Capítulo 1- continuação

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  Os sentimentos voltaram ontem, na sala da sra. Townsend. Sra. Townsend (substantivo próprio, pessoa): orientadora escolar que permitiu que você fizesse as provas para cursar, mesmo que sem tempo em sua agenda, e informou sobre todas as bolsas existentes, de modo que não teve de levar os seus pais à falência. Ela parece uma versão mais cansada da Oprah e, à exceção da Senadora Elizabeth Warren, é sua heroína.
  Bem, eu estava na sala da sra. Townsend, me certificando de que não havia perdido nenhum prazo, porque mamãe e eu tivemos que ir a um geneticista em Minnesota duas vezes no último mês. Eu nem tive férias de verdade na Primavera. (Escrevendo assim, até parece que eu sempre aproveitava as férias de primavera. Mas realmente esperava conseguir me preparar bem com Maddie para a etapa nacional do torneio de debates, que é no mês que vem.)
  Vou tentar reconstruir a cena:
  Paredes brancas cobertas de cartazes antigos com os dizeres "Leite faz bem para a saúde", herança do último orientador, porque a sra. Townsend esteve tão ocupada desde que começou, cinco anos atrás, que não teve tempo de trocá-los. Eu, sentada em um bloco acarpetado que deveria ser uma versão descolada e modernade uma cadeira, mas, na verdade, não passa de um bloco. À minha frente, a sra. Townsend vestindo um suéter amarelo, com cabelo volumoso com muitos cachos pretos.
  Eu estava pedindo uma prorrogação de vinte e quatro horas no prazo de entrega do trabalho sobre A bíblia envenenada.

Sra. T: Por que você precisa de uma prorrogação?
Eu: Eu tenho uma coisa.
Sra. T (olhando fixamente para a tela do computador): Que coisa?
Eu: procure "Niemann-Pick tipo C" no Google.
A sra. Townsend digita e começa a ler.
Sra. T (murmurando): Como assim?

Vi seus olhos se movimentando pela tela. Direita, esquerda, direita, esquerda. Eu me lembro disso.

Eu: É muito raro.
Sra. T: O que é isso, "Neeber Pickens"? É uma piada?

Tive que rir, apesar de ela estar franzido o rosto, ainda lendo.

Eu: Niemann-Pick tipo C. É demência, basicamente.

A sra. Townsend desvia o olhar do computador, boquiaberta.

Sra. T: Quando você recebeu o diagnóstico?
Eu: Há dois meses, inicialmente. Foi um processo de idas e vindas para confirmar. Mas, sim, eu com certeza tenho isso.
Sra.T: Você vai ter perda de memória? E alucinações? O que aconteceu?
Eu: É genético. Minha tia-avó morreu disso quando ela era muito mais nova que sou agora.
Sra. T: Morreu?
Eu: É comum entre franco-canadenses, e minha mãe é franco-canadense, então...
Sra.T: Desculpe... Morreu?
Eu: Eu não vou morrer

Acho que ela não ouviu a parte em que eu disse que não ia morrer, mas pode ter sido melhor assim, porque, a essa altura, é algo que não posso confirmar nem negra. O que eu sei e esqueci de contar à Sra. Townsend (desculpe, sra. T) é que é muito raro pessoas da minha idade apresentarem sintomas ( sem tê-los apresentado quando eram mais novas). Normalmente, crianças têm isso quando são muito novas e o corpo não consegue lidar com a deformação. Então, estamos lidando com uma "cronologia diferente", disse o médico. Perguntei se isso era bom ou ruim. "No momento, acredito que seja bom".

Sra. T (mão na testa): Sammie, Sammie.
Eu: Estou bem por enquanto.
Sra. T: Ai, meu Deus. Sim, mas... você está se consultando com alguém? Como seus pais estão lidando com isso? Precisa ir para casa?
Eu: Sim. Bem. Não.
Sra. T (jogando as mãos para o alto): E você me diz isso pedindo prorrogação do prazo de entrega do trabalho de literatura? você nem precisa fazer o trabalho, pelo amor de Deus! Posso ligar para a srta. Cigler agora.
Eu: Não, tudo bem. Vou fazer hoje à noite.
Sra. T: Eu ligaria para ela com prazer, Sammie. Isso é sério.

Continua...
 

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⏰ Última atualização: Jan 13, 2017 ⏰

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