Grécia Antiga - Selíni e Marthus

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Da janela da pequena casinha de campo, Selíni podia ver o pouco do que lhe era permitido olhar do mundo ao seu redor.

A jovem tinha a alma curiosa, sedenta para saber o que havia do outro lado da montanha, onde podia enxergar, ao longe, as belas construções de Atenas no horizonte. Porém, encolhida no pequeno gineceu da casa, só podia comtemplar uma realidade que jamais poderia usufruir.

Os poucos que tinham contato com a pequena família que residia do lado rural da grande acrópole sabiam o quanto a vida de Selíni fora difícil, desde o seu nascimento.

Nascida menina, numa sociedade em que gerar um herdeiro homem era a principal – se não a única – utilidade das mulheres, o bebê foi quase assassinado pelos pais de sua mãe, que consideraram seu nascimento a continuação da maldição que a deusa Ilítia rogava contra sua família - onde nenhuma criança vingara até então, exceto a supostamente aviltante menininha que a mãe, Agatha, finalmente havia dado á luz.

Foram os próprios pais do bebê que conseguiram descobrir onde os avós haviam jogado a pequena para morrer, impedindo que o vasilhame que boiava no rio afundasse com sua pequena filha.

No fim das contas, Selíni era um dos motivos pelo qual a família se afastara da cidade, estabelecendo moradia depois das montanhas e cortando os laços com os temíveis avós da garota.

Pétros, o pai, não se importava que tivesse gerado uma menina, o contrário dos pais de Aghata. Amava aquela minúscula criaturinha do mesmo modo como teria amado um filho homem, e, em homenagem ao seu nascimento, numa lua cheia, lhe dera aquele nome tão especial.

A infância de Selíni foi ainda mais difícil do que as das garotas que moravam em Atenas. Já desde cedo destinada a permanecer em casa, exercendo ofícios que uma mulher honrosa deveria desenvolver, nunca teve contato com outras pessoas além das colinas, devido a seu afastamento da movimentação urbana.

Mantinha-se em casa quase o tempo todo, onde a mãe lhe ensinava todas as lições que aprendera quando era criança, repassando-as á filha.

Embora os olhos cobiçosos dos atenienses não vissem o que Selíni fazia, quem tinha contato com ela dizia que ninguém fazia tecidos como a jovem grega. Suas obras pareciam saltar dos fios de lã, tomando formas impressionantes e enchendo os olhos de quem as tinha em mãos.

Essa fama, após um bom tempo, finalmente chegou á um parente distante, que residia na acrópole. Pétros viu, ali, uma oportunidade de conseguir um marido digno para a única filha

Um dia, numa tarde excepcionalmente calma, Selíni terminava de tecer um belo tapete na pequena varanda de sua casa, quando o pai se aproximou.

- Iremos para a Acrópole ao amanhecer - disse Pétros, afagando os ombros finos da jovem - mostrará seus belos tecidos, e, com sorte, arranjar-te-emos um marido. Não precisarás mais esconder-te tanto, minha filha.

A garota acompanhou Pétros retirar-se do cômodo, ofegando baixo.

Selíni deixou seus olhos divagarem no espaço antes ocupado pelo pai. Estava animada - e, ao mesmo tempo, relativamente assustada. Finalmente descobriria o que havia por trás da montanha.

Embora a perspectiva de arranjar um marido lhe parecesse quase agourenta, aquela seria sua oportunidade de conhecer o mundo lá fora, e não poderia estar mais entusiasmada com a iminente viagem.

Depois de todos os pertences arrumados no dorso de um avelin pampa, Pétros e Selíni partiram, deixando uma Agatha preocupada a esperançosa para trás.

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⏰ Última atualização: Dec 28, 2016 ⏰

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