Joanópolis

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Alguma coisa está errada. O ar está frio, a neblina está intensa demais, minha cabeça dói… Por que estou nesta estrada? — Tem alguém aí?
Vejo algo se movimentando com rapidez entre a neblina, mas não consigo me concentrar em nada.   Meu corpo está pesado, não consigo respirar direito… É como se eu estivesse tendo um ataque de asma ou alguém tivesse batido muito forte em minha barriga, como se realmente tivesse levado uma surra.
A neblina se torna mais forte, vultos começam a aparecer ao meu redor, fazendo um círculo. Não consigo identificar quem são nem o que são. Um vulto maior do que os outros se aproxima em minha direção. Minha respiração fica cada vez mais lenta e pesada, posso ouvir os passos ficarem cada vez mais fortes. Uma “mão” peluda e com garras sai da neblina e segura meu pescoço!
Nesse momento, eu acordei com meu celular tocando, todo suado, e, ao contrário do sonho, minha respiração estava acelerada.
— Droga, estou atrasado!
Tinha combinado de encontrar meus amigos há dez minutos e nem me arrumei ainda.

Atendi ao celular.

— Oi, Nicole! Estou quase chegando, tive um pequeno contratempo.
— Sempre atrasado, Enzo. Chegue logo, todo mundo está te esperando.
— OK, já estou chegando.
Bom, meu nome é Enzo, tenho 21 anos e moro em São Paulo, para ser mais específico, na Zona Leste, e tenho a mania de sempre chegar atrasado aos lugares.

