Capítulo 1: O Manuscrito

179 18 23
                                    


Sarah acordou num sobressalto ao ouvir o despertador tocando do outro lado do quarto. Ela dormira debruçada sobre o teclado, havia quadradinhos marcados em sua bochecha e páginas e mais páginas de caracteres desconexos na tela do seu computador.

Ajeitou os óculos e apagou o texto indesejado, levantou e se espreguiçou, sentindo-se masoquista por gostar daquela dor muscular matinal.

Respirou fundo, foi até a sua cama sentando-se nela e dando um tapinha no despertador para silenciá-lo. Manteve a mão ali, olhando para o nada. Não era a primeira vez que sonhava com o passado. Sonhara várias vezes com aquele dia em que estivera no labirinto procurando por seu irmãozinho, tantos anos antes.

Abanou a cabeça, mandando aquele pensamento para longe. Tinha um dia longo pela frente, uma agenda para seguir e um irmão para cuidar.

Depois de se arrumar, desceu para a cozinha e já no meio da escada soube que seu irmão acordara mais cedo quando sentiu o cheiro de café fresco.

— Caiu da cama? – ela perguntou quando abriu a porta vai-vem da cozinha e viu um jovem louro usando um avental debruçado sobre o balcão de costas para ela picando alguma coisa.

— Bom dia! – Ele sorriu para ela e voltou a picar. Sarah andou pela cozinha observando a mesa que não estava arrumada para o café da manhã, mas aparentemente, para um piquenique. Havia tupwares com lanchinhos de patês, outra com bolo de chocolate cortado em quadrados, e mais uma com uma torta salgada que a fez se perguntar a que horas ele havia levantado. Nada daquilo parecia recém-saído do forno.

— EI! Devolve! – ele parou de picar quando viu Sarah levar um dos lanchinhos à boca.

— Agora eu já comi. – ela foi até o lado dele e se apoiou no balcão de mármore com o quadril. – Pra que tudo isso?

— É aniversário da Bèa. – A faca voltou à ativa. – Vamos fazer uma festinha pra ela no teatro.

— Claro, a Bèa... – ela concordou como se aquilo fosse óbvio. – É aquela com cachinhos, né? – seu irmão concordou em silêncio.

— E suponho que essas festinhas sejam comuns entre os atores, né? – ela viu que o seu irmão estava ficando vermelho e os tomates que ele picava ficavam cada vez menores.

— E acredito que a idéia tenha sido sua. – ela tentava conter o riso, olhou discretamente para ele. – É um jeito novo de fazer suco de tomate?

Ele parou de picar e ela riu.

— A que horas você levantou? – perguntou remexendo nos lanches e mordendo outro (ganhando outra careta do irmão)

— Fiz metade ontem à noite. Você se enfiou no seu computador e eu vim pra cá.

— Já pensou em ser cozinheiro em vez de ator? – ela sentou-se na bancada. – você cozinha bem.

— É – ele largou a faca, amuado. – cozinho melhor do que atuo.

— Tobby, você sabe que isso não é verdade! – ela puxou o rosto dele com a mão delicadamente e sorriu de forma compreensiva. – Todo mundo tem seus dias ruins. Você só está um pouco disperso, só isso. Por que não pede ajuda ao Lancelot?

Tobby baixou o olhar. – "Estou muito velho para brincar com ursos de pelúcia."

— Nunca se está velho demais para os amigos, Tobby. Lancelot me ajudou por muito tempo... Como quando eu quase perdi você, pensou ela, mas nada disse. Apenas puxou o irmão para abraçá-lo com carinho.

— Ta tudo bem aí?

— Sim. Só um pouco nostálgica. – ela o soltou e desceu da bancada. Foi tomar o café que ele havia feito e fez uma careta. – Ai, Tobby... – tossiu de leve. – Nunca mais faça café!

Retorno ao LabirintoOnde histórias criam vida. Descubra agora