- Não me ignore, Serafina!
- Não me chame pelo meu nome! Solta meu braço!
- Mas o que posso fazer se seu pai te deu este nome?
- Respeite meu pai! Saia daqui! Eu vou gritar!
- Grita! Mas grita bem alto, mesmo! Assim, todos saberão quem é você de verdade!
- ... não consigo acreditar que você está aqui para falar disso. Eu não vou gritar. Escuta aqui, só eu sei quem eu sou. Não importa o que você me diga. Só eu sei o que eu passei para ser quem eu sou.
- Vai começar a exibir suas conquistas, presidente? Ou prefere presidenta? Autoridade máxima?... ... manda em tudo e
todos, até no exército. Assina e as portas se abrem. Não gasta o próprio salário há três anos, ganha tudo e...- Chega! Para com isso, agora! Larga meu braço, você está me machucando.
- Nossa! Não precisa ser tão violenta, Serafina. Eu não queria machucar você. Você sabe que não pode sair por ai dando golpe de jiu jitsu nas pessoas. Você está me enforcando, não vou conseguir falar nada assim...
- Vou te soltar e você vai sair por aquela porta, agora, certo?!
- Tudo bem, tudo b...
- Pronto. Vai!
- Eu sei tudo sobre você. Sua vida inteira está nas minhas mãos, nos meus dedos, eu escrevi. Eu estou indo embora, mas você poderia me tratar melhor. Você não é eterna. Um dia vai morrer, e todos vão acreditar no que eu escrevi. Não posso controlar sua vida e seus sentimentos, mas controlo sua biografia! Quero ver você recolher tudo o que já publiquei e tudo que está na internet...
- Você é um louco! Sai da minha frente, antes que eu perca a cabeça!...
- Eu faço parte da sua história. O capítulo de hoje será isso aqui! Vou escrever nosso diálogo a partir do momento em que você me ignorou. Todos ficarão sabendo da violência de que você é capaz. S-E-R-A-F-I-N-A.
Terminamos a conversa assim. Finalmente, ficamos frente a frente. Depois de tantos anos admirando e publicando a vida dela, fui recebido como um ser humano menor, menos importante. Mas acreditem, ela não é uma pessoa ruim, muito pelo contrário. Gosto dela. Não, amo... Quer dizer, a vida dela me inspira todos os dias. Sei que não é recíproco, mas acho inevitável.
Eu, ela e meu gravador, estávamos praticamente a sós. O que ela não entende é que parte do que ela é hoje, foi resultado do meu trabalho como jornalista. Anos e anos tentando uma entrevista exclusiva, mas só podia vê-la de perto nas coletivas. Nunca olhava nos meus olhos quando eu perguntava. Fazia questão de dizer sempre que não se reconhecia nos meus textos, que era ficção...
Veremos.
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Quem foi Serafina?
RomanceSerafina é mulher. Já foi menina. É quase tudo o que sabemos sobre ela. Filha, amiga, conhecida e desconhecida. Vivia como se ninguém a observasse, até se deparar com sua vida sendo contada em um livro. O narrador dessa história acompanhava cada pa...