(Título: precisamos de um plano)
Depois de uma breve caminhada pelo quarto, causada pela insônia, deitei-me na cama e mais pensamentos vieram a minha cabeça. Vou te privar das minhas loucuras e paranóias diárias, ou você provavelmente não iria dormir de noite. Mais tarde, adormeci, e acordei com a beliche chacoalhando. Alaia, minha amiga chilena, me chamando para tomar café da manhã.
-Anda chica, vai se atrasar, vai me atrasar e se você me atrasar, já sabe que não vai ficar barato!- ela falava muito rápido e com seu sotaque às vezes não entendia muito bem algumas coisas que dizia.
-Bom dia Alaia- disse, sarcástica.
Alaia era uma menina que parecia ter sido feita numa fábrica. Os olhos cor de mel eram brilhantes, a pele morena e bronzeada e os cabelos cacheados que iam até a cintura, encantavam qualquer um. A garota tinha um brilho próprio, estava sempre sorridente e positiva. Mas poucos sabiam o que realmente passava em sua cabeça.
Eu não sou a única adolescente problemática daqui.
Alaia veio parar no orfanato com seus 7 anos, e fomos amigas desde então. Os pais e ela viajavam do Chile para San Antonio, procurando melhores condições de vida. Alugaram uma casa simples e moraram lá por 3 meses de puro sofrimento. O pai agredia a mulher e a filha, e a decisão delas foi fugir.
Essa é sempre a parte em que Alaia dá uma pausa na história e respira fundo.
O pai de Alaia as perseguiu e matou sua mãe com...
-Dezessete facadas, Milah. Ele matou minha mãe com dezessete facadas na minha frente- lembro-me do dia em que Alaia me contou a história, chorando- Eu ainda me lembro e tenho pesadelos com os gritos dela, com o sangue dela. Por mais duas semanas morei com ele, e um dia quando ele dormiu, eu fugi. Pedi socorro no orfanato e eles me acolheram. Eu era só uma criança, nem sabia pra onde estava indo. Provavelmente algum anjo me trouxe pra esse orfanato, e aqui recomecei.
Ela sempre trazia consigo um colar com pingente de flor. Era um dourado desgastado e velho, com marcas vermelhas. Pertenceu a sua mãe, e o vermelho era seu sangue manchado. Alaia nunca tirava aquele colar do pescoço, e sempre o segurava quando nervosa. Também tinha sempre consigo um crucifixo de madeira, e um terço na cabeceira de sua cama.
Mesmo com todas as infelicidades de seu passado, Alaia estava sempre positiva. Todas as nossas aulas de arte -esqueço de mencionar, nosso orfanato é também uma escola- ela fazia algo que deixava todos de queixo caído. A última vez o tema era "o que o orfanato significa para você?". A garota talentosíssima desenhou uma árvore, cujos frutos eram os rostos das pessoas mais próximas dela. Ficou perfeito.
Ela tinha algumas marquinhas de tinta nos braços e nos dedos de quando pintava e a tinta não saía durante o banho.
-Milah, a señorita está me atrasando de propósito? Gosta de brincar com a morte, é? Vamos logo! Quero pegar uma mesa boa no refeitório no café da manhã, acordar antes das "bonecas de fábrica" do 309!
Arrumei minha cama e rapidamente coloquei uma roupa, mas já era tarde: Ashley, Courtney e Victoria estavam acordadas e já em frente à porta de seu quarto. Por sorte, a escada era em direção ao 301, e do meu quarto não precisaríamos passar por elas.
-Ei, dementes do 307! Não vão nos dar bom dia?- Ok, eu falei cedo demais. Ashley encostada na parede chamou para nos provocar.
-Bom dia 309! Adeus 309!-disse, dando as costas para elas.
-Tenho pena do 308, as meninas tem que escutar os gritos e as loucuras da Milah de madrugada... pobrezinhas- zombou Victoria.
Alaia respirou fundo. Praguejou em espanhol, algo como "Segura-me Deus, antes que eu machuque Victoria". Eu entendia algumas coisas que Alaia dizia, de tanto ouvi-la falar sua língua.
-Temos mais o que fazer, se não se importam, com licença, adiós!- Alaia disse, se retirando, me puxando pelo braço e ainda praguejando.
-Elas não cansam de falar mierda?- perguntou nervosa descendo as escadas- Se a língua delas cair qualquer dia não vou ficar surpresa!
Descemos com os passos pesados de Alaia e fomos direto ao refeitório. As cozinheiras eram maravilhosas, tudo que tocavam era delicioso, e o cheiro de pão invadia o refeitório. A mesa do café era cheia de frutas variadas e pães e bolos. Eu adorava um pãozinho especial que Dona Maria fazia, com gotas de chocolate deliciosas.
Dona Maria era uma mexicana muito simpática e humilde. Era amiga de todos, especialmente Alaia, com quem podia conversar em sua língua nativa. Maria não era de conversa antes de Alaia chegar, pois a senhora não sabia inglês. Quando Alaia começou a aprender, ensinava Maria, e a mulher hoje já não precisava de toda mímica para se comunicar.
Alaia ainda estava brava, e comeu em silêncio e de cara feia.
-Ei Chica, que se passa?
-Desde quando você fala espanhol Milah?
-Você fala dormindo... Mas bem podia me ensinar! Olhe Maria, quase fluente em inglês, por tua causa! Você deve ser uma boa professora.
-Primeiro: eu sou uma ótima professora, obrigada. E segundo, não é tão fácil ensinar espanhol! Espanhol é algo que se sente. Você não sai falando, como acabou de fazer! Tem que sentir o sangue latino queimar!- ela dizia com um brilho nos olhos e gestos como se fosse vitoriosa em algo.
-Você é muito dramática. Eu vou aprender francês mesmo.
Ela soltou um risinho e voltou à sua expressão frustada.
-Señorita, ainda não me respondeu.
-Eu tô bem, só tô cansada de ter que ficar presa aqui e toda manhã ser a mesma coisa! Acordar, lidar com 309, comer, estudar, comer, tempo livre, que na verdade é só mais estudo, comer e depois dormir. Por que não pode ser diferente? Quer saber? Vamos fugir algum dia!
-Fugir pra onde Alaia? Prefere ficar sem casa? Aqui temos comida e cama boa! E sabe-se lá se teu pai ainda te procura.
-Não, mas voltaremos. Saímos na madrugada e voltamos cedinho, antes do café! Podemos pedir ajuda pra Maria. Ah por favor, nós vamos pro parque de diversões! É seu sonho ir lá.
Meu coração bateu mais forte. É realmente um sonho sair desse lugar, nem que por um dia. O carrossel, a roda gigante....
-Tá, me convenceu. Mas vamos falar com Maria. Poderemos sair....
-Atenção meninas- fui interrompida pelo inspetor Sr Peterson- Ao terminarem seu café da manhã, teremos um comunicado urgente no pátio. Por favor, compareçam todas, faremos a chamada e as aulas de hoje serão suspensas.
As meninas comemoraram não ter aula, mas o tom na voz de Sr Peterson me deixou desconfiada.___________________________
Desculpa a demora galera
Espero q tenham gostado
Vou ser rapidinha aqui eheheh
Flww
Tia Bene
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Carousel (Projeto Cry Baby)
LosoweO orfanato em que Milah vivia não tem nada de interessante. Portas que levam a quartos com paredes decoradas pelos desenhos de crianças desoladas. Milah sentia o vazio em seu peito crescendo a cada dia que passava naquela prisão, mas uma troca de ol...