mesmo assim não emitiu nenhum som.

Os olhos dela estavam brancos, havia sangue em suas mãos. Eu estava imóvel sem poder me mexer, sem poder gritar ou me defender. A única escolha era deixar ela me pegar.

Ela chegava cada vez mais perto e mais perto até que colocou seu nariz bem de encontro ao meu e gritou.

Peeeeeeeee

Levantei rapidamente do travesseiro, estava toda molhada de suor. Fios loiros do meu cabelo estavam grudados no meu rosto. Eu estava ofegante, o que foi aquele sonho...?

-Laura, desça logo ou vai se atrasar para a escola! -disse uma voz masculina vinda de longe.

-já vou indo pai! -eu gritei de volta.

Desliguei o despertador e levantei da cama. Me espreguicei, bati as mãos na bochecha duas vezes e disse:

-foi só um sonho, vamos lá, é hoje que tudo começa!

Foi a primeira vez que tive um sonho tão real e horrível assim. Aquela casa mal assombrada estava me contaminando.
Eu e meu pai nos mudamos para a antiga casa dos meus bisavós havia três meses. Era realmente uma casa velha cheia de rachaduras, mofo e assombrações, tudo que uma casa antiga tem direito. Fomos morar lá porque meu pai havia arrumado emprego aqui no fim do mundo!

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⏰ Última atualização: Mar 27, 2022 ⏰

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