Capítulo 01 – De volta ao trabalho
No ano de 2016 eu vivia em uma rua movimentada da cidade de Harley City, na Inglaterra. A Hudson Street era conhecida como a principal rua que ligava a cidade de Harley até Hubbles, o caminho mais curto até a grande Londres, então era comum que o dia todo a rua fosse recheada de sons que poluíssem nossos ouvidos, mas que me davam a calma necessária para uma mente no tédio. Não costumava receber visitas já fazia cerca de duas semanas, desde o casamento de meu melhor amigo, Nicholas Peters, que agora vivia uma vida doméstica no centro comercial de Harley, assumindo os negócios de seu pai e sustentando sua família. A construção de uma família sempre foi um dos meus objetivos pessoais, mesmo nos momentos em que eu recusava admitir tal fato, esse era um grande objetivo na minha vida, que muitas vezes foi arruinado por acontecimentos que me tornaram quem sou hoje.
Talvez o casamento de meu amigo me trouxesse lembranças de anos de paz, ou pelo menos de uma falsa paz que me deixava na zona de conforto, e isso fez com que minha mente entrasse num estado de extremo desconforto com a vida. Resolvi me isolar por uns dias, me concentrar em meus jogos, fechado no segundo andar do apartamento que antes dividia com meu amigo, que muitas vezes me acompanhou em aventuras que talvez futuramente, posso chegar a relatar em páginas como essas. Sair da zona de conforto sempre foi um desafio para mim, nunca soube lidar com tais processos, ao longo do tempo fui me aperfeiçoando, mas naquele ano em específico aprendi uma daquelas lições que você leva para a vida toda.
Nossos caminhos são sempre recheados de surpresas e acontecimentos que iremos recordar para o resto de nossas vidas, mas para Paul Henry, naquela tarde fria de dezembro, o caminho que ele percorria do The Harley Post até os meus aposentos era desconfortavelmente irritante, e fazia com que ele ficasse em uma raiva fora do comum. Ele se sentia como uma babá de um rapaz de vinte e cinco anos. Paul, com seu pescoço esticado, andando de maneira que para ele era elegante o suficiente para demonstrar sua personalidade forte, subia as escadas que levava até meu quarto no segundo andar. Apesar do número vinte e um (em um apartamento com apenas quatro aposentos), era próximo a porta. Ele era um dos meus poucos amigos que continha uma das chaves. Entrando com sua roupa elegante ao ar sujo de minha residência, que já não via o rosto de uma criada a aproximadamente dez dias, ele logo ia ajeitando as páginas de jornal jogadas pela sala, enquanto seguia em direção ao meu quarto, tão irritado que eu podia sentir em seus passos.
- Ajeite-se, precisa voltar ao trabalho. – Ele dizia ao me ver em frente ao computador, jogando como se fosse algo muito mais importante que meu trabalho.
- Olá Paul, como vai?
Se aproximando, recolhendo alguns dos pratos e copos jogados a cabeceira da cama, ele logo foi dizendo de maneira com que até mesmo o senhorio poderia escutar sem nem ao menos estar tentando.
- Estamos em meio a uma crise internacional, eu deveria estar de olho em cada detalhe das notícias do dia, mas não, tive que vir até a maldita Hudson Street para tirar um vagabundo de sua cadeira.
- Calma Paul, eu não pedi para ninguém me tirar daqui.
- Maldito! Jonathan não pediu para que eu viesse aqui, ele ordenou, aquele maldito editor não sabe pelo que estamos passando na política suja desse país, ele acha que eu tenho tempo para levar seu jornalista favorito para ele, como se fosse buscar um cachorro no Pet-Shop.
- Eu sinceramente não tenho interesse em voltar hoje. Estou ocupado.
- Ocupado? – Ele disse indo em direção aos fios de meu computador. Desligando de maneira brusca, percebi finalmente o quanto ele estava irritado. – Você tem sorte de eu não ser seu chefe. Teria te demitido nos primeiros três dias que ficou sem aparecer nem dar notícias. Sua caixa de e-mail deve estar lotada, a polícia deve ter dezenas de casos empacados graça a seu incrível e gigantesco ego, que só lhe permite pensar em você. Eu não me importo se você se sente mal por seu amigo ter se casado e você voltar a ter uma vida sozinho, o que já deveria ter se acostumado, só coloque a merda de sua roupa e vá trabalhar. O mundo não vai parar para o grande Barnabas Moore ficar em sua depressão momentânea.
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O Devorador de Corações
Short StoryO jornalista Barnabas Moore e seu amigo fotógrafo, Alan Doug, vivem sua primeira aventura juntos ao tentar solucionar o assassinato da filha de um famoso banqueiro. O que eles não esperavam era que esse mistério os levariam a uma solução muito mais...