Capítulo 1

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O clima é muito agradável. Devo dizer que é meu preferido. Nem sol, nem chuva em excesso.
Deixei meu carro no estacionamento da academia e estou caminhando até a cafeteria. De longe, avisto alguns colegas, os quais dividimos alojamento no interior da cidade.
- Tenente Johnson! – Gareth, um dos melhores soldados, fazendo continência.
- Por favor! – sorri e assim fiz com que ele entendesse que eu dispensava disciplina naquele momento.
- Senhorita Johnson!? – Com toda sua gentileza se aproxima com um sorriso largo. Altura de um e noventa e poucos, cabelos cortados estilo "recruta do exército", pele branca avermelhada. Do jeito que me lembrava – É um prazer revê-la. – devo admitir que ele está cada vez maior, digo, músculos
- Sr. Baker! – cumprimento sem tirar as mãos do bolso da farda – Devo dizer o mesmo. – sem prolongar o silêncio na tentativa de bloquear seus pensamentos para que não houvesse perguntas sobre mim, solto – Como está a sra. Baker?
- Se acostumando com nosso novo lugar. – ele passa as mãos na coxa como se estivesse com frio – Não é fácil se mudar tanto.
- Sou obrigada a concordar outra vez! – dou-lhe um meio sorriso e logo me esquivo continuando meu trajeto com os pés até a cafeteria.

Ao adentrar, sinto uma sensação nova. Nem esquisita, nem agradável. Apenas nova. Passo os olhos aos garotos, os cumprimento com a cabeça e sento em uma cadeira alta de frente ao balcão de pedidos. É uma grande cafeteria! devo dizer que notei muitas mudanças, como a mobília e a cor das paredes.

- Você já foi atendida? – disse uma moça alta de olhos negros e pele escura, enxugando um copo com um pano alaranjado.
- Um expresso duplo, por gentileza. – ainda com as mãos no bolso. Está realmente frio. Ela sorri e vai em direção a cozinha, a vejo voltar com um copo
- Expresso duplo! – diz a mim com um sorriso
- Muito obrigada! – me levanto e vou em direção a academia.
Hoje é meu primeiro dia como capitã. E pra ser sincera, gostaria do meu antigo cargo. Sou uma pessoa muito singular. Apesar disso ter mudado bastante desde que comecei como cadete. O trabalho em equipe; colocar a vida de outros em primeiro lugar, era muito novo pra mim. Nunca fui egocêntrica, apenas na minha. Tanto é que ter companhia foi difícil, já fazer o máximo para salvar vidas, não. E cá entre nós, eu não sei "ser chefe". Então entro no intuito de conversar com meu superior para que marquemos uma visita ao governador. Estou pouquíssimo empolgada para meu treinamento como capitã. Além de estar outra vez nessa cidade que tanto torci para deixar para trás. Espero muito que tudo volte ao normal.

- Johnson! – anunciou um dos coronéis, mas desse não me lembro muito – Vejo que hoje é seu primeiro dia com um aumento na conta bancária – disse olhando uma ficha dentro de uma pasta verde – Meu parabéns! Agora, de volta ao alojamento.

Fui ao carro, peguei uma mala e procurei o quarto de número 08. Eu realmente estava pouco interessada, ou estivesse chateada por tudo ter acontecido tão rápido.
Achei a porta de número 08 e era o que eu pensava: quatro paredes e uma cama de solteiro. Devo ficar aqui até ter um tempo razoável para procurar um apartamento por perto.

Arrumei minhas coisas pessoais e depois fui estudar um pouco no refeitório. Outro café.
Já havia estado naquele batalhão, então fui bem prática desta vez. Apesar de eu ter vindo aqui pela última vez à uns quatro anos, não tive curiosidade de fazer um tour pelo local. O que percebi foram as mudanças, assim como na cafeteria, alguns novos subordinados e soldados, e uma cadete linda que acabara de passar na minha frente.

Eu só consigo pensar em "um romance dentro do alojamento, sério?". E ao pensar em como isso seria clichê, franzi o cenho sem perceber, enquanto dava um gole no café.

- Cafés sem açúcar não são tão ruins. – disse a novata, ao se sentar de frente pra mim por ser um tipo de mesa bem extensa e com bancos grudados. Ela me olhava por cima do copo de café que segurava com a mão do antebraço que apoiava na mesa. Ela aparentava ter uns vinte e poucos, era mais baixa do que eu imaginava ser permitido aqui, vestia uma camiseta branca pra dentro da calça da farda. Seus cabelos louros estavam em um rabo de cavalo, que mesmo assim dava para perceber que seu comprimento era grande. Sua pele era clara e seus olhos eram um mel com um brilho inestimável.

- Estaria fazendo caretas piores se neste café abrangesse açúcar. – disse com os olhos no notbook, transmitindo que não estava afim de conversa.
- O pessoal me disse que você é fechada e tudo mais, - levantei o olhar para ela, com uma sobrancelha arqueada – mas não imaginei que fosse tanto. – ela disse num desdém, mas com um sorriso quase aparecendo
- Você não tem ideia. – a provoquei, ainda com cara de poucos amigos
- Chegou hoje? – entregara a guarda, aquela pose de superioridade desaparecera – Sei que deve estar cansada, mas eu ainda quero conversar. – ela abriu a tampa do copo e colocou mais café
- Sugiro uma companhia mais falante. – disse com a atenção voltada ao que estava fazendo. Ela me analisou decepcionada, e ao notar isso, dei um sorriso de canto
- Meu nome é Emma Foster – esticou a mão que agora estava sob a tela do meu notbook, me obrigando a fazer um caminho com os olhos da mão dela até seu rosto, que estava com um sorriso meigo
- Eleonor Johnson – quando nos encostamos, senti a maciez de sua pele, então apenas segurei sua mão delicadamente, e ela fez o mesmo com a minha. Quando voltei meus olhos para ela, a mesma estava com uma expressão incomum, corada, como se tivesse lido meus pensamentos. Então soltei sua mão e ela cruzou os braços em frente ao corpo sob a mesa de madeira desgastada. – nova aqui? – antes de voltar meus olhos para a tela, vejo-a sorrir satisfeita
- Faz seis meses que entrei.
- E ninguém nunca conversou com você? – a animação sumiu de seus olhos, um silencio se fez
- Comigo sim, já com você... – ela tirou as pernas de dentro da cadeira, e fez menção de saída, mas se sentou de novo – Deveria dar mais chances. – ao ouvir aquilo, olhei para aqueles lindos olhos mel, que agora estavam sérios, mirei sua retina
- Agradeço o conselho, senhorita Foster. – fechei o notbook, me coloquei de pé e ela acompanhava cada movimento meu com seus olhos – Já que não se dá por vencida, com sua licença. – me retirei sentindo seu olhar sobre mim.

Ao entrar no zero oito, arranquei o coturno, desliguei o telefone e me esparramei na mísera cama de solteiro. Meio desajeitada, soltei meus cabelos e tirei a parte de cima da farda, ficando apenas de meia, calça e sutiã. Quando o maldito alarme simplesmente anuncia um incêndio dentro do quartel.

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⏰ Last updated: Dec 26, 2016 ⏰

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