Margareth descia apressada as escadas de acesso ao Centro de Pesquisa das Nações Unidas para o desenvolvimento Sustentável da Terra. Misantropa de carteirinha, não perdeu um minuto sequer de seus dias na confortável Estação Júpiter 3 para tentar salvar os esqueléticos da Terra. Enquanto seus colegas faziam cálculos, a astronauta da "velha guarda" pesquisava a atmosfera de outros planetas também "sustentáveis".
Tediosa, odiava as reuniões com seus oficiais das antigas. Odiava ouvi-los falar sobre o óbvio. Assistia a tudo com certa ironia, com afetada despreocupação. Seus últimos estudos sobre o planeta colocariam um fim nessa história de "repovoar" os continentes. Estávamos condenados. Era o fim do mundo.
Para quem acreditou que sucumbiríamos às intempéries de governos totalitários, se viu contrariado pelo vírus modificado da varíola. Corria a boca pequena que outra mutação fora catalogada nas últimas amostras de sangue trazidas da terra, mas que o assunto era mantido em segredo para segurança de todos. Margareth pouco se importou com o boato. Se fosse mesmo verdade que sofressem por suas teses e dissertações vazias. Estava pouco se lixando para os figurões encharcados de álcool da NASA. Não lhe tocava nenhum pouco o futuro dessa gente.
Todos conheciam os destemperos de Margareth quanto a Agência. Mas poucos entendiam seus motivos. Era sabido seu desequilíbrio por aqueles que lhe enviaram para Marte trazendo-a de volta em frangalhos, tanto física como emocionalmente. A brilhante e promissora astronauta nunca os perdoou. As lembranças dessa viagem insistiam em fazê-la sofrer, quase desistir. Se não fosse por seu BOT nada a teria impedido de colocar fim em sua própria vida, nem mesmo sua carreira brilhante dentro da astrofísica. Mesmo sabendo da importância da NASA para sua vida profissional nunca deixou de odiá-los. Queria fazê-los sofrer, assim como ela sofreu. Viu por acaso em suas observações diárias a possibilidade de fazê-lo. Então dedicara uns dias de suas férias para tornar real o pesadelo de perder o planeta para sempre. Adoraria ser a primeira a lhes dar essa notícia encantadora.
Com a cabeça ligada em 220 volts entrou com passos firmes na sala de Reunião Científica. Descabelada, sofrendo com dores nos joelhos, mal teve tempo de ouvir seu BOT, tão enérgico quanto ela.
-Calma, Margie. – aquela voz a encantava, mesmo tocando-a apenas ao pé de um dos ouvidos - Eles vão esperá-la. É a dona da Festa.
-Eu sei, Ariel. Mas não gosto de chegar atrasada. Tenho que dar o exemplo.
-Exigente como sempre. Você insiste em carregar o mundo nas costas. Não sei o que seria de você sem mim.
-Não me importo com o mundo. E você não vai se livrar de mim assim tão fácil.
-O mundo de que falo é o seu, minha cara. O único que me interessa. - Margareth soltou um sonoro "Ha Ha Ha de Coringa". Adorava filmes antigos, os grandes vilões, as grandes tragédias. Lembranças de um lar esquecido.
BOTS, abreviação carinhosa de ROBOTS, são pequenos chips robóticos nano tecnológicos implantados na parte frontal do cérebro de todo cientista da ONU e NASA. Possuem a capacidade de orientar decisões, controlar o sono, a fadiga e avaliar situações de perigo. Dificilmente algo de errado acontecia com as missões espaciais quando guiadas pelos BOTS. Segundo as estatísticas da Agência apenas astronautas que recusaram sua implantação sofreram algum tipo de transtorno em voo. Foi o que acontecera com Margareth e Steve há exatos vinte anos. Recusaram seus BOTS. Isso custou à vida de seu noivo e do jovem astronauta Cristian. Margareth nunca se perdoou. Assim que fora resgatada do espaço buscou refúgio em Ariel, um ROBOT do sexo masculino, moderno e gentil; um protótipo em desenvolvimento. Apesar dos 5 anos que passou perdida em sua cápsula de sobrevivência, ainda conseguia ouvir os gritos de Steve por socorro, mesmo sabendo que sua nave foi arremessada em direção ao sol. A NASA fora omissa, os amigos também. O fato de tê-la resgatado do espaço não os transformara em heróis. Não para ela. Fora mais um golpe de sorte proporcionado pelo destino.
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BAD ROBOT - Meu melhor amigo é um robot
Short StoryImagine um futuro em que Robôs e Cientistas dominam todas as esferas socias de uma Terra devastada por um vírus modificado. Uma astronauta da "vela guarda" define o fim do Mundo. Nesse cenário conturbado para o planeta, seu melhor amigo é um robô de...