Por que ele fica olhando para mim?, eu pensei novamente. Nunca conseguia encará-lo de volta, justamente porque eu não era de ficar encarando ninguém. Não conseguia. No momento em que meus olhos se encontravam com os da outra pessoa – no meu caso, os olhos de NamJoon –, eu sentia vergonha e desviava no mesmo instante. Era como se aquelas órbitas negras extraíssem cada profundo segredo que existia em mim. Ele me instigava, me envergonhava com aquele olhar. Todo intervalo era assim: eu sentava encostada à uma árvore, desenhando, como sempre. Nos últimos dias, era quase impossível permitir que ele continuasse me encarando.
Minhas mãos desenhavam algo sem forma, que nem eu mesmo conseguia discernir. Levantei o olhar, e instantâneamente encontrei o de Kim NamJoon. Será que agora eu consigo encará-lo?, pensei mais uma vez, e tentei.
Era constrangedor. Eu o encarava, ele me encarava. NamJoon pareceu um pouco surpreso por perceber que eu o encarei por mais de três segundos. Eu poderia simplesmente dar de ombros e franzir as sobrancelhas, perguntando silenciosamente um "o que está olhando?", mas não conseguia. Aquele era o tipo de olhar que te prendia ali mesmo, ou te fazendo continuar a olhar para ele, ou fazer alguma outra coisa, como no meu caso, desenhar.
NamJoon intensificou o olhar para mim, se é que era algo possível, e então eu abaixei a cabeça. Ainda sentia o olhar dele cair sobre minha pessoa. Sim, já tive vontade de ir até ele e perguntar o porquê de ficar me encarando todo dia no intervalo, mas... O problema era que a coragem não vinha.
Era algo estranho demais!
Levantei de onde estava, e rodeei a árvore, quebrando assim, o contato que seus olhos tinham comigo. Sentei ali, e continuei o desenho, que por uma coincidência não muito legal, se formaram em dois olhos asiáticos, das órbitas negras que ficava me encarando. Passei a folha e comecei um desenho novo, e dessa vez, se transformou numa árvore.
– JiAn, sai daí – uma voz feminina me fez levantar a cabeça. Deparei com ChoA, uma garota terrivelmente metida e de nariz empinado. Tivemos uma desavença no ensino fundamental, e então paramos de ser amigas. Desde então, nunca nos falamos.
Ela nunca havia dirigido a palavra à mim, nem eu a ela. Existem alguns boatos na escola que ela tentou ficar com NamJoon, mas o loiro não quis. Ele tinha os cabelos raspados nas laterais, e sinceramente, isso lhe dava um charme...
- Não, desculpe - falei, voltando a desenhar.
- O que disse? - com o canto do olho, percebi que ela havia colocado as duas mãos na cintura. Eu pouco me importava com aquilo. Não era justo.
- Não vou sair - repeti.
ChoA pegou meu caderno de desenho, desse jeito, tive que levantar a cabeça. Ela estava acompanhada de mais duas garotas. Droga, pensei que ela estaria sozinha. Senti aquela covardia e vontade de sair dali, mas meu orgulho falou mais alto, e de um jeito ou de outro, eu tinha razão em ficar. ChoA arrancou as folhas do meu caderno de desenho, uma por uma. Eu me levantei e tentei tomar o caderno da mão dela, mas as suas duas amigas me seguraram pelos braços.
- Me devolve! - gritei. Ela arrancou três folhas de uma só vez. Eu via, com tristeza, minhas obras de arte serem jogadas ao chão. A garota soltava risinhos como se aquilo fosse alguma piada ou um filme de comédia, coisa que eu achei odiosa. Acho que só não chorei ali mesmo, porque a raiva era grande.
- Devolva o caderno para ela, ChoA - uma voz masculina falou atrás de mim. As duas garotas que me seguravam, me soltaram, voltando para trás de ChoA, como se ela pudesse protege-las. A líder parou de rasgar meus desenhos e ficou imóvel, com a mão segurando o caderno. Kim NamJoon passou por mim, andando na direção das três. Preciso ressaltar que seu perfume preencheu meus pulmões; era um cheiro doce e forte ao mesmo tempo. O loiro pegou meu caderno das mãos de Choa e falou alguma coisa que eu não pude escutar, então as três saíram dali rapidamente, deixando eu e ele sozinhos. NamJoon se virou e me encarou. - Oi.
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Look at Me
Fanfiction"Olhe para mim, meu amor Seus olhos curam-me da dor Teu pescoço cheira a mais doce flor Eu quero você, mas acanho-me a falar Você me prende num só olhar Seu jeito concentrado é de hipnotizar Olhe para mim, meu amor Eu quero você, mas acanho-me a fal...