É uma noite sem estrelas no céu. Uma noite sombria, fria e a densa neblina toma conta das ruas. A cidade está deserta. Não há carros, não há luzes acesas em prédios e casas, não há pessoas, e nem ao menos comércios vinte e quatro horas que estejam abertos. Raios aparecem poderosos no céu e iluminam os cantos mais obscuros dos becos, dando uma aparência medonha e sombria a eles. O silêncio prevalece na cidade, porém, eu o quebro. Estou sendo perseguida. Estou correndo o mais rápido que posso e luto contra o cansaço para permanecer no mesmo ritmo. O que quer que esteja em meu encalço, não é humano. Enquanto estou ofegante e à beira da desistência, meu perseguidor continua em um ritmo acelerado e não demonstra sinais de cansaço como qualquer ser humano normal demonstraria. O que quer que esteja em meu encalço, está determinado a capturar sua presa. Não ouso olhar para trás. Não consigo. Os barulhos que o ser que me persegue reproduz me aterrorizam e fazem os cabelos da minha nuca e os pelos do meu braço se arrepiarem. Fazem meus músculos perderem a força que necessitam para fugir. E apesar de tudo, apenas continuo correndo, pois sei que parar significa minha morte. Sem destino, sem hora para parar e apenas desejando com que isso acabe de uma vez.
Sinto o hálito quente e sedento por sangue em minhas costas e em uma tentativa desesperada de fazer uma curva e tentar me proteger, sou atacada. Tenho tempo de sentir suas presas perfurando meu braço direito e ver o sangue escorrer quando dou um pulo na cama e, aterrorizada, procuro por qualquer pista de que tudo aquilo foi real, mas para minha sorte, nada foi. Eu já deveria saber. Já deveria ter me acostumado; já que desde que nos mudamos para Hatley esses pesadelos têm sido frequentes. São sempre os mesmos, e consequentemente, sempre acordo no mesmo estado de choque, mas no final, tudo está como sempre foi: silencioso e normal.
Algo nessa cidade está me fazendo ter tais pesadelos, mas não tenho ideia de como e por quê. Já tentei levar em consideração que talvez o motivo fosse saudade da minha antiga cidade e que talvez meu estado psicológico estivesse me colocando contra a minha cidade atual, porém, nada na minha antiga cidade, a não ser as pessoas que me apeguei conforme o tempo, me faria sentir falta de lá. Então prefiro descartar a ideia, já que não faz muito sentido. Mas o que são esses sonhos? O que eles estão tentando me dizer? E por que eles começaram depois que nos mudamos para Hatley? Não tenho a mínima ideia, mas em minha lista mental, meu próximo objetivo é: descobrir o motivo de isso estar acontecendo.
Depois de me acalmar e minha respiração voltar ao normal, olho o relógio na cabeceira da minha cama marcando seis horas da manhã e decido me levantar e me aprontar para mais um dia de aula. Dou uma breve olhada em meu irmão, Caio, para me certificar de que está tudo bem, pois algumas vezes sente medo e vem ao meu quarto no meio da noite. Dorme como um anjo, apesar de roncar muito. Observo o quarto e vejo que não há sinal de batalha. Então dessa vez não tive nenhuma luta corporal com meus móveis (a propósito, sou sonâmbula, e em nada ajuda me debater durante o sonho).
Vou até a janela e abro as cortinas para deixar o pouco de claridade que há no céu se espalhar pelo quarto. Os pássaros cantam, o vento derruba as últimas folhas das árvores quase dando as boas-vindas ao inverno, as pessoas se cumprimentam gentilmente nas ruas... a beleza de Hatley é impressionante. Não consigo entender por que ela me traria tantos pesadelos. Tudo aqui parece ser de uma época antiga. Os comércios, as moradias, as praças; tudo tem uma característica rústica e eu acho isso encantador.
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O Reino de Hatley
FantasyRuas desertas cercadas por uma infinita floresta aparentemente intocável pela luz. Noites sem estrelas no céu, frias e sombrias. Noites onde passos desesperados e uma respiração ofegante quebram violentamente o silêncio da cidade. É assim que Reb...