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As memórias que pioram o convívio

O pior de tudo é o convívio.

Caminhar por lugares que levam a lindas memórias cujo você sabe que nunca se repetirão na vida real, elas se repetem na memória e trazem todo aquele sentimento de angústia ao saber que toda vez que passar por aquele lugar, irá se lembrar como se fosse um filme em sua cabeça.

Existe uma figura de linguagem que se trata de um sentido despertando todos os outros sentidos a partir de uma ação. Como ouvir uma música e lembrar do gosto do café forte de nossa cafeteria favorita ou ver alguma paisagem em um quadro e conseguir sentir o cheiro de terra molhada depois de um dia de chuva. Com certeza ela se lembraria de qual é o nome dessa figura de linguagem, assim como se lembraria de qualquer curiosidade estúpida que particularmente eu adorava.

Aquelas memórias me atormentavam de uma forma que eu não podia evita-las, seria um fardo que eu deveria carregar durante toda minha vida naquela cidade, pois eu sou responsável por ela e devo arcar com essa consequência. Todavia, parece que quanto mais o tempo passa eu começo a deixar de me esforçar pra esquecê-las, pois sei que se um dia eu fizer, vou me arrepender para sempre de não ter tudo aquilo na minha mente de novo.

Conviver todo dia indo aquela faculdade tão grande, mas que se parece tão pequena ao ponto de sempre a encontrá-la. Ver como ela está diferente e ao mesmo tempo tão igual ao dia que a conheci, a ver sorrir fracamente quando percebe que está olhando para mim e tentando fingir que não existe mais nada que pode nos deixar desconfortáveis, perceber minhas tentativas inúteis para demonstrar que estou ótimo e meus momentos de raiva quando noto que ela está seguindo seu caminho e eu ainda penso naqueles dias que estivemos juntos.

E por essas e outras que o convívio com Penélope Georgiana Fell era o mais difícil. O convívio com aquela sensação que aquela garota foi minha, porém não era mais.

Sim, ela já foi minha. Não mais. Não quero dizer por que terminamos, só posso dizer que foi por minha causa, não quero que tenham pena de mim ou tentem me encorajar a voltar atrás das decisões e consegui-la de volta. Nós já tivemos nossa chance e agora eu devo seguir minha vida, porém sinto que devo algo a ela e ainda não sei como pagar.

Penélope Georgiana Fell. Um nome grande e estranho que fazia jus ao que realmente ela é. Se eu pudesse achar uma palavra para descrevê-la, com certeza esta seria "singular" - tenho certeza que ela amaria isso, ela sempre amou demais as palavras e esta seria uma daquelas que ela usaria sempre. Quando Penélope descobria uma palavra nova que lhe agradava, sempre tentava encaixar em suas expressões -, mas porque "singular"? Talvez pelo simples fato que o significado dessa palavra a descrevia completamente. Singular: 1. Único de sua espécie, distinto, ímpar. 2. Não vulgar, especial, raro. 3. Fora do comum, inusitado. 4. Que causa surpresa, inusitado, bizarro. 5. Aplica-se a um substantivo único. Sim, eu pesquisei no dicionário para explicar. Era apenas isso que eu podia dizer dela, talvez com isso você possa me entender.

Percebi que enquanto falava dela, esqueci de me apresentar. Meu nome é Miles Solace, tenho vinte e dois anos e estou cursando arquitetura, segundo ano, foi meio difícil me decidir sobre o que eu devia fazer no meu futuro, mas acredito que encontrei algo que eu serei bom. Nunca fui o mais popular, nem mesmo o mais bonito, eu era apenas um grão de areia no meio de vários iguais a mim, eu simplesmente queria fazer meu trabalho e ir embora, procurar um livro novo ou um filme que ainda não assisti sem que ninguém me incomodasse.

Antigamente eu tinha uma teoria, todos nós procuramos ser diferentes, era algo instintivo do ser humano, auto afirmar que não seguia padrões, nem ideologias, o verdadeiro destruidor de paradigmas. Eis o paradoxo, uma vez que se esforçam tanto para ser diferentes acabam se tornando tão iguais quanto aqueles que seguem padrões. É um conflito, mas é plausível não? Esta teoria acabou para mim no dia que eu a conheci. Ela não queria ser diferente de ninguém, muito menos queria ser igual, ela apenas queria ser ela mesma. Penélope era a minha exceção.