Tu és especial, não duvides disso

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Pov. Marinette

Depois daquele comportamento vindo da minha parte, os meus primos esconderam-se atrás da barriga grande do meu tio. A minha tia ficou traumatizada e acabou por cair no chão desmaiada.

Não sei o que me deu, mas não fiquei a olhar mais para aqueles que tão mal me queriam e saí de casa. Os meus pertences não eram quase nenhuns, por isso deixei-os para trás.

Saí para a rua e fiquei a vaguear sozinha e sem destino. Era noite de lua cheia e a única coisa que eu conseguia pensar era naquilo que sai do meu peito. O que é que eu sou? De onde venho eu afinal?

Após horas a caminhar sem rumo, começou a amanhecer. O movimento dos carros começou a aumentar e pude distinguir pessoas a andarem pela rua.

Reparei então que não estava na minha cidade. Eu devia ter-me perdido enquanto pensava a andar.

"E agora? Que vou eu fazer?"

Já meio a choramingar, passei pelas pessoas que olhavam para mim como se eu fosse uma mendiga cheia de trapos. Na realidade, eu não passava muito dessa descrição.

A minha roupa era feita ou das camisas estragadas do meu tio, ou dos vestidos longos e esburacados da minha tia. Os meus ténis nem se dignavam a tratar por esse nome. Eles estavam mais reduzidos a sandálias do que sei lá o quê.

Ao meu pescoço, levava a única coisa de valor que tinha. Um colar oco, que por dentro tinha uma pequena pérola.

Por mais dificuldades que eu fosse passar, nunca me iria desfazer daquele colar. É a única coisa que me sobra dos meus pais.

Continuei a andar e tentei parar de chorar. Eu estava a expelir líquidos do meu corpo, e assim ficaria com mais fome e com mais sede do que já tinha.

Entretanto, passei por uma padaria que devia ter acabado de abrir. O cheiro a pão quentinho era tão forte e tão bom que eu não consegui resistir. Entrei na padaria e dirigi-me à caixa.

-Bom dia menina, em que posso ajudá-la?-disse ele ignorando as roupas com que eu estava vestida.

-Eu queria saber se me pode dispensar um bocadinho de pão. Eu já não como desde ontem.- disse eu começando a choramingar.

-É claro que posso. Se precisares de mais alguma coisa é só pedir. – ele dirigiu-se a uma porta e desapareceu por ali a dentro.

Quando voltou, trazia uma manta, roupa nova, uns ténis de marca e um tabuleiro cheio de comida na outra mão.

Eu olhei para ele incrédula, sem perceber o que estava a acontecer. Tentei falar, mas não consegui.

-Podes pegar. Isto é para ti. Precisas de abrigo? – eu não sei o que se passou, mas desabei em lágrimas e não consegui responder à pergunta do homem.

Nunca ninguém tinha sido tão gentil comigo. Toda a gente me desprezava e me negava tudo o que conseguissem.

Acabei de chorar por fim e consegui responder ao senhor.

-Se não for incómodo sim. Eu ontem fui expulsa de casa, pelos meus tios cruéis. E agradeço-lhe muito pela comida.

- Não tens de me agradecer. Eu ajudo quem realmente precisa. Tu não tens família para além dos teus tios?

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