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Os olhos de Kim Doyoung ardiam como se acabasse de pingar vinagre nos mesmos. A noite começava a cair, portanto ele conseguia ver seu próprio reflexo contra o vidro do ônibus. Seu cabelo escuro estava bem penteado, sua roupa estava boa, porém seu rosto parecia ter muito mais idade do que tinha. Os vinte e um anos de idade de longe não eram expressos pelas olheiras. Passara a noite passada toda acordado, tentando consertar o computador do gerente de onde trabalhava – sem sucesso. O resto do tempo, quando já estava frustrado o bastante consigo mesmo, tinha digitado um bocado de palavras para uma garota com a qual o rapaz estava trocando mensagens há dias.

Heeyeon, como ela havia permitido que ele a chamasse, era três anos mais velha, porém Doyoung fizera questão de ocultar esse fato. Veja bem, uma mulher bonita e que gostava de gatos era algo incomum naqueles dias, em Seul. E ela também era muito boa em piadas, do tipo que ele ria por horas, apenas de lembrá-las superficialmente.

Haviam marcado em um bar chamado Thursday Party Draft House, que ficava no bairro onde os turistas costumavam lotar as ruas. E ele odiava turistas. Quando desceu do ônibus, eles eram tudo que Doyoung conseguia ver pela rua, lotando-a, rindo e dançando ao som dos ritmos mistos. Ele conseguia ver o bar ao longe, depois de andar o bastante para fazer sua nuca suar superficialmente. Retribuiu alguns sorrisos fracos para garotas de maquiagem forte, encarou algumas pernas expostas e então, chorou um pouco por dentro ao pagar a entrada. Seu salário do mês não duraria pelas próximas duas horas. No raciocínio do rapaz, se para estar dentro do estabelecimento lhe custava tanto, as bebidas simplesmente iriam pedir para que ele doasse seus rins.

– Tem certeza de que tem vinte e um, rapaz? – perguntou o segurança baixinho, mas potencialmente gordo, arqueando a sobrancelha para ele, quando apresentou sua identidade.

– Infelizmente a idade chega pra todos – respondeu, suspirando e levantando os ombros, fazendo o segurança rir e lhe devolver o documento.

– Não permitimos fumar dentro do local – advertiu, por fim.

O bar estava cheio. Não no sentido de ter bastante gente, mas cheio de verdade. Era como se toda Seul estivesse reunida em um só lugar. Ele conseguia ouvir uma música agitada tocar, mas ele não sabia pelo nome, embora estivesse ouvindo-a diversas vezes pelas ruas da cidade. Grupos populares podiam se tornar uma maldição às vezes. Em um dos cantos, um grupo de rapazes gritava, levantando os braços, falando palavras em um idioma que ele não conhecia. Barulhentos.

Após desviar de um bocado de pessoas bem vestidas e de cheiros distintos, chegou até o local onde as mesas se acumulavam. A área tampouco estava vazia, e as cadeiras se amontoavam ao redor de mesas pequenas e quadradas. Jovens bebiam, riam e Doyoung até esboçou um sorriso ao ouvir uma piada na mesa ao seu lado, enquanto esquadrinhava o local com seus olhos escuros. Heeyeon vestia exatamente o que prometera: mangas longas e listradas e boina branca sobre os cabelos curtos e pretos. Sorriu fraco e acenou quando o viu, voltando seus lábios para o canudo do copo longo e repleto de líquido de um verde transparente.

– Desculpa se te fiz esperar, eu... – começou, aproximando-se da garota e sentando-se desajeitadamente. Doyoung arrastou a cadeira e colocou seu celular sobre a mesa.

– Ah, eu cheguei há pouco tempo – Heeyeon riu baixo, lhe entregando o cardápio – Eles fazem os drinks com rapidez, pelo que eu pude perceber – ela apontou para o copo, encarando Doyoung – Como você está?

– Bem – ele sorriu. Sentia-se nervoso por dentro. No colégio ele não se sentia tão nervoso. As garotas, em geral, viviam desesperadas por um namorado e ele não era o que elas chamariam de feio. Portanto, ele nunca teve problemas em beijar lábios nas ruas estreitas – Acredito que eu esteja um pouco melhor agora... E você?

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