Casa de Nicole

Todos estavam reunidos na casa de Nicole e eu cheguei mais uma vez atrasado. Até o PH (Paulo Henrique) chegou primeiro, e ainda estavam a Jennifer e o mala do Alan… Pelo menos tinha um bom motivo para estar ali, pois, além de viajar com meu melhor amigo, teria todo o fim de semana para dizer à Nicole o que eu sentia por ela, sem ninguém para atrapalhar.
— Já podemos ir? — perguntei. — É claro! — disse Nicole. PH logo se aproximou.
— Cara, por que demorou tanto? — Acabei dormindo demais, tive um sonho estranho, parecia ser tão real…
— Vocês vão ficar conversando aí ou vamos pegar a estrada? — gritava Jennifer, com um olhar furioso por ter esperado a minha chegada.
Partimos em viagem com destino a Joanópolis. Alan dirigia, Jennifer ia ao lado dele no banco do passageiro e nós três no banco de trás. PH estava no meio, eu ao lado direito e Nicole no esquerdo. PH não parava de falar, mas não me incomodava com isso, aliás, não parava de olhar para Nicole, admirando seus olhos castanhos, seu cabelo preto e longo. Ficava olhando muitopara a boca dela, imaginando qual seria o momento certo para beijá-la, esperando que esse momento não demorasse muito.
— Estamos chegando? — perguntou PH.
— Sim. Agora, você poderia parar de perguntar de cinco em cinco minutos? — retrucou Nicole.
— Tá bom. — Obrigada.
Depois de mais ou menos uma hora e trinta minutos de estrada, finalmente chegamos a Joanópolis, uma pequena cidade do interior de São Paulo com aproximadamente doze mil habitantes. Ponto turístico por suas belezas naturais, como cachoeiras, montanhas e represas, Joanópolis era conhecida como “a cidade do lobisomem”, atraindo muitos turistas com essa “lenda”. A casa era bonita, tinha uma garagem na frente, e nos fundos havia um espaço bem legal, com churrasqueira e piscina, que davam um toque especial e deixavam o lugar mais aconchegante. Fazia frio naquela tarde.
PH se aproximou, sentou-se ao meu lado e disse:
— Quando vocês irão conversar?
— Eu não sei, acho que estou esperando o momento certo.
— Cara, faz um mês que vocês terminaram…
— Mas não porque queríamos, lembra?
— Eu sei, mas, se você a ama, tem que tentar ficar com ela.
— Se os pais dela soubessem que estou nesta viagem, eles
me matariam.
— Esqueça os pais dela.
— Tem razão, PH, vou falar com ela. — É assim que se fala, moleque! Comecei a procurar Nicole, mas acabei esbarrando em Alan. Ele era aquele tipo de pessoa que tinha tudo o que queria enão dava valor a nada do que tinha. Ele não ia com a minha cara e, para ser bem sincero, eu também não ia com a dele.
— Olhe por onde anda — disse ele.
— Foi mal, não tinha te visto — retruquei.
— Tanto faz.
Então continuou andando na direção de Jennifer. Eu não entendia o que ela via nele, mas agora fazia sentido aquela frase, “O coração não escolhe a quem amar”. Ao olhar para o lado, vi Nicole se preparando para sair. Meu coração acelerou, as mãos começaram a suar e a mente ficou em branco. Já não sabia o que falar, então ela se aproximou e me perguntou:
— Quer ir ao supermercado comigo? — Sem dúvidas! É… quero dizer, sim. — Então tá — e foi em direção ao carro.
Seguimos em direção ao supermercado, com aquele silêncio insuportável. Já havíamos sido namorados, mas não deu certo, pois os pais dela achavam que a filha merecia algo melhor, alguém que pudesse lhe dar um futuro diferente do que eu poderia oferecer. Proibiram-na de falar comigo, mas eu ainda a amava, e parecia que o sentimento era recíproco. Eu via nos olhos dela que seu coração ainda batia por mim… Depois de cinco minutos de silêncio que mais pareceram cinco horas, estávamos em uma estrada de barro, então Nicole parou o carro.
— Enzo… — disse ela.
— Eu sei, precisamos conversar.
— Sim, e muito… Mas eu queria apenas esquecer tudo que passamos pelo menos este fim de semana e ficar com você. Esquecer meus pais e todos os problemas. Eu nunca parei de pensar em você, nem sequer um segundo.
— Eu também não paro de pensar em você nem por um momento e tudo que eu mais quero agora é estar com você.
— Então podemos tentar? — perguntou ela, com cara de interrogação.
— É claro, nunca vou desistir de você.
Pareceu-me o momento certo para beijá-la, então me aproximei devagar. Ficamos cara a cara, e pude ver aquele sorriso lindo, então a beijei. Meu corpo teve aquela sensação esquisita de estar com a pessoa certa na hora certa. Depois de alguns minutos de “pegação” no carro, ela me lembrou de que tínhamos que ir ao supermercado. Agora o clima não era mais de silêncio insuportável, e sim de suavidade, até colocamos uma música, e saímos em direção ao supermercado.
Agora tudo estava perfeito, resolvi as pendências com Nicole, pelo menos neste fim de semana. Estava em uma viagem, PH estava com a gente… A única coisa que estragava era a presença de Alan, mas tudo bem; como eu disse, “PH estava com a gente”. Chegamos das compras conversando animados e sorrindo. Todos da casa ficaram nos olhando e imaginando o que tinha acontecido, mas acho que eles já sabiam a resposta.
— Agora ficou perfeito — dizia PH. — Por quê? — perguntei a ele. — Olhe ao seu redor.
Então olhei e vi que Alan estava com Jennifer, Nicole estava na cozinha guardando as compras, e logo imaginei que estava faltando alguma coisa, ou melhor dizendo, alguém.
— Viu do que estou falando? — Acho que sim, PH.
— Alan veio com a Jennifer, você se resolveu com a Nick,
e fico feliz por isso, mas e eu?
Dei aquele sorriso. Então falei:
— Você sabia que eu ia tentar me resolver com a Nicole.
— Eu sei — respondeu PH.
— Pense pelo lado positivo.
— Qual?
— Você tem Joanópolis inteira para escolher.
— Pensando por esse lado… — então ligamos o videogame e começamos a jogar.
A noite estava passando muito rápido, a sexta-feira já estava indo embora sem se despedir, mas tudo bem. Quando estamos com pessoas legais, o tempo voa. A primeira noite em Joanópolis foi inesquecível, estava no quarto com Nicole e parecia que nada mais importava. Não queria que aquele momento acabasse nunca, era como se ela fosse o meu porto seguro, a solução para todos os problemas.
— Eu te amo — disse ela.
Fiquei sem palavras, tudo estava tão bem… Passou pela minha cabeça se aquilo tudo que vivi nessa sexta era um sonho, então me belisquei.
— O que você está fazendo? — perguntou Nicole.
— Estou vendo se tudo isto é um sonho — respondi.
Ela me olhou dando aquele sorriso lindo e disse:
— Bobo.
— Nick, eu poderia falar por horas e horas o que eu sinto por você e o quanto te amo. Mas, como diz o ditado, “Uma atitude vale mais do que mil palavras”.
— Hum… E que atitude você vai tomar? — Esta…
Aproximei-me devagar, jogando o cabelo dela para trás da orelha, e comecei a beijá-la lentamente. Com a mão esquerda, agarrei a cintura e trouxe o corpo dela para junto do meu… Nessa hora, o clima já estava quente. Ela estava vestindo uma camisola de algodão que fiz questão de tirar, assim como ela tirou a minha
camisa. A intensidade só aumentava e o desejo crescia cada vez mais, então nos entregamos por inteiro, de corpo e alma.

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