O telefone tocou.
Eu ouvi murmúrios no corredor, e sabia que eram meus vizinhos discutindo novamente. Zhara era uma corna, Delius era um canalha, mas os dois eram discretos o suficiente pra decidir o rumo de um casamento aos sussurros.
O telefone tocou.
Lá em baixo Lucian passou correndo, chorando e soluçando alto, e eu sabia que ele estava no meio de outra crise. Ninguém corre pelo condomínio às onze e meia da noite naquele estado.
O telefone tocou.
Da parede do meu quarto dava para ouvir os gemidos de Phad. Eu sabia que era Seiph fudendo com ele, porque eles faziam isso todas as vezes que seus pais não estavam.
O telefone tocou.
Um cheiro forte se espalhou pela casa. Tinha certeza de que havia queimado a comida de novo. Não sabia cozinhar, nem limpar, nem viver sozinho.
O telefone tocou.
Na minha camisa branca ainda estava a mancha do vinho tinto que ele derrubou em mim. Não consegui tirar porque não sei cozinhar, nem limpar, nem viver sozinho. Nem tirar manchas de vinho tinto de camisas brancas.
O telefone tocou.
Eu sabia que era você pedindo desculpas por ter derrubado vinho na minha camisa branca e por ter me trocado por outro homem, Merius.
Mas eu não vou atender.
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satsukibare
Short Storydo japonês, satsukibare é uma expressão que significa literalmente "um dia ensolarado durante a estação chuvosa"