Epilogue: eternidade infinita

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- Yoongi... - e os longos minutos de silêncio foram quebrados.

Estávamos os dois deitados na grama de algum lugar insignificantemente afastado, dedos juntos e entrelaçados, mas nossos pensamentos vagavam soltos por aí. Eu me concentrava em sentir seus dedos quentes e ouvir sua respiração calma vinda de algum lugar de si que eu com certeza conhecia, como todo o resto daquele ser. Como se eu fosse abrir os olhos, ele virou o rosto em minha direção e prosseguiu. Tinha a leve impressão, ou melhor, certeza que estava quase chorando e que meus olhos muito provavelmente tinham o mesmo destino. Por quê? Porque Hoseok é contagiante. Ele sabia me fazer sorrir, sabia me fazer chorar tão bem, que as vezes duvidava se era mesmo um ser terrestre com quem estava falando, e não um alienígena hipnotizador.

- Yoongi... - chamou mais uma vez com a voz trêmula e os olhos grudados em mim - Eu tenho medo... Eu estou com medo...

E como se não bastasse todos os seus medos de raios e trovões nas noites em que tinha de lhe abraçar e fazer carinho em seus fios da nuca, ou do sentimento de solidão que lhe batia ao escutar uma gota solitária de chuva ao cair num começo de garoa - dizia sentir dó da pequena gota d'água que mal tinha surgido, vivido uma vida curta e logo se esparramava por inteiro no chão. Seu medo era viver assim, passageiramente.

- Pode falar... - disse calmo enquanto fazia carinho em seu rosto.

- Eu tenho muito medo de te perder... - as lágrimas insistiam em molhar o rosto do ser a minha frente. Não perdi tempo e as sequei.

Hoseok também tinha medo de me perder. E ia, e ia. Minha saúde não era das melhores. Diabetes tipo A, crises anêmicas não muito frequentes e os casos de desnutrição. Eu não gostava de comer e as vezes até me esquecia de me alimentar, por isso era muito magro. Mas não via problema nisso. Em compensação, Hoseok via e via muito. Lembro-me bem do seu desespero a cada momento de mal-estar ou qualquer outro sintoma meu. Até mesmo uma simples dorzinha de cabeça. Ele cuidava bem de mim...

Mas eu não cuidava muito bem dele.

Tinha meus jeitos de acalma-lo com meus abraços e carinhos quando sentia medo, meus beijos que ele dizia-me curar seus momentos de tristeza, mas não tinha jeito para tudo. Eu era frio. De todas as maneiras possíveis. Meu corpo era frio, minha pele era fria, meus pensamentos, e meu jeito de me expressar, tudo era frio e congelado, como uma pedra de gelo. Eram muitas as vezes em que eu mesmo me perguntava o porquê de ser assim tão frio e insensível. Nunca conseguia demonstrar meus verdadeiros sentimentos a ninguém. Mas Hoseok mudava isso incrivelmente. Ele era tão quente, tão quente, que derretia a pedra de gelo encrustada em meu interior, mas conhecida como coração. Milagrosamente conseguia arrancar-me uns "Te amo"s aqui e acolá, esses que, para a minha surpresa, escorregavam por entre meus lábios com uma facilidade indescritível. Até mesmo minha pele ele conseguia esquentar, do jeito dele, passeando as mãos calorosas por tudo que alcançava. Me causava arrepios e outras coisas também, mas que vou ocultar de seus ouvidos (ou olhos, talvez, de ver, ler) escutarem para que a imaginação se divirta ao menos um pouco. Mas não fiquemos em casos de imaginação é voltemos para a realidade.

- Não pense nisso... - me aproximei mais para levemente encostar nossas testas - Quer um pote de Nutella? Juro que não roubo de você dessa vez. - sorri.

Lascou-me os lábios em minha bochecha e se levantou. Mais uma vez Hoseok me esquentava. Sentia meu coração palpitar, quase como querendo sair pela boca. Me estendeu a mão e me puxou para cima. Deteve-me dentre seus braços por um instante e logo já me arrancava dali para casa. Com o pote de Nutella em mãos, pediu que pegasse uma colher enquanto ele abria a embalagem. Lhe entreguei, é claro. Olhando-o de vislumbre, pude vê-lo apanhando uma boa colherada e quanto foi se tê-la saboreada, pude não ver, mas perceber que um arrepio atingira-lhe a espinha. Era uma gota d'água lá fora, daquelas que se dispersam num instante, com uma vida passageira. Mas não era esse o problema. O problema maior, e sim o que viria depois: os raios e trovões. Hoseok já tremia quando caminhei com minhas mãos dos braços até os ombros seus num gesto de conforto.

Colheres de chuva e gotas de Nutella {yoonseok}Onde histórias criam vida. Descubra agora