Eu não sou como eles, mas eu posso fingir ser. E era isso que eu estava fazendo.
Último ano do Ensino Médio, todos diziam que aquela era a melhor época da minha vida - meu pai, os professores, os tios e tias... Todos. Bem... Aquela não estava sendo a melhor época da minha vida, nem de longe. Estava mais para a pior época da minha vida do que para melhor, na verdade. E era por isso que eu estava ali.
Julianne Keaton, mais conhecida como Juli, na sala de estar de Brandon Underwood, o jogador de futebol e queridinho de 99% das garotas da Escola Solomon de Ensino Médio. Era uma cena que eu não imaginava acontecer nem nos meus sonhos mais loucos. É, eu realmente estava tentando bastante ser "legal".
Parecia que suor estava escorrendo por todos o meu corpo, e eu via que estava no dos outros também. Eu não era como eles, na verdade. Não me divertia com aquela coisa de cigarros, roupas, sapatos ou garotos, como as outras garotas. Muito menos cabelos e maquiagens. Quer dizer, um dos meus sonhos era colorir meu cabelo de azul, mas conversar sobre tinturas, xampus e condicionadores definitivamente a minha praia.
Mas lá estava eu, no meio de toda aquela gente que eu considerava fútil, me sentindo como se fosse um espião do lado inimigo da guerra, observando. Eu não era como eles, mas poderia ser.
Eu pulava no ritmo de alguma música de rock que tocava - pela voz, parecia ser The Clash. Pelo menos eles tinham um bom gosto musical. De repente, eu vejo um garoto parar na minha frente. Ele era realmente fofo, não consegui impedir a mim mesma de pensar. Se eu estava fingindo ser como aquelas pessoas, por que eu não poderia aproveitar um pouco? Sorrio para ele, enquanto tentava lembrar seu nome? Harry? Ely? Simon?
Quando ele sorri de volta e faz que vai começar a falar, desisto de tentar adivinhar seu nome.
- Você é Juli Keaton, não é? - ele pergunta, enquanto eu paro de dançar e o sigo até a mesa de bebidas. Ele sabe o meu nome e eu não sei o dele. Parece que eu era mais popular do que eu pensava. Assinto enquanto pego o copo vermelho de plástico da mão dele, esperando que ninguém ali percebesse que aquela era a primeira bebida alcóolica que eu bebia em toda a minha vida. - Bernard Armstrong.
Bernard estende a mão para mim. Bernard era bem diferente de Harry, Ely e Simon. Eu me controlo para não comentar aquilo em voz alta, e esse já era o primeiro sinal que o meu corpo deu para que eu não abusasse do álcool.
Apero a mão que Bernard estendia, voltando a sorrir.
- Parente do Louis? - pergunto, dando um grande gole na bebida. Eu não conseguia pensar em nada pior para se falar para um recém-conhecido do que "Parente do Louis?", quando o sobrenome do tal recém-desconhecido é Armstrong.
Agradeço aos céus que Bernard só sorri.
- Depende... Se você for parente do Michael... - sorrio ao perceber que ele levou a minha piada tosca na esportiva.
Pego outro daqueles copos vermelhos de plástico - tinham vários em cima da mesa - e puxo Bernard em direção a pista de dança.
- Vamos dançar! - eu exclamo, fazendo com que algumas pessoas olhem para mim. Antes que o meu rosto fique vermelho de vergonha, consigo dar um grande gole na bebida que estava dentro do copo (vale constar que eu não tinha a menor ideia de qual era aquela bebida).
Eu danço ao som da tal música - dessa vez parecia ser do Nirvana -, e eu não conseguia entender uma palavra desta. Eu só conseguia ouvir a voz que provavelmente era do Kurt Cobain e a melodia. Com o álcool, aquilo era o suficiente para eu usar todas as minhas energias naquela dança. Meus pés estavam doendo, os saltos do meu par de botas batiam no chão e eu mal conseguia ouvir o barulho disso acontecendo. Eu só conseguia sentir o baque, além da eletricidade que aquilo me dava, me impulsionando a dançar mais.
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Eu Não Sou Como Eles
Short StoryUm conto inspirado na música "Dumb", do Nirvana. - Essa história está participando do Projeto Nirvana.