Obrigada, Charlie

PRÓLOGO

Acordei e corri para o banheiro. Acho que comi algo estragado, que enjoo é este? - Já amanheço vomitando. Ótimo. - Enfio a cara no vaso e sai tudo, meus olhos se enchem d'água e eu começo a tremer. - Se tem uma coisa que eu odeio é vomitar, é quase uma fobia. - Me levanto e vou lavar meu rosto na pia. Me olho no espelho e meus olhos estão fundos, estou pálida, pareço um zumbi com meus cabelos para o alto. Tiro minha roupa, jogo no cesto de roupa suja e tomo um banho demorado, tirando todo esse cheiro de vômito e tentando tirar esse enjôo com ele. Saio do banho, me enrolo na toalha e vou até meu quarto escolher uma roupa para trabalhar. Tiro uma camisa polo rosa bebê e minha calça jeans preta. Seco meus cabelos e os deixo soltos. Vou até a cozinha preparar meu café da manhã antes de fazer minha maquiagem. Pego um suco de laranja e meu requeijão favorito que estavam na geladeira e pego umas torradas que eu havia comprado no dia anterior. Quando sento a mesa meu telefone toca. É Ricardo, meu noivo. Ele sempre me liga antes de ir ao trabalho para me desejar um bom dia. Amo isso.

— Oi, amor! — Atendo passando requeijão na torrada.

— Oi, minha linda, bom dia! — Ele responde, consigo ver o seu sorriso através da sua voz. — Como você está?

— Bom dia, amor! Não estou nada bem, acordei vomitando.

— Sério? — Seu tom de voz havia mudado, ele era muito expressivo em suas falas, agora exalava preocupação, sempre muito fofo. —  Quer que eu passe ai e te leve para o hospital?

— Não, está tudo bem, já estou melhor. Provavelmente foi algo que comi ontem à noite. E eu trabalho em um hospital, qualquer coisa lá eles me atendem.

— Tem certeza? Porque eu posso ligar para o meu chefe e pedir o dia de folga, ele está me devendo uma folga mesmo. — Durante três dias, Ricardo ficou até depois da hora porque seu chefe estava em uma viagem e precisava que alguém resolvesse alguns problemas na empresa, então Ricardo foi o escolhido e seu chefe prometeu um dia de folga quando ele quisesse.

— Tenho sim, está tudo bem, qualquer coisa eu te ligo.

— Ok, meu anjo, agora vou lá, se não vou me atrasar. Te amo! Se cuida, tá bom?

— Eu também te amo. Pode deixar! Beijos!

— Beijos!

O que eu fiz para merecer um homem assim? Ele está sempre comigo, nunca tive alguém que se preocupasse tanto comigo. Mesmo ele sendo tão ocupado, ele sempre dedica algumas horas do dia para mim.

Termino de tomar meu café da manhã, tiro a mesa, vou ao banheiro  e escovo meus dentes. Volto para meu quarto, passo um corretivo nas minhas olheiras, uma base e um pó bem leve, corrijo minhas sobrancelhas com uma sombra - amo esse efeito que a sombra deixa - passo meu rímel, um batom nude e estou pronta. Dou uma última checada no espelho, pego minhas coisas, fecho o apartamento, entro no elevador - moro em um prédio de 10 andares, mas eu moro no 7 andar - saio do elevador, dou bom dia ao senhor João, o porteiro do prédio, sempre muito simpático e vou a garagem pegar meu carro. - Dirijo um EcoSport na cor grafite - entro no carro e dirijo em direção ao hospital Santo Carvalho em que trabalho.

Chego ao hospital, cumprimento o porteiro. - hoje é dia do Francisco, um homem de aproximadamente 35 anos que vive com a cara fechada, nunca o vi sorrir, juro - ele me cumprimenta de volta, sem olhar nos meus olhos, eu bato meu ponto e caminho em direção ao elevador que já está me esperando, desço até o subsolo e entro na farmácia cumprimentando todo mundo até que vem a maldita. Corro para o banheiro e me jogo de cara no vaso a tempo de soltar tudo que estava por vir.

— Elena, você está b... — Luciana entra no banheiro e ao me ver na situação corre para segurar meus cabelos. — Meu Deus!

— Está tudo bem — Falo olhando para ela com a cara pálida, lágrimas escorrendo. — Eu devo ter comido alguma coisa estragada ontem. – Levanto-me e vou lavar a boca e o rosto na pia.