Flores de guerra

Prólogo

Um cheiro de flores lhe invade a memória como
uma súbita dor aguda. Ella respira. O pavor se espalha
por seu corpo, falta ar em seus pulmões. Tem de respirar
lentamente. Subitamente sabe que está onde devia.
Abre os olhos tão devagar quanto pode, deitada vê
apenas o manto branco que está embaixo de seu corpo,
está cercada por cravos brancos, um bom sinal por
enquanto. De pé, como sempre, se surpreende com o
que vê. Um jardim que se estende por todos os lados,
até perder de vista. Centenas, senão milhares de flores
das mais belas e variadas cores.
Já notou tulipas, margaridas, girassóis, cravos,
hibiscos, jasmins. Já viu isso antes, cada pétala caindo e
se misturando a terra como uma jóia. Cada pétala
cintilando poder e força em sua fragilidade. O pólen
impossível de se conter, viajando por todo aquele campo
até a única Árvore, que tremeluzia com todos aqueles
pequeninos pontos brilhantes que a atingia. Ella sabe o
que vem a seguir. Não é só um jardim, é um belo campo
de batalha. Respira de novo, o perfume das flores é um
terror para suas narinas, sabe que isso a atrapalhará,
mas treinou para isso. Ella fecha os olhos, se concentra,
pensa nos detalhes. Espera.
Então ela ouve, alguém a chama a uma certa
distância, suas mãos esfriam, por segundos Ella teme
não suportar o que vem a seguir. As flores ao seu redor
de repente são gerânios de uma cor escura, talvez não estivesse tão pronta quanto imaginasse. De olhos ainda
fechados se vira em direção a voz. Respirando
lentamente aquele pólen brilhante, abre os olhos, tudo
ao seu redor parece parar momentaneamente. O jardim
agora é o maior campo de erva doce que já viu, Ella
sente sua força em seus pés, tudo ao redor dela se
agita.
Uma bela mulher de cabelos loiros corre em sua
direção, seus olhos são tão azuis quanto o céu. Seu
sorriso é claro, seu rosto meigo e delicado. Seu vestido
parece uma grande pétala de rosa vermelha, moldado a
seu corpo com brilho e elegância. A mulher chama por
Ella, feliz e sem qualquer sinal de medo. Ella se enrijece,
conta os segundos para que ela se torne o terror que a
amedronta há tanto tempo